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— Será que a gente fez merda?!– Questiono aos meus amigos.

Estou me sentindo com treze anos de novo.
Quando você e seus amigos fazem besteira, e vocês vão para a sala do diretor ter uma
"conversinha".

Eu, Duda, Mike, Lucca e Caio estamos sentados um do lado do outro, de frente para o bigboss da agência.

Nós nos entreolhamos, enquanto ele coloca um pouco de whiskey em seu copo.

Roberto se vira para nós, e se senta, calmo, em sua grande e confortável cadeira.

— É...– Caio engata.– O que você queria falar com nós? Fizemos algo que o senhor não gostou?

— Não, Herdade! Muito pelo contrário, vocês são muito eficientes.

— Então qual o motivo de termos sidos chamados bem na sua sala?– Duda questiona com cuidado.

— Olhem– Roberto dá um gole no whiskey.– Eu não quis fazer isso na sala de reuniões, porque eu quis fazer essa proposta cara a cara.

— Proposta?!– Lucca se ergue em sua cadeira, se animando com a tal "proposta", e em troca, recebe uma cotovelada minha.

— Está tudo bem, Monteiro.– Roberto diz para mim, dando uma risada.– Podem se animar. Eu quero que vocês entrem em um projeto inédito.

— Qual?!– Mike questiona, curioso.

— É um projeto "em tempo integral"– Nosso chefe faz aspas com os dedos.– Eu quero que vocês morem juntos.

— O que?!– Dizemos em um unisso.

— Vocês vão gerar conteúdos, vai ser bom para à agência. E por vocês já serem um grupinho que o público ama ver, ter vocês juntos seria algo que eles amariam. Eai, topam?

— A gente ganharia quanto?– Lucca chega ao ponto que nos interessa.

Não nos leve a mal.

Nós somos amigos a muito tempo, mas se vamos morar juntos para "trabalhar", precisamos ganhar dinheiro.

— Além de pagarmos as contas da casa, você vão ganhar o dinheiro pelo aceito da proposta, e o salário de você vai aumentar nisso.– Roberto arrasta um papel pela mesa, para Lucca, que imediatamente arregala seus olhos.

— Caralho! Se for para ganhar igual pique jogador, eu to dentro.

— Estamos falando de quanto?– Duda puxa o papel, e arregala os olhos.– 'Vamo morar junto!

Eu ergui meu corpo para olhar o contrato, e sou obrigada a ficar com o queixo caído.

Trezentos mil para aceitar a proposta.

Nosso salário que girava em torno de oitocentos mil, para um milhão e meio.

Ô agência rica do caralho.

Realmente, estão apostando muito em nós.

— Um milhão e meio?!– Questiono em êxtase.

— O que?!– Caio e Mike que até então não tinham visto os valores, exclamam.

— Qual a pegadinha?– Duda diz.

— Nenhum, só vejo potencial em vocês. Muito potencial.

— A gente viu.– Mike diz, franzindo o cenho.

— Eu assino.– Lucca diz.

— Eu também.– Foi a vez de Duda decidir.

— Então eu também 'tô dentro.– Digo.

— Eu topo!– Mike diz, sorrindo.

— Vamos morar juntos, então!– Caio dá a palavra final.

Então todos nós lemos nossos contratos, e meus amigos assinam.

Já eu? Minha mão praticamente congela, enquanto seguro a caneta.

Um filme passa pela minha cabeça.

Sobre como se eu sair de casa, minha mãe vai ficar mais descontrolada ainda.
Eu não vou estar lá para impedir.

Meu pai vai descobrir.

Meu pai vai ficar mal 'pra caralho em ver minha mãe daquele jeito.

— Eu já volto.– Digo, soltando a caneta de pressa.

Eu me levanto da cadeira e saio da sala do meu chefe.

— Porra.– Mormuro me sentando em um dos sofás desse último andar.

Eu olho para a parede de vidro, vendo a chuva ficar cada vez mais forte.

— Isa?– Duda se senta ao meu lado.

— Oi, Duda.– Limpo uma lágrima solitária que eu nem tinha percebido que escorria.

— O que aconteceu?

— Se eu assinar aquele contrato eu vou sair de casa.

— Mas isso não é bom?

— Mas quem vai cuidar das coisas?– Digo. Ela sabe de quais coisas eu estou falando.

— Você não cuida das coisas. Você só sofre o pato por coisas que você não deveria passar, é injusto.

— E como meu pai vai ficar?

— Ele vai ter seu apoio, ele sabe disso. E sua mãe vai para a reabilitação, qual o mal de ela ir para lá?

— Porque faz parecer real.

— Mas é real. Principalmente para você, xuxu, e você que sente. Literalmente.

— E o que eu faço?

— Aceita a proposta e conta a verdade para o seu pai. Vocês dois se protegem sempre com bala e fogo. Eai?

— Eu topo, eu vou assinar.– Me levanto, e seguro sua mão, puxando minha melhor amiga.

— Vamos?

— Vamos!

Canção de Exaltasamba.- Du QueirozOnde histórias criam vida. Descubra agora