Capítulo dezessete

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Amber

      O dia foi cansativo, tive que mostrar meus dotes culinários para impressionar a senhora Valentine, para mostrar para Ivan também que sou muito melhor que a sua noiva Barbie. Zoey veio me pedir algumas dicas de cozinha como se ela fosse mesmo de colocar as mãos na massa. Vi o perfil dela nas redes sociais, ela só fala de moda e viagens, o que não é ruim, apenas não achei que fosse o tipo do Ivan.
     Ele é tão mentiroso, e mente muito bem porque eu acreditei em todas as palavras dele. Acreditei quando disse que gostava de mulheres como eu, acreditei quando disse que queria tentar comigo, quando demonstrava que estava apaixonado e até quando disse que me amava. Fiquei pensando várias vezes sobre como seria se eu fosse morar com ele na Europa, que agora tenho vergonha de mim mesma. Não acredito que já não consigo detectar os mentirosos.
      Dante não é um mentiroso, ele é idiota, um desastre, imaturo, irresponsável, mulherengo, tem uma reputação terrível e tantas coisas ruins, mas enganador e mentiroso ele não é. Não sei explicar porquê, mas até é facil confiar nas palavras dele. E sinto que ultimamente tenho visto parte do seu verdadeiro "eu".
      Fiquei afastada dele hoje como ele queria. Todos temos momentos ruins, talvez ele precisa de um momento sozinho para pensar ou lidar com algumas coisas, então dei isso a ele. Nunca tinha visto aquele homem daquele jeito, então espero que não tenha sido nada.
     Faço alguns pratos especiais a pedido da senhora Louise, na verdade criamos o cardápio juntas e ajudo as empregadas a confecionar, tento ignorar Ivan que aparece na cozinha várias vezes, mas não é para se hidratar. E olha que Zoey nem colocou os pés aqui.
       Deixo o resto do trabalho com as empregadas e vou tomar um banho para tirar o cheiro de comida em mim e poder me juntar a todos na mesa. Estar com os Valentine me fez ter saudades da minha família. Faz tempo que não passo essas datas especiais com eles, acho que dois anos.
      Como é um dia especial faço uma maquiagem leve e uso meu vestido rosa de cetim, então me junto ao lado de Dante na mesa. Não trocamos nenhuma palavra o resto do dia porque estive ocupada ajudando a mãe dele e também para me distrair um pouco.
     Não sei dizer porquê, mas senhor Raymond já não olha para mim como se fosse um ser estranho, talvez seja só hoje, não sei dizer. Se eu realmente me importasse diria que Zoey é a nora favorita dele.
     — Está tudo muito delicioso. — Senhor Valentine prova o gratinado de batata com camarão. — Onde você aprendeu a cozinhar, Amber?
      — Fiz alguns cursos, também tenho vários livros de receitas e sigo chefes famosos. — Respondo, orgulhosa de mim mesma.
      — Imagino que seja de família. — Senhora Louise diz.
      — Na verdade não. Eu sou a única da família que decidiu aprender. — Como o presunto.
      — Amber tem muitos talentos. — Dante diz. — Conta para eles.
      — Assim eu fico com vergonha. — brinco, rindo. — Eu não diria tantos assim.
      — Só não entendo como alguém como ela escolheu você. — Ivan diz, prestando atenção no seu prato.
      — Ivan! — Senhora Valentine repreende.
      — Você acha que eu não mereço ter uma namorada como a Amber ou acha que não mereço ser amado? — Dante pergunta.
      — Meninos, por favor. — Senhor Raymond chama a atenção dos dois. — Vamos respeitar todos que estão na mesa. É um jantar especial não estraguem com brigas tolas.
     Eles desistem e comem em silêncio. Eu percebi que é sempre Ivan quem provoca, só não sei se é por minha causa ou se sempre foi assim.
      — Eu estou curiosa para saber como é criar esses dois. — pergunto para quebrar o gelo. — Eles deram muito trabalho? É que Dante às vezes me dá dor de cabeça.
