Amber
— Eu amei essa calcinha. Não vejo a hora de vê-la em seu corpo. — Ivan diz com aquele sorriso safado, que de certa forma é familiar. Acho que ele já não é um estranho para mim.
Hoje não fazemos um jogo de perguntas, mostro a lingerie que comprei para ele ter uma ideia do que o espera quando vier para Manhattan. Digamos que é uma espécie de incentivo, além da minha tentativa de criar intimidade entre nós.
Deixo a calcinha de lado e dou um gole no café. — Bem, eu estou ansiosa para ter você aqui. Quero que veja o meu novo apartamento.
— Já se mudou?
— Sim, mas ainda não terminei de arrumar tudo. É um trabalho difícil e acho que vou terminar no final de mês por estar com tanta preguiça. — pelo menos Karol e Charlotte ajudaram com 90% das coisas.
— Eu não sei quando irei para aí, baby, mas prometo que não demoro. E se puder, dou uma ajuda.
— Está bem. Eu vou querer sua ajuda sim se estiver aqui, mesmo que eu termine tudo antes.
— Agora eu tenho que desligar. Depois falamos. Beijos.
— Beijos.
Desligo o computador e vou vestir um casaco para passar no supermercado aqui perto. Gosto que no meu novo apartamento as coisas estejam próximas de mim, menos o Night Club.
Fico na frente do espelho e vejo o cabelo e a maquiagem. Poderia ir amanhã, mas prefiro aproveitar que hoje estou com disposição para tal, não sou de procrastinar, pelo menos raramente o faço. Não tenho comida em casa, então é mais um motivo para o fazer hoje. Devia ter feito as compras mais cedo, mas tinha muito trabalho para fazer, tenho que dar conta de um salão de beleza e de um estúdio de tatuagens. Felizmente tenho funcionários de confiança.
Levo o meu frasco de gás de pimenta para emergências porque nunca se sabe quando um troglodita irá aparecer na nossa frente para tentar alguma coisa. Até um homem com cantadas terríveis merece uma borrifada de gás de pimenta.
Já fora do prédio, atravesso a estrada, desfilando com as minhas botas de cano alto para que todos vejam, mesmo que ninguém parece interessado. Tenho várias botas de cano alto assim como tenho uma coleção infindável de saias jeans curtas. Quem olha para mim, não ia acreditar que as pessoas me chamavam de santa há dez anos. E olha que tenho vinte e oito.
Quanto mais me aproximo do supermercado percebo que Dante está em pé ao lado, porque agora ele me persegue. O homem não passa despercebido por causa da sua altura de gigante, mas nesse momento, posso ver que está triste e preocupado. Ele está em cada canto agora, maldita hora que me mudei para cá. Que pecado grave eu cometi para ter Dante atrás de mim?
Não liga, Amber.
Finja que ele não existe.
Eu tento, juro que tento, mas os meus pés caminham na direção do trogloditas. Porque há uma força invisível que sempre me puxa para o perigo, que faz as minhas veias pulsarem, que alerta todos os meus sentidos.
A Amber quer fugir do perigo, mas o perigo não quer fugir da Amber.
— Deu uma pausa na boate para chorar? — é o meu jeito de ser simpática com a criatura boçal.
Dante olha para mim. — Eu não choro. Porquê veio até aqui? — Realmente não estava chorando.
— Porque eu sou uma boa pessoa e me preocupo com as pessoas. — Digo. E também porque me atraio pelo que é ruim.
— Ontem não pareceu se preocupar.
— Como você quiser. Espero que seu problema se resolva. — Deixo o homem boêmio sozinho. É tudo o que preciso para escapar do caos.
Vou para dentro do supermercado e pego um carrinho para colocar as coisas. Não preciso virar para saber que Dante está atrás de mim, sinto o cheiro dele. Ele me seguiu porque eu atraio o caos também.
O caos me ama.
— Veio fazer compras? — pergunta.
