Capítulo trinta e quatro

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Dante
     Vou atrás do Ivan e jogo as flores dele no seu rosto quando o alcanço no estacionamento. Não acredito que ele seja tão egoísta ao ponto de fazer isso comigo. Amber não pode terminar comigo só porque o meu irmão é um insensível e quer tirar tudo de mim. Estou cansado de tolerar as atitudes dele.
      Por que simplesmente não fica com a herdeira rica e perfeita que sempre quis? Ele parecia determinado a casar com outra até perceber que Amber e eu somos perfeitos juntos. Ele acha que vai conseguir ela de volta e nem se importa com o que eu penso. Ele nunca quer saber, parece que sente prazer em me ver triste e abatido.
      — Como pôde fazer isso comigo? O que eu fiz a você? — tento controlar a minha fúria, mas é difícil.
      — Eu vi a Amber primeiro.
      — Ela escolheu a mim. Porque não pode voltar para a sua vida e me deixar em paz?
      — Você não entende.
      — O que eu não entendo? Que você me odeia e quer destruir a minha vida? — fico mais perto dele para o empurrar.
      — Não se faça de vítima. O que devo fazer então? Devo fingir que não sinto nada? Eu amo ela e faria qualquer coisa por ela. — Afasta as minhas mãos dele.
       — Você sempre teve tudo, e quando eu finalmente consigo uma mulher como ela, você faz isso comigo? Diga o que eu fiz a você! — minha voz soa alta demais.
       — Você não fez nada. Apenas quero ficar com a Amber. Nunca ninguém me fez sentir o que ela me faz sentir.
       Ando de um lado para o outro no estacionamento. — Eu não tive uma namorada desde a Emily.
       — Não se faça de vítima. Você sempre se faz de vitima, usa sua doença a seu favor, todos temos que ter cuidado com você, temos que lembrar da tragédia do seu passado, estou cansado disso. — Usa as chaves para abrir o carro clicando no botão.
       — Por que me odeia tanto?
       — Eu não te odeio. E se quer que as coisas entre nós funcionem, desista da Amber. — Responde.
       Encaro o homem a quem chamo de irmão. Os irmãos apoiam uns aos outros, salvam um ao outro, às vezes até se sacrificam pelos outros, mas tudo o que Ivan fez a minha vida toda foi me fazer sentir que não mereço nada. Como posso chamar de irmão alguém que nem se importa comigo?
       — Como pode me pedir uma coisa dessas? Você é tão insensível ou acha que é o único que tem sentimentos?
       — Eu não tenho tempo para isso. — Abre a porta do seu carro.
      — Ela me escolheu. Ela estava feliz comigo, você veio estragar tudo. Porque você sempre estraga tudo, sempre destrói a minha vida. Eu devia contar para os nossos pais.
      — Você pode até contar, mas Amber será a vilã da história e nossos pais com certeza nunca irão perdoar ela por nos afastar. — Vira para olhar para ele.
      Sinto-me sem forças e vou até a minha moto, respirando com dificuldades. Estou cansado de tudo isso, por que as coisas têm que desmoronar sempre de uma vez? Eu achei que finalmente ganhei, mas eu perdi. Conversar com Ivan não vai mudar nada, ele não está disposto a me deixar ser feliz.
      Ivan vem até mim. — Dante, não pode dirigir assim. — Toca o meu ombro.
     Afasto a sua mão. — Não está cansado? Me deixa em paz.
     — Para de agir como um adolescente. Você sabe que não está em condições de dirigir. — E agora finge que se importa.
     — E o que será que causou isso? Se você não quer saber de mim para de fingir. — Coloco o capacete, ligo a moto e vou para fora do estacionamento, para bem longe dele.
      Mantenho o foco na estrada e não nos meus pensamentos ou em cada palavra que Ivan disse. Eu tenho que estar bem para lutar, não vou deixar meu irmão arruinar a minha felicidade.
      Os olhos marejados tornam a minha visão embaçada, mas luto para poder chegar em casa bem. Não posso deixar espaço para ele se aproximar da Amber. Por que tem que ser tão difícil para mim? Eu só queria ter alguém.




