CAPÍTULO 03

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Atualmente...

- Você não acha que esse saco já apanhou demais não? - Jeff pergunta, segurando o saco de pancadas, mas eu continuo o socado. - Thomas, já a chega, já chega.

Dou o último soco o mais forte que pude, fazendo ele recuar.

- Porquê você não fala comigo, Thomas? - Jeff insiste, eu queria responder ele, o mandar para o inferno e parar de me encher, eu só queria o silêncio.

Mas eu não poderia tratar ele assim, o Jeff não.

- Eu só preciso de mais tempo. - murmuro, tentando não soar agressivo, mas ultimamente é isso que eu tenho sido pra qualquer um que tente se aproximar.

- Não Thomas, não. - ele responde rispidamente, fazendo eu o encarar confuso. - Você está se afastando, afastado o Eli, você é tudo que esse garoto tem Thomas e ele é tudo que você tem. - Jeff aponta para o garoto magrelo, com um cabelo loiro despenteado e com os socos mais desajustados que eu já vi, treinando sozinho. - você não precisa passar por isso sozinho, eu sempre tô aqui por você e pra você, garoto.

Ele dá um suspiro longo quando percebe que eu não o responderia, e se afasta, indo pro escritório dele no ginásio.

Gemo frustrado enquanto tiro as luvas, eu jamais poderia contar a ele, Jeff pela primeira vez não ia conseguir me ajudar como sempre fez.

Quando as coisas ficaram piores lá em casa, com meus dez anos, quando descobri o que eram os barulhos no quarto, quando os fones não eram mais suficientes, quando minha força era mínima e tudo que eu pude fazer foi nada, nesses dias eu preferia fugir de casa e andar por ai, achando que encontraria uma salvação ou um salvador.

Mas minha ideia de super heróis e papai noel acabou cedo demais.

Com certeza não fui o único nesse mundo que perdeu cedo demais a crença nisso.

Pensei enquanto olhava para o Eli, que só tinha doze anos, minha mãe sempre esteve lá para me proteger, já ele não teve a mesma sorte.

O garoto é filho de uma prostituta, o que ela faz pra sobreviver não seria problema meu, mas o que não é o caso, já que a vadia faz isso pra sustentar exclusivamente o vício, inclusive em casa, assim como eu, Eli encontrou isso aqui fugindo de casa.

Na qual às vezes nem comida tem, mal ia pra escola antes, Jeff que o ajuda nisso, como quase todos os que treinam aqui.

É isso que Jeff faz, um ex lutador aposentado querendo salvar o mundo.

Caminho em direção de Eli, que estava focado demais em seus golpes errôneos.

- Você precisa ajeitar essa postura, colocar os ombros pra trás. - o garoto para os golpes na hora, me encarando, como se fosse capaz de me queimar só com o olhar.

- Toma conta da sua vida. - responde, o que me faz dar uma leve risada, o garoto loiro, magrelo, que fica vermelho com qualquer mudança de humor, tentando soar assustador, talvez quando ele crescer, consiga. - Você já viu seus chutes? Parece uma vovó com osteoporose.

Ai está o Eli que eu conheço.

- Você sabe que não aguenta 30 segundos mano a mano comigo. - o provoco, empurrando ele, que me lança uma tentativa de olhar ameaçador.

Eli tenta covardemente me socar sem eu esperar, mas não acerta nada além da minha mão, o provoco contando lentamente enquanto ele se frustava a cada tentativa.

Então no vigésimo nono segundo, eu o derrubo com um chute.

- Uma vovó com osteoporose, sério? - brinco, estendendo a mão, que ele pega enquanto ria.

- Foi uma boa né?

- Quase ri. - brinco. - Quer jantar lá em casa hoje? - pergunto, já sabendo a resposta.

- x-burguer? - sugere.

- X-burguers então.

...

A vida sem minha mãe tem sido solitária, pensei que quando meu pai finalmente fosse pro inferno, poderiam aproveitar a vida, ter realmente um lar.

Mas até assim, ele conseguiu levar toda felicidade que poderia.

Eli dormia profundamente no sofá enquanto via algum desenho idiota, provavelmente a mãe dele nem notaria se ele estava em casa ou não, então não me preocupei em acorda-lo para ir embora, não hoje, mas já tive problemas com a mãe dele.

Apenas passo por ele na sala e vou em direção a varanda, sentando nas escadas com os fones no volume máximo, antes eu os colocava para não ouvir nada, mas agora, não há nem mais o boa noite da minha mãe, agora, é pra não ficar nesse silêncio solitário e cruel.

Observo a rua, mas meu olhar logo para na família que chegava juntos na casa ao lado. Crystal conversava animadamente com seu pai.

Uma breve lembrança veio, quando ela tentou me ensinar a falar como ela.

Seus olhos esverdeados encontram os meus por breves segundos, antes de entrar dentro de casa, nunca mais nos falamos.

E eu poderia culpa-la?

Ao contrário dela, seu pai faz um sinal de "Olá" com as mãos antes de entrar em casa, nem tive tempo de responder.

Suspiro, tombando a cabeça pra frente, olhando fixamente o chão.

Eu e o Eli, só nós agora.

Eu e o Eli, só nós agora

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