— Não. Vim cortar o cabelo.
Ele sorri. — Acho que ele é bonito do jeito que está.
Pego em dois pacotes de leite. — Eu sei.
— É simpático da sua parte se preocupar comigo. — Coloca as mãos nos bolsos da calça jeans. Seu estilo é bem clichê com camiseta, jaqueta de couro, calça jeans e botas, sem esquecer o cabelo desarrumado propositalmente.
Também foi um grande erro me preocupar.
— Você é um ser humano. — Tiro queijo. — E parecia muito abalado.
— É complicado. — Tira um pacote de biscoitos para mim.
— Foi deixado pela namorada? — recebo os biscoitos e coloco no carrinho.
— Eu não choraria por ser deixado.
Pego manteiga, iogurte, natas também. — Não chorou quando soube que nunca teria a Karol?
— Claro que não. Mas meus sentimentos por ela já não são os mesmos. — Parece sincero.
— Agora está mais animado, é por minha causa? — viro para ele.
— Claro que não.
— Então, ninguém terminou com você?
— Eu não tenho namorada.
Pego mais ingredientes para as minhas refeições. — Que sortudo!
— Vai receber visitas? — Olha para o meu carrinho, como se a minha vida importasse a ele. Homens como Dante só se entregam a alguém bem depois dos trinta, imagino que agora ele só quer viver a vida sem a dor de cabeça de um relacionamento sério.
— Eu não preciso de uma mosca na minha orelha, obrigada. — Digo.
— Não se ache, é apenas para me distrair. — Caminha ao meu lado. — Para esquecer dos meus problemas.
— Você pode muito bem ir para a sua boate e apreciar suas strippers sem sutiã. Também é uma forma excelente de esquecer dos problemas. — Vou pegar também pasta de dente, papel e sabonetes.
— Foi você que decidiu ser simpática comigo do nada.
— Por uns vinte segundos! — viro para ele.
— Não me importo. E até é divertido te ver fazer compras para casa. — Sorri. O desgraçado tem um sorriso bonito.
Ele é todo bonito.
Por fora.
Maldita hora que decidi agir como uma boa pessoa. Eu sei que sou imã de homens como Dante, mas insisto nisso. E para melhorar, mesmo ele sendo insuportável tinha que ser tão lindo? Tinha que ter essa voz grave e sedutora que causa arrepios a qualquer mulher? Ele tinha que ter dois metros de altura?
— Alguém alguma vez disse que você é insuportável? — pergunto.
— Só todas as pessoas que eu conheço.
Reviro os olhos. — Eu agradeceria se me deixasse fazer isso sozinha.
— Porquê me trata tão mal? Não somos inimigos.
Dante caminha ao meu lado, as mãos nos bolsos e sorriso sedutor, que chama atenção de algumas pessoas que passam. Tenho a certeza que a altura também é um dos motivos para ser o centro das atenções.
— Querido, somos inimigos desde o dia em que borrifou gás de pimenta nos meus olhos. — pego a pasta de dentes.
Sim, sou rancorosa mesmo.
Ele ri. — Você começou com a guerra.
— Você mereceu.
— Você é uma chata.
— Você é um idiota. E se sou tão chata assim porquê não vai ver suas strippers? Afinal só estou ocupando sua cabeça vazia com as minhas compras. — Vou mais rápido para fugir dele. Mas Dante insiste em vir atrás de mim.
Ele segura o meu braço. — É por causa do gás de pimenta? — está sério.
— Claro que é por causa do gás de pimenta.
— Nesse caso, peço desculpas. Meu estado normal é ser um idiota, mas prometo que vou tentar não ser assim com você. — Levanta a mão.
— Como se me importasse com isso. — Solto o meu braço de suas mãos fortes e grandes.
— Não sou tão ruim como você pensa. Acho que seriamos bons amigos. — Mais uma vez Dante sendo idiota.
— Eu acho que não. Já tenho muitos amigos, obrigada.
