nineteen.

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Era estranho poder acordar sem o som do despertador atormentar os meus sonhos e era mais estranho ainda pensar no rosto de Tom no momento em que meus olhos se abrissem pela manhã. Eu me sentia uma adolescente em uma história de amor clichê e eu realmente era.

Vesti algumas roupas quentes e aproveitei o dia azulado, sem nenhuma nuvem cobrindo o céu, para passar o dia fora. Fui em algumas livrarias e algumas lojas que vendiam discos, CDs e DVDs, também aproveitei para tomar um café fresco em uma padaria no centro da cidade.

Recebi algumas notificações no meu celular durante a tarde toda, estava tentando ignorar, mas aquilo estava me consumindo. Havia diversas postagens de garotas me xingando, dizendo que eu estava roubando os garotos da banda delas e me chamando de palavras que reviravam o meu estômago. Eu sabia que uma hora ou outra isso ia acontecer, eu fui avisada, mas parecia ser pior ainda quando senti na pele.

Quando o pôr-do-sol chegou e estava caminhando de volta para casa percebi o quanto eu estava precisando disso, um tempo sozinha, acompanhada apenas da minha própria companhia. Aquilo fora aliviante, sentir o ar de Lípsia batendo contra o meu corpo após uma tarde leve.

Peguei as chaves em meu bolso e abri a porta da frente de casa, fechando a mesma logo atrás de mim. Franzi o cenho ao perceber a confusão que estava na sala, porta retratos estilhaçados no chão e uma mulher no sofá, cobrindo seu rosto enquanto soluçava em prantos. A mulher era a minha mãe.

— Cassie! — A mais velha correu até mim com os olhos avermelhados, me puxando para um abraço tão apertado que não pude me mexer para retribuí-lo. — Me perdoa filha, eu sinto muito, eu juro. — Ela sussurrou em meu ouvido.

Sua voz era em um tom de culpa, provavelmente muito arrependida. Uma confusão tomou conta dos meus pensamentos, o cômodo estava uma zona e os sentimentos da minha mãe pareciam estar mais piores ainda.

— O que aconteceu? Onde está o meu pai? — Questionei, usando toda a minha força para me separar um pouco dela, fixando meu olhar no seu.

— Eu sinto muito, filha. — Seu sussurro acelerou os meus batimentos cardíacos, tudo isso era preocupante e, enquanto a mesma não falasse o que estava acontecendo, sabia que a minha ansiedade só iria piorar.

— O que está acontecendo, mãe?! — Tentei ser firme, aumentando um pouco o meu tom de voz.

— Ele foi embora. — As lágrimas voltaram a trilhar o seu rosto. — Foi minha culpa, me desculpa.

Ouvi-la se desculpar tanto estava me dando nos nervos, eu sabia que ela havia feito algo e o fato da mesma dizer que meu pai havia ido embora me fez respirar um pouco mais fundo, a procura do ar que eu havia perdido. Tentei me manter em pé, mesmo que minha visão estivesse um tanto quanto turva.

— Por que ele foi embora? — Murmurei.

— Eu o traí. — Sua voz saiu falha, a mais velha estava com dificuldades de se confessar em palavras. — Ele descobriu, ficou irritado e prometeu nunca mais voltar para essa casa.

Era como se meu chão tivesse caído. Eu sabia das conturbações da nossa família, dos nossos defeitos, mas a minha mãe sempre fora uma pessoa tão dócil que não imaginava que a mesma poderia trair aquele quem mais a amou durante anos. Meu pai não era santo, ele estava longe disso, os porta retratos quebrados que cobriam o chão mostravam isso, mas eu sabia que no fundo havia uma pessoa capaz de amar e que suplicava por amor sem ser por palavras.

— Cassie eu sei que estou errada, mas preciso que tente me entender, eu nunca me senti amada! — As verdades pareciam estar sendo jogadas na minha cara com brutalidade, mas eram apenas palavras.

— Então por que ficou com ele durante todos esses anos? — Eu perguntei de forma irritada, eu estava perdendo o resto de sanidade que havia em mim.

— Porque eu estava grávida, filha. — Senti suas mãos frias tocarem o meu rosto com cuidado. — Eu não podia cuidar de você sozinha, mas eu nunca tive chances de me sentir amada. E agora, com a pessoa errada, eu senti esse sentimento. Eu errei, mas não me sinto culpada.

— Quem é ele?

— Andreas Schäfer. Ele é do meu trabalho, você não o conhece.

Senti meu coração parar de bater por alguns segundos, eu não conseguia acreditar nisso. Dei meia volta e bati a porta atrás de mim com força, pisando firme nas ruas de Lípsia sem rumo. Minha mãe sequer tentou vir atrás de mim, mas não reclamei, eu não queria que ela viesse.

Automaticamente uma culpa passou a tomar conta de mim. Ela não se sentia amada, nunca se sentiu, mas a mesma largou tudo por mim. Era minha culpa o fato dela nunca ter sido amada de verdade, era minha culpa ela ter insistido em algo mesmo que se sentisse insatisfeita, era minha culpa ela ter traído o meu pai, era minha culpa ela ter destruído a nossa família.

Minha vista passou a embaçar e senti as lágrimas grossas trilharem os meus olhos, não tentei segurá-las, não tinha forças para isso. Eu podia sentir algo se partindo em meu peito, uma dor emocional que parecia estar se tornando física. Era um pesadelo.

Avistei um bar a poucos metros, me embriagar até não sentir nenhuma dor parecia ser uma ótima ideia. Eu precisava sair dessa realidade.


— Ei, você é aquela baixista de tokio hotel! — A ruiva exclamou aos sorrisos enquanto eu tirava as notas do meu bolso.

— Não, você está me confundindo. — Não estava com cabeça para isso, então optei por mentir, apesar de que fosse óbvio.

— Não estou não, eu te vi na TV!

Coloquei o dinheiro sobre o balcão e peguei a garrafa de vodca, dando meia volta, ignorando o que a mulher em minha frente dizia.

O céu estava quase totalmente escuro, a noite cairia em pouco tempo, mas o pensamento de pisar novamente dentro daquela casa me causava náusea. Soltei um grunhido assim que senti o amargo da bebida tocar a minha língua, mas ansiava pelo momento em que estaria extasiada o suficiente para que não sentisse mais nada.


marlboro nights. ❨ tom kaulitz ❩Onde histórias criam vida. Descubra agora