      Não consegui dormir mais por medo de pensar que já perdi a Amber do que qualquer outro motivo. Tomei os meus remédios e quando finalmente desliguei fiquei até tarde na cama no dia seguinte. Eu já tive depressão antes, porque pessoas com transtorno de ansiedade têm maior tendência a se tornar depressivas do que uma pessoa normal. Quando Emily morreu eu fiquei deprimido, mas consegui me salvar a tempo, agora sinto que vou desmoronar de novo porque o meu irmão não se importa comigo.
       Eu odeio tudo isso, e também odeio que as pessoas pensem que eu me faço de vítima ou que gosto disso. Eu nunca pedi para ter essa maldição? Ele acha que eu gosto de ficar sem dormir? Que gosto de ter dores de cabeça constantes, de pensar demais o tempo todo ou que me orgulho de ter medo de ficar sozinho? Acha que fico feliz quando tenho um ataque de pânico? São situações muito difíceis para mim e não espero que ele entenda. Às vezes, eu tenho que fingir que está tudo bem ou agir como um idiota insuportável. Às vezes é difícil ficar relaxado e tenho que encontrar sempre alguma coisa para me distrair. Eu tenho que fazer terapia constantemente e sempre exercícios de respiração ou de mudança de temperatura ou qualquer outro para evitar uma crise. Eu odeio ter que passar por tudo isso.
      Também nunca pedi que tivessem pena de mim depois de tudo o que passei com Emily. Apenas queria que respeitassem a minha dor e ainda lutei para me recuperar rapidamente para poder seguir com a minha vida, embora nunca tenha me recuperado totalmente. Nunca quis que pensassem que sou fraco, mesmo que no fundo saiba que eu sou.
       Estaciono a minha moto na frente da Hot tatoo e tiro o capacete. Do mesmo jeito que Ivan disse que não vai desistir, também estou longe de o fazer. Eu sei que tenho mais chances porque ela sente o mesmo, e se eu mostrar que podemos fazer isso, talvez ela volte para mim.
      Entro em passos firmes e a recepcionista de cabelos coloridos sorri para mim, parando de limar suas unhas com esmalte rosa. Alguns clientes olham para mim, mas não dou a mínima para eles.
       — Oi. Eu quero falar com a Amber. — Digo.
       — Ela está com um cliente agora.
       — Posso aguardar na sala dela? É que... eu tenho algo muito importante a dizer.
       — Eu não sei.
       — Sou o namorado dela.
       — Eu conheço o namorado dela e não é você.
      — Se se refere ao Ivan, ele terminou com ele porque tem outra. Agora, por favor, me deixa entrar. O nosso futuro depende de você. — Quase que imploro.
       — Está bem. Se ela me demitir, você vai me dar um emprego.
       — Combinado.
       Ela me leva para a sala de Amber e me manda sentar no sofá e não mexer em nada, depois me deixa sozinho e fecha a porta. A sala dela não é muito grande, mas é acolhedora e simples, agradável e bem organizada.
      Já começo a suar nas mãos de tanto nervosismo. Nem preparei o que vou dizer, vim apenas com o meu coração, mas tenho a certeza que qualquer coisa irá sair. Eu tenho que conseguir.
      Aguardo tanto tempo que começo a adormecer no sofá, mas abro os olhos completamente quando ouço a porta se fechar. Amber olha para mim, linda com um rabo de cavalo, a maquiagem pesada, batom roxo e uma blusa preta justa que permite seu colar de borboletas brilhar e também que eu aprecie as suas tatuagens de flores e borboletas nos braços. Usa uma saia jeans branca curta, e as botas de cano alto. Seu cheiro se alastra por toda a sala e alimenta o meu nariz.
      É impossível resistir a ela.
      Seus olhos azuis parecem tristes ao olhar para mim. — Dante.
      — Podemos conversar?
      — Nós já conversamos. — Dá um passo para frente, para se afastar da porta.
      — Não conversamos. Você tomou uma decisão sozinha e depois me expulsou. — Levanto.