— Tem a certeza?
Paro e respiro fundo para não gritar com ele como uma louca. — Se você dizer mais uma palavra, eu arranco a sua língua. — Digo baixinho, mas as palavras são afiadas.
Ele sorri de um jeito sexy, mas irritante — mentira, só sexy mesmo — e me deixa terminar de fazer as minhas compras.
Dante tira o cartão para pagar as minhas compras, mas o impeço. — O que é isso?
— Vou pagar as compras.
— Eu posso fazer isso sozinha. Não se preocupe. — abro a carteira.
— Porquê você me odeia? — Não há seriedade na pergunta.
Dou o meu cartão para pagar. — Porque você é grosso, já sequestrou a minha amiga, ameaçou o meu amigo, e porque borrifou os meus olhos com gás de pimenta.
— Eu sequestrei a Karol porque queria conversar com ela. Na segunda vez foi para salvar a vida dela. E o seu querido amigo loirinho, invadiu a minha boate com seus quinhentos seguranças estúpidos e expulsou todos os meus clientes só para armar o herói e resgatar a Karol.
Ele ajuda a colocar as compras nas sacolas. Recebo o cartão e encaro o idiota. — Qual é a desculpa para o que fez comigo?
— Porque eu sou rancoroso e você começou.
— Você não queria sair do meu apartamento. Eu sou uma mulher e estava sozinha com um trogloditas de dois metro que tem um passado duvidoso e podia fazer alguma coisa comigo.
— Está bem. Você ganhou. — Levanta sua mão desocupada — E tenho um metro e noventa e cinco.
Saímos do shopping e caminhamos até o meu apartamento. Eu estou ciente de que Dante está atrás de mim, mas como é simplesmente para ajudar com as sacolas, permito. No elevador, Dante olha para mim, sorrindo de um jeito irritante. Ele deve achar que é o último biscoito do pacote, não o suporto. Porquê deixei mesmo deixei ele vir? Já esqueci os meus motivos.
— Eu gosto quando usa cinco quilos de maquiagem. Agora você parece perigosa com esse batom preto e rosto irritado. — Dante mais uma vez abre a boca para falar merda.
— Entendo porquê a Karol não se apaixonou por você. — Digo. Beleza não é tudo na vida.
— Porquê ela iria me escolher se seu amigo estava em vantagem?
— Para de falar mal do Duke. Você sabe muito bem que ele é incrível.
Ri. — Porquê?
— Não interessa. Não pode julgar quem não conhece. Você só está com raiva por ter sido rejeitado pela Karol.
— Eu fiquei com raiva sim, mas já passou. Eu não sinto coisas pelas pessoas por muito tempo. Entende?
— Sei.
— Eu já não sinto nada pela Karol. Talvez tenha ficado apenas com saudades de outras coisas. — E ele diz mais merdas.
Finalmente as portas do elevador se abrem. — Obrigada por ter sido irritante e me ajudar ao mesmo tempo. Agora pode ir embora.
— Admite que você gostou de estar ao meu lado.
— Nem um pouco. Mas posso pedir um favor pequenino? — faço beicinho.
— O que você quiser.
— Fica bem longe de mim.
Abro a porta para entrar com as sacolas. Dante observa e sorri. — Se bem me lembro foi você que veio atrás de mim.
— Vá se foder, Dante.
— Prefiro te foder.
Bato a porta na cara dele, irritada. Como ele achou que tinha chances com a Karol? Idiota. Esse é um exemplo de "só um rosto bonito".****
Fico mais tempo no estúdio de tatuagens do que no salão de beleza porque não sou tão boa a fazer penteados nas outras pessoas, estranhamente só em mim, mas sei fazer tatuagens. Vou mais no salão de beleza aos finais de semana, principalmente quando minhas amigas vão para lá.
Converso com Duke por telefone depois de enviar uma mensagem a minha amiga Nina que está em Paris nesse momento. Tenho saudades das nossas brigas.
