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- Eu te amo, Giovanna. - Ele sussurrou para o corredor vazio.

Ela chegou no apartamento deles e estava tudo silencioso. As malas de Alexandre estavam na sala, e ela podia ver a maleta do violão encostada num canto, pronta para a viagem. Sorriu leve imaginando ele cantando o tempo todo, a viagem inteira, 24 horas.

Suspirou, frustrada pela noite péssima que estava tendo. Tentou se distrair, e foi até a cozinha fazer um chá de camomila para relaxar e acalmar. Tomou a coisa toda, e não foi suficiente, os flashbacks de tudo que Leonardo havia dito ainda ecoavam em sua mente.

Ela secou as lágrimas e suspirou. Foi até seu quarto, tirou toda a maquiagem, e fez um skin care. Alexandre deve estar no milésimo sono, pensou ela. Ele gostava de dormir cedo e descansar quando tinha viagens assim em vista.

Não conseguia parar de chorar enquanto se ajeitava para dormir. Ficou de lingerie, e buscou por um camisetão que Alexandre não usava mais há anos por ter emagrecido muito, que ela havia roubado porque parecia um vestido nela, e ele não se importou. Passou seu perfume, tentou deitar na cama, mas não conseguia dormir. Não queria ficar sozinha.

Passou pelo corredor de Alexandre e viu a porta aberta, como sempre. Nunca, na vida inteira dele, Alexandre tinha levado alguma mulher para o apartamento que dividiam em Copacabana, e agora não seria diferente. Não justo no único dia que ela realmente precisava dele.

Ela entrou vagarosamente, e se sentou ao lado da cama dele.

- Alê.. - Ela empurrou o braço dele, tentando acordá-lo. Tentou disfarçar a voz embargada, não queria asusstá-lo. - Alexandre. - Ela murmurou. - Alê, preciso de você.

E assim, ele levantou a cabeça o suficiente pra olhar para ela.

- Gi? Que foi? - Ele tentou olhar o horário no relógio da cabeceira da cama dele.

- Queria saber se posso dormir aqui contigo. - Ela pediu num sussurro e não conseguiu evitar o choro que estava entalado em sua garganta.

- Pode, claro que pode. - Alexandre se ajeitou num canto da cama, deixando com que ela deitasse no outro.

Assistiu Giovanna se confortar debaixo dos edredons dele, finalmente se sentindo segura, protegida, e não mais sozinha.

- Tá tudo bem? - Ele se sentou na cama, preocupado.

- Tá.. Volta a dormir.. Tu tem que viajar amanhã. - Ela secou as lágrimas e se obrigou a ficar quieta e fechar os olhos para não atrapalhar a noite de sono do amigo.

Alexandre estendeu o corpo e acendeu a luz do abajur. Giovanna tentou não encarar o corpo sarado que estava exposto por ele dormir sem camisa, só com a calça do pijama e a cueca.

- Você tá chorando, Gi. Não tem como não ser nada. Fala comigo, eu já acordei. - Pediu ele com toda a paciência e carinho do mundo, querendo deixar o ambiente seguro o suficiente para ela se sentir confortável em se abrir.

- Nada é que.. Eu e o Léo terminamos. Eu não queria ficar sozinha porque to me sentindo péssima, então quis ficar aqui com você.. - Ela murmurou, engolindo o choro.

Alexandre pendeu a cabeça para trás, respirando fundo. Tinha que se conter se não quisesse soltar um grito em comemoração ao fim daquele relacionamento intragável que já durava anos e parecia não acabar nunca. Sabia que tinha que acolher a amiga.

- Que barra. Quer falar sobre o que aconteceu?

- Ele me pediu em casamento.

Um silêncio se instaurou no quarto. Ele não esperava por essa. Não sabia nem o que dizer.

- E..?

- E eu disse que não queria.

Alexandre estranhou essa parte. Giovanna parecia extremamente, perdidamente, cegamente apaixonada pelo maldito diretor que ela havia conhecido em um de seus trabalhos como atriz.

- ... E ele me pediu pra pensar sobre. Pediu pra considerar, e qualquer coisa ligar para ele se mudasse de ideia. Que ele ficaria o tempo que fosse me esperando, porque me ama muito.

Alexandre ouviu aquelas palavras, engolindo em seco.

- Entendi. - Ele assentiu. - Por que você disse que não?

Ela sabia a reposta.
Não iria dizer.

- Não to pronta. Não pensava nisso agora. Sei lá. Não sei se sou o tipo de pessoa que quer casar. A gente já tá junto há tanto tempo.. Eu me apavorei.

Alexandre não comprou o que ela havia dito.

- Gi, com todo o respeito? - Ele respirou fundo, tomando coragem pra dizer o que estava prestes a dizer. - Você ama ele. - Alexandre sentia como se estivesse enfiando uma faca em seu próprio coração e torcendo ela para a direita e para e esquerda, fincando cada vez mais, conforme falava. - Achei que era seu sonho que ele finalmente te pedisse em casamento.

- Pois é. Eu não sei, só não quis. Você me acha louca?

Alexandre gargalhou, puxando ela para deitar em seu peito. Giovanna abraçou seu tronco, se permitindo deitar ali e finalmente relaxar. Ela fechou os olhos, finalmente sentindo como se pudesse respirar novamente.

- Não acho nada. Continuo te achando foda pra caralho, que você é um monumento, um furacão, que você arrastar tudo.. Todos os navios.. Que você é um oceano inteiro...! Você não precisa de um motivo pra não querer o cara. Ele pediu, você não tava afim, disse que não. Pronto. Simples assim. Se fosse o momento certo, a pessoa certa.. Você teria sentido dentro do seu coração, e nós não estaríamos tendo essa conversa aqui. Muito pelo contrário, eu estaria ganhando uma caixinha com um pedido especial pra eu ser padrinho de casamento.

Alexandre riu leve de sua própria piada.

- Eu nunca te chamaria pra ser padrinho. - Ela comentou como se fosse óbvio.

Alexandre a encarou, ofendido.

- Onde já se viu?..

- Tu é muito desengonçado, irresponsável, bagunçado..

- Oh dona Giovanna, se for pra ficar me maltratando assim eu vou te despachar lá pro teu quarto. - Ele apontou o outro cômodo da casa com sua cabeça, e ela riu, se agarrando ainda mais nele.

- Vamos fazer um combinado? - Ela pediu.

- Como assim? - Ele perguntou, confuso.

- Se eu e você não casarmos até, sei lá.. Daqui uns 3 anos.. A gente casa eu e você! - Ela sugeriu, brincalhona.

- Gostei disso. - Ele disse pensativo. - A gente realmente tá ficando velho, da pra encurtar, fazer isso em um ano..

Giovanna ria, batendo no peitoral dele.

- Idiota.

Ela se desvencilhou dele, finalmente se deitando do lado direito da cama, de costas para ele. Alexandre assistiu a forma como a bunda dela estava empinada na direção dele, a camisa dele que ela vestia um pouco pra cima demais, o que mostrava a calcinha vermelha de renda.
Sentiu seu coração acelerar. Puxou o cobertor nas pernas dela, como se a protegesse do frio, mas na verdade só estava protegendo seus próprios pensamentos maliciosos.

Ele se deitou também, apagando a luz do abajur. O quarto se tornou um breu, e um silêncio absoluto.

- Alê..? - A voz rouca o chamou de repente, cortando a tranquilidade da noite.

- Hum? - Ele respondeu com um barulho.

- Me abraça, por favor.

would've could've should'veOnde histórias criam vida. Descubra agora