     — Eu vi o jeito que você olhava para ele.
     — Ele quer ficar com você, como deveria me sentir? — fico mais perto. Minhas mãos imploram para sentir sua pele macia.
     — Eu não posso me envolver nisso. Se continuarmos, as coisas não vão acabar bem.
      — Mas você quer ficar comigo? — tenho que perguntar.
      — Não importa o que eu quero. Importa é que vocês vão ficar bem. Ele é seu irmão, Dante. — Cruza os braços.
      — Não me deixa. Nós mal começamos. — Dou mais um passo. Estamos perto o suficiente para nos beijarmos, mas Amber já não olha para mim.
        — Acho que é o melhor. Antes que não possamos mais voltar atrás.
       — O que eu tenho que fazer para mudar a sua decisão? — minhas mãos tocam seus braços.
      — Não piore as coisas, Dante. — Ela ainda não olha para mim.
      — Está bem. Mas saiba que não vou desistir. Vou lutar por você até ao fim.
     — Lute pelo seu irmão.
     — Mas eu quero ficar com você. — minha voz falha.
      Merda.
      — Enquanto você e Ivan agirem desse jeito, não vai dar certo. — Ela quer fugir do meu toque, mas não deixo.
     Não entendo porquê Ivan tem sempre que complicar a minha vida. Tenho que encontrar uma solução, pensar em alguma coisa para que ele pare com isso. Será que se eu mostrar que Amber não quer mais saber dele irá mudar de ideias?
      — Está bem. Eu vou resolver as coisas com o meu irmão. — Digo.
      — Agora eu preciso trabalhar.
      — Você vai me dar uma chance se eu resolver as coisas com ele?
       — Dante, é complicado. Se eu ficar com você, sua relação com Ivan nunca mais será a mesma.
       — Eu entendo o que quer dizer, mas vou te provar que está errada. — Minha mão acaricia o seu rosto. — Que podemos enfrentar tudo e ficar juntos.
      — Eu precisa trabalhar, por favor.
      — Está bem. Já vou embora. — Beijo o seu rosto. — Peço perdão por não ter sido o que você queria, boo.
      — Não é verdade. O motivo do nosso término não tem a ver com você.
      — Sei que tem a ver com o Ivan.
      — A família é mais importante. — Ela foge dos meus braços. — Conversa com o seu irmão, por favor.
      — Eu vou fazer isso. Mas não pode me pedir para aceitar o nosso fim. Não vou aceitar enquanto o meu coração bater por você. Você é a prova de que o amor vale a pena.
      Ela vira para me encarar. — Melhor você ir.
      Caminho até ela e beijo seus lábios rapidamente. — Espero que você acredite em nós, boo. Porque eu acredito.
     Saio da sua sala com esperanças de poder resolver tudo. Não sei como vou resolver as coisas com Ivan, mas tenho que fazer isso. Não posso perder a Amber só porque ele quer tudo o que é meu.
     Monto na minha moto, uso o capacete e paro ao ver o carro do meu irmão estacionar do outro lado da estrada. Tiro o capacete para ele olhar para mim quando desce do carro. Ivan atravessa a estrada e vem ter comigo. Não quero brigar com ele, mas também não vou mostrar a ele que estou disposto a tudo pela Amber.
      — O que você faz aqui? — pergunta, irritado, quando sou eu que tenho todos os motivos para estar assim.
      — Você conseguiu o que queria. Amber e eu terminamos. Queria que eu desistisse, eu vou desistir. — Digo. — Espero que valha a pena destruir a felicidade do seu irmão só por prazer.
       — As coisas nunca iriam resultar entre vocês.
       — Esqueça que sou seu irmão porque você está morto para mim. — Coloco o capacete e ligo a moto. Ivan parece chocado com as minhas palavras, mas se recompõe em poucos segundos.
       E eu vou embora, já sabendo o que vou fazer. Não preciso lutar com Ivan pela mesma mulher, ela está apaixonada por mim, o destino a trará de volta a mim. Ele também irá perceber isso.

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