Maria Rita

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Acordei as 4:30 da manha como sempre , mesmo muito cansada e com grandes olheiras eu agradecia a Deus todos os dias por ter conseguido esse emprego já que a cidade em que eu vivo é pequena, mas precisamente no interior de Pernambuco bem longe da capital Recife.

Aqui as opções não são grandes para quem não tem concluído os estudos e não tem dinheiro: Boia fria ou prostituta, não me leve a mau, mas, se você nunca viveu em um inferno jamais saberá a diferença.
As duas profissões são o inferno.

Então por isso eu estou no céu, trabalhando dez horas por dia e estudando supletivo à noite.

Nunca fui uma pessoa abençoada pela sorte, ao menos uma vez ela me sorria e eu pretendo aproveitar tudo dela.

Recusei-me a ser prostituta, foram muitas as tentativas dos homens dessa cidade desde muito pequena fui assediada, eu tenho noção da minha beleza, ela veio da mistura do meu pai um alemão que trabalhava em Recife e conheceu minha mãe que na época também morava e trabalhava na cidade como prostituta.
Imagina a minha repulsa pela profissão? Não tenho preconceito, cada um tem seu motivo para cair nessa vida, mas não eu! Prefiro morrer de fome a me ver nessa vida.

Foi dessa mistura que eu fui feita, uma morena nordestina e um alemão: Saí com cabelos castanhos, olhos azuis, pele morena clara e alta, tenho 1,70 metros, quanto à maioria não passa de 1,60 a média da região.

Não me restou muito enquanto eu crescia a não ser trabalhar como boia fria uma vida sofrida sim, porém  digna.

Voltando a minha mãe, ela trabalhava nas ruas de Recife quando conheceu um alemão, meu pai. A única coisa que sei é que ele se chamava Christopher Shinaider, nem sei como se pronuncia esse nome algo como "Xiiinaideir" era assim que minha avó e minha mãe falava.

Quando minha mãe descobriu que estava grávida procurou pelo alemão que lógico deu no pé como já era esperado afinal, que homem assumiria a criança de uma puta? Minha mãe não teve opção a não ser procurar por minha avó e voltar com rabo entre as pernas para o interior.

Pelo menos, devo a minha mãe não ter me abortado, apesar de tudo ela levou a gravidez em frente e eu nasci.
Hoje tenho 19 anos e por isso consegui esse emprego na produção da fábrica de calçados e olha que foi bem concorrido, na entrevista me destaquei e atribuo isso por voltar a estudar, acredito que isso fez muita diferença.

Aqui eu sou oficialmente artesã em couro o que consiste em colar a sola dos calçados que passa na esteira da fábrica.

Faltam apenas seis meses para completar o ensino médio, depois disso , quero pensar em uma faculdade sonho em ser médica, sei que não tenho condições para isso a não ser tentando uma bolsa. Não sou burra ao contrario, leio muito, assisto TV e aceso à internet lá do supletivo, tenho muita fé em Deus e em mim ,sou insistente e tinhosa.

Saio de meus devaneios e chego a pé a fábrica, caminho todos os dias cinco quilômetros para economizar o dinheiro do ônibus assim só utilizo o transporte na saída do trabalho e vou direto para a escola, saio do colégio às 22:30h e volto a pé para casa, não fica muito longe.

Moro numa quitinete no centro da pequena cidade, sai da roça e da casa da minha avó quando consegui esse emprego entende agora porque dou graças a Deus todos os dias?

Imagine viver na roça numa casa com um quarto, sala e cozinha? Até aí tudo bem nunca me envergonhei por ser pobre, a diferença é que nessa pequena casa vivem oito pessoas. Minha avó, minha tia com mais três filhos, meu tio com a mulher e um filho e vivia eu, até pouco tempo atrás.

Assim que consegui esse emprego procurei um lugar para morar na cidade e com muito custo consegui nos fundos da mercearia da dona Solange um quarto e banheiro, é o que eu posso pagar e estou muito feliz pelo menos o banheiro é só meu.

Nunca Mais...(Eu e Você) ConcluidoOnde histórias criam vida. Descubra agora