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— Daqui eu não posso passar.– Queiroz acaricia minhas costas.

— Tá... eu vou lá.– Digo, mas fico parada.

— Vai, morena.– Ele sussurra, e eu entro ao jardim.

Coloco às mãos no bolso da minha calça, e caminho até achar minha mãe.

E lá está ela.

Sentada em uma cadeira, olhando o lago.
Eu dou um longo suspiro, e me sento na cadeira ao seu lado.

— Oi.– Mormuro.

— Filha?!– Minha mãe se vira para mim depressa.– Que saudade! Não pensei que te veria aqui.

— Nem eu estava esperando.– Mormuro, olhando para o lago a nossa frente.

— Como as coisas estão?

— Agora estão boas.

— E seu namorado?

— Namorado?!– Franzi o cenho, confusa.

— Sua irmã que contou que você está namorando aquele jogador do Corinthians. Sempre achei que você acabaria com o Piton, ou Gustavo.

— Aí, mãe– Reviro meus olhos.– A Luana adora falar demais, eu não estou namorando– Cruzo os braços.– Muito menos com O Gustavo ou o Lucas.

— Tudo bem, não está mais aqui quem falou!

— E aqui?– Bato meus pés no chão.– Como está?

— Eu estou gostando. É tranquilo, é bom. Estou melhor, e aprendendo a lidar comigo, sabe?

— Eu estou orgulhosa.– Inclino minha cabeça e olho para a mais velha.

A olho nos olhos.

Os olhos que fazia tempo que eu não via puro.

Estou orgulhosa.

— Me perdoa, bebê.– Minha mãe passa sua mão por minha bochecha e eu fecho meus olhos, sentindo sua mão macia.– Eu vou mostrar que eu mudei. Por vocês.

— E por você, mãe.

— A hora da visita acabou, Ju.– Uma enfermeira avisa.

— Bom, então eu vou indo.

Eu e minha mãe nos levantamos.

— Tchau, mãe.– Dou um abraço nela, e ela retribui.– Fica bem.

— Eu estou.– Ela sorri.– Continue traçando um caminho lindo. E come, tudo bem?

— Ué, eu estou comendo.– Dou um risinho.

— Você está pálida, princesa– Ela diz, com um carinho em meu maxilar.– Eu já fui modelo, esqueceu? Eu conheço muito bem essas coisas. E te conheço também. Se cuida.

— Pode deixar. Até.

Eu caminho até a porta para a saída, mas paro quando minha mãe chama meu nome.

— Belle. Eu te amo.

— Eu também te amo, mãe.– Doubum sorriso e saio.

Dou passos firmes tentando me sentir bem de novo, e encontro Eduardo me esperando na recepção, sentado.

— Desculpa a demora.– Digo, e Queiroz tira os olhos do celular e me olha.

— Eai, morena, como foi?– Ele apoia a mão em minhas costas.

Nós caminhamos até o lado de fora assim, juntos.

— Foi bom.– Digo mole.

Me sentindo mole, com a visão meio turva.

— Você tá bem?– Paramos de andar.

— Sim.– Passo meu braço por seus ombros, só 'pra encontrar apoio.

— Morena.

— Não. Que merda, eu não estou bem.

— Vem cá.– Ele me puxa pela cintura, e me envolve com os braços, e eu retribuo o abraço.

Eu arrasto meu rosto em sua camiseta, sentindo seu cheiro, tentando nos tornar, nesse momento, um só.

— 'Tô bem.– Digo, quando nos afastamos do abraço e ele ri.

E foi aí que eu fiquei tonta, e minha visão começou a ficar turva. Até escurecer.

Canção de Exaltasamba.- Du QueirozOnde histórias criam vida. Descubra agora