       Dante ri. — Eu não dou trabalho.
       Senhora Louise sorri para mim. — Querida, eles deram muito trabalho. Na adolescência, nós iríamos enlouquecer.
       — Como era o Dante adolescente? — pergunto.
      — Eu tenho fotos do Dante adolescente, depois mostro a você.
      — Mãe, por favor, não. — Dante pede.
      — Ele era rebelde, se fazia de malvado, mas era adorável. O rosto cheio de acne, os dentes com aparelho e vestia apenas camisetas xadrez. Ele achava que tinha sempre razão.
       — Mas nunca tinha. — Senhor Raymond ri. — Ele gostava de coisas de nerd, mas já não gosta mais.
       — As pessoas mudam. — Dante dá de ombros. — E felizmente mudei.
      — Agora estou mais curiosa para ver as fotos do Dante adolescente. — digo.
      Zoey olha para todos nós. Não é para me gabar, mas pareço mais futura nora do que ela. A mulher quase que não quer saber sobre a família. Acho que Ivan disse a verdade sobre o seu casamento. Mas não muda nada.
       — Eu também quero saber sobre o Ivan. — Ela diz.
       — Eu vou adorar mostrar a vocês.
      Senhora Louise conta mais sobre seus filhos, depois sobre algumas tradições de família. Fico sabendo que a família Valentine tem ascendência italiana, portuguesa, russa e também inglesa. Os avós do senhor Valentine eram italiano e russa. Os avós da senhora Valentine eram portuguesa e inglês, então o pai da senhora Valentine que era luso-inglês casou com uma inglesa e a mãe do senhor Valentine casou com um americano. É uma história e tanto.
      Provamos o meu tiramisu enquanto peço para senhor Valentine contar mais histórias sobre sua ancestralidade. Realmente achei interessante e fico feliz que ele conta empolgado, porque aparentemente seus filhos nunca quiseram saber da história mais a fundo.
      — ... e depois de três anos à espera, meu pai finalmente voltou. Ele pediu a minha mãe em casamento e ela disse que sim.
      Sorrio para ele. — É a história mais romântica que já ouvi, senhor Valentine.
      — É realmente muito boa. — Dante comenta.
      — A história dos seus avós, dos seus pais, é simplesmente maravilhosa. Agora eu quero saber como conquistou a senhora Louise. — Digo.
     Ele ri. — É uma história muito engraçada. — Ele conta que sua esposa não gostava dele e sempre fugia dele. É uma história muito boa também.
      O tempo passa rápido demais, já estamos na sala de estar, mas estou realmente adorando as histórias do senhor Raymond. Tenho que aproveitar que hoje ele está conversador e simpático, não se sabe se amanhã irá voltar ao normal.
       — ...e foi assim que eu descobri que não fui feito para ser cantor.
      — Ah, não. Eu vou querer ouvir o senhor cantar. — Endireito-me no sofá, perto do Dante.
      Senhora Louise sorri. — Ele canta como um anjo.
      — O senhor não tem um disco das músicas da sua boys band? Não pode. — Realmente estou adorando isso.
      — Não gravamos nada. Cantávamos apenas em alguns lugares. Não era nada de mais. — Ele responde.
      — Só um pouquinho. Um trecho de qualquer música. Quero muito ouvir o senhor cantar. — Peço. — Canta! Canta! Canta!
      Dante me ajuda e logo depois todos nós pedimos para que ele cante alguma coisa para nós. Senhora Louise ri, e seu marido decide se render. Acho que sou boa a convencer pessoas.
      Ele suspira. — Só um pouquinho. — Ele canta um trecho da música Another Day In Paradise de Phill Collins.
      — Uau! — empurro Dante levemente. — você também consegue cantar assim, amor?
      Dante ri. — Minha voz parece um monte de gatos lutando.
      — Eu adorei, senhor Valentine. — Aplaudo. Sou sincera, realmente foi muito bom.