— Eu vou pensar no assunto. — Digo a Duke, que acha que ando muito sozinha ultimamente. Às vezes é bom estar sozinha. Tenho mais tempo para mim.
— Onde você irá passar a Páscoa? Pode ser conosco.
— Mais uma vez vou pensar.
— Pensa mesmo. Você acha um absurdo eu querer fazer uma tatuagem com o nome da Karol?
Rio. — Você está todo enfeitiçado. Eu vou pedir para ela me ensinar o segredo.
— Como quiser. Vou passar aí um dia desses para fazer.
— Apareça se tiver coragem.
Seu riso soa no meu ouvido. — Até mais, querida.
— Até mais.
Desligo e abro a maquiagem que encomendei. Agora uso Black Rose, marca do meu amigo Duke e sua amiga, feito com muito amor e conhecimento por uma maquiadora profissional. Amo maquiagem, quem me amar vai ter de suportar me ver o tempo todo maquiada.
Fui abençoada com tantos talentos, que as vezes não sei o que fazer com eles. Mas será que trocava todos eles para ter o talento de encantar os homens. Eu achei que pole-dance iria ajudar, tanto que tive três aulas com Karol e desisti. Não é para mim.
Tiro uma foto das minhas maquiagens e posto no meu perfil pessoal só para ajudar a marca e também para me exibir um pouquinho. Mas não sabia que Dante começou a me seguir. E foi nessa madrugada. Ele me seguiu e curtiu todas as minhas fotos.
O que eu fiz para merecer isso? Karol conseguiu escapar dessa maldição e ela veio para mim? E porquê ele tinha que ter quase dois metros e músculos por toda a parte?
Jared entra no meu escritório sem bater. — Chefinha, desculpa o atraso. Meu carro avariou.
Sorte dele que hoje não quero saber.
— Como faço para me livrar de uma pessoa?
Ele olha para mim como se fosse louca. — Estou perdido.
— Como faço para me livrar de alguém? — repito.
— Também gostaria de saber.
Eu sabia que não devia ter ido atrás dele ontem. Mas tenho que parar de pensar nisso. Respiro fundo e lembro que tem um homem maravilhoso e que não é um desastre que está interessado em mim e que em breve seremos namorados.
— Ivan. — Suspiro o nome dele. — É isso.
— Bem, hoje é o dia em que decido desistir de entender as mulheres. — Jared acena em negação.
— Somos complexas demais para vocês entenderem.
Ele sai da minha sala, e envio uma mensagem ao meu futuro namorado. Se ele responder rápido, então ganhei essa batalha.Eu: Bom dia.
Ivan: Bom dia, babe. Como você está?Grito e respondo a mensagem.
Eu: Melhor agora, querido.
Ivan: Já tenho data para estar com você. Próxima semana chego em Manhattan e estou louco para estar aí.
Eu: Eu também. Vou contar os dias.
Ivan: Então falamos depois. Beijos.
Eu: Beijos.Finalmente Ivan virá para cá. Ainda não consigo acreditar que ele quer alguma coisa comigo depois de transar. Normalmente eles nunca querem. É difícil encontrar um homem que valha a pena hoje em dia.
Saio da minha sala e simplesmente não acredito quando vejo Dante na recepção. O maldito de quase dois metros com o cabelo despenteado de um jeito gostoso, jaqueta de couro, jeans escuras e botas, o clássico dos bad boys, sem esquecer o sorriso safado, claro.
Será que eu mereço tudo isso?
Dante vira para mim e sorri. — Amber Fodida Jeffrey!
Foda-se!
Foda-se!
Foda-se!
Estou realmente fodida.
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Colapso [COMPLETO NA AMAZON]
RomanceDante Valentine não era simplesmente um homem bonito, um pedaço de mau caminho, alguém que ninguém queria por perto, um bad boy com muitos problemas e passado desconfiável. Talvez até fosse algo mais só que... ...Amber não estava interessada e...