      — Muito obrigado. Foi uma noite muito boa, agora preciso dormir. — Ele e sua esposa levantam. — Boa noite, crianças.
      — Boa noite. — Respondemos.
      Eles saem da sala de estar, e Dante sorri para mim. — Você transformou o meu pai num tagarela em poucos minutos. Estou impressionado.
      Dou de ombros. — Queria saber mais sobre você.
      Zoey olha para nós. — Vocês querem ver um filme?
      — Pode ser. — Fico mais perto de Dante.
     Zoey e eu escolhemos o filme e obrigamos os meninos a verem. É uma comédia romântica, coisa que acho que Dante não gosta porque revira os olhos o tempo todo. Fico nos braços do Dante com uma manta, e Ivan não para de olhar para mim, mesmo que esteja com a noiva.
     Maldito traidor.
     Dante me beija quando o casal do filme se beija. Viro para olhar para Ivan, e ele tenta não olhar para nós. Depois de hoje, percebi que sua ligação com a sua namorada é diferente, eles não parecem íntimos, Dante e eu que nem somos namorados somos mais. É um casamento de fachada, Ivan não mentiu sobre isso, mas não significa que ele deixou de ser um traidor.
      Zoey beija o rosto do noivo. — Amor, vamos para a cama? — ela se aconchega nele. — Estou com sono.
      Ivan sorri, olhando para mim. — Claro que sim, querida. Vamos.
      Se ele acha que estou com ciúmes, está enganado. E estou surpresa comigo mesma por não estar com ciúmes. Parece que não gostava tanto assim dele como eu pensava. Na verdade, estou aliviada por me livrar de um canalha como esse.
      Eles levantam, e Ivan leva Zoey nos braços depois de nos dar boa noite. A Barbie ri como uma louca e eles somem da nossa vista.
      — Foi um pouquinho demais. — Digo.
      Dante olha para mim. — Vamos para a cama?
      — Vamos. Também estou exausta.
      Desligamos a TV e também subimos para o nosso quarto. Vou tirar a maquiagem e tratar do meu rosto enquanto Dante já está pronto para dormir com seu pijama de camiseta branca e calça xadrez vermelha. Não acredito que vou dizer isso, mas gosto quando dorme só de cueca boxer.
      Encontro ele sentado na cama e deito ao seu lado. Eu sinto que devíamos conversar sobre o que aconteceu hoje mais cedo, mas também não quero parecer insistente porque ao que pareceu, é um assunto delicado.
     Dante vira para mim. — Tenho uma pergunta para você.
      Meu coração bate descontroladamente, o que não é bom sinal. É só uma pergunta, não deve ser nada de mais. Por que eu tenho medo? Ele não irá fazer um pedido de namoro, Dante não quer um relacionamento sério, e se está estranho nesses dias não é por minha causa, é por causa dos seus problemas.
     — O que é? — pergunto.
     — Quer ir para a Disney comigo? — ele está sério.
     Ah, é só isso!
     Espera!
     — O quê?
     — Se não quiser, está tudo bem. — Se não o conhecesse diria que está nervoso. — É só que... fui um idiota com você mais cedo e quero te compensar. Se você quiser.
     — Eu quero. Quer dizer, quero ir para Disney com você.
     Ele suspira aliviado. — É que eu já fiz algumas reservas. Achei que seria bom passarmos por lá. Fugir um pouco do clima daqui.
      — Quando vamos?
      — Eu marquei para depois de amanhã. Pode ser?
      — Sim, pode. Acho que vai ser divertido.
      Por que as coisas estão estranhas?
      — Então, boa noite. — Ele ainda olha para mim.
      — Boa noite. — Dou às costas para ele, não só para desligar a luz do abajur, mas também para para fugir dos seus olhos verdes.
      Em que momento as coisas ficaram estranhas?
      Se pensar demasiado nisso vou acabar por não dormir, ainda mais porque Dante está bem ao lado. Seja o que for não deve ter importância.
     



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