Capítulo dezesseis

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Dante

      — É como se eu provasse um pedaço de paraíso. — Digo quando tiro mais uma fatia do cheesecake da Amber.
      Todos gostaram, mas nem todos queriam admitir em voz alta, como o meu pai e o meu irmão. Acho que eles não conseguem engolir o facto de eu ter uma namorada, ainda mais uma mulher tão incrível e talentosa como a Amber. Foi a melhor ideia que eu já tive.
      — Você é realmente muito boa nisso. — Zoey tira mais uma fatia. — Sabe fazer mais coisas?
      — Sim. Eu sei uma infinidade de pratos doces e salgados. Ah, e também sou muito boa a fazer coquetéis.
      Beijo o rosto dela. — Ela é perfeita. Por isso é minha namorada.
      Minha mãe sorri. — Eu realmente fico muito feliz que você se entregou ao amor, Dante.
      — Vamos ver até onde isso vai durar. — Meu pai sussurra, mas eu posso ouvir.
      Decido ignorar e como a minha sobremesa. Ele sempre vai querer me contrariar ou dizer algo para me fazer sentir um perdedor. Meu pai sempre foi assim, mas de um jeito mais atenuado, depois que eu desisti da faculdade ele decidiu fazer de sua missão de vida me colocar para baixo. Ele me deu espaço para me recuperar, para reconstruir minha saúde mental, sempre esteve lá, tanto que achei que as coisas seriam diferentes. Provavelmente se eu tivesse continuado na faculdade ele não iria me tratar como uma completa desilusão.
       Ivan olha para minha namorada de um jeito estranho, um olhar de culpa, porém desvia quando percebe que olho para ele. Ou ele não gostou da minha namorada ou disse algo errado para ela.
       — E os preparativos para o casamento? — Amber pergunta para os noivos.
       Zoey brilha sempre que falam de casamento. — Ainda não temos data, por enquanto vamos organizar melhor as nossas ideias e deixa as coisas acontecerem. Mas posso dizer que será um casamento grande.
      — Entendo. — Minha falsa namorada sorri.
      — Eu estou cansado. — Ivan afasta o prato de sobremesa depois de terminar. — Acho que vou dormir.
       Sua noiva levanta. — Vou com você. Boa noite.
       — Boa noite. — Meu pai sorri para eles.
       — Boa noite. — Minha mãe e eu dizemos.
       Eu sei que Ivan nunca me dirá, infelizmente não somos tão proximos, mas sinto que ele não está feliz com a decisão de casar com a Zoey. Ele deve fazer isso apenas para agradar o nosso pai, sempre foi assim, ele faz o que o nosso pai quer, não o que ele quer. Seu coração deve querer outra coisa e isso o deixa infeliz.
       Eu acho que todas as decisões que tomei foram por mim. Não me arrependo de ter desistido da faculdade mesmo que isso tenha afastado o meu pai ainda mais de mim. Ele me ama, não demostra tanto, mas ele realmente o faz e sei que um dia irá me perdoar. Eu só queria asas para voar sozinho, escolher meus próprios caminhos. Vivi um inferno depois da morte de Emily e foi a melhor maneira de seguir em frente.
      Eu usei o dinheiro da minha faculdade para constituir a boate, sabia que esse negócio deixaria o meu pai furioso, como sempre para chamar a sua atenção, mas depois percebi que não valia de nada o irritar. Com o dinheiro da boate construi o Inferno e agora tenho pensado em um restaurante também. Quem sabe Amber queira ser minha sócia.
       — Eu vou caminhar um pouco lá fora antes de ir para a cama. — minha mãe sai da mesa também. — Boa noite. — Beija o meu pai.
     Termino o meu prato. — Nós também vamos dormir, amor.
      Amber levanta. — Boa noite, senhor Valentine.
      — Boa noite, pai.
      — Boa noite
      Levo Amber para o nosso quarto e fecho a porta. Somos vizinhos do Ivan, então temos que fechar sempre a porta para que eles não ouçam alguma coisa.
       Amber vai fazer aqueles cuidados todos só parar dormir. Eu só preciso lavar os dentes, vestir o pijama e tomar os remédios, deito na cama e espero Amber. Quando ela vem com uma camisola branca, e deita ao meu lado, seu cheiro me deixa embriagado.
      — Você quer falar sobre o beijo na piscina? — pergunto. — E o beijo na sala de estar?
      — Não. Era só um beijo. Porque seu irmão estava por perto.
      Um beijo que não sai da minha cabeça.
      O que se passa comigo que não consigo parar de pensar nisso? 
      — Tem razão. Mas na sala de estar...
      — Você me beijou. Eu devia cobrar pelos beijos, assim você iria se comportar.
      — Eu pagaria. Você beija muito bom.
      Ela dá as costas para mim. — Boa noite.
      — Boa noite, boo.
      — Não me chame assim. Ninguém está aqui.
      — Boa noite. — Fecho os olhos, mas tudo o que vejo são os olhos fechados de Amber quando nos beijamos na piscina.
      Viro para outro lado, procurando uma posição confortável para dormir. Não é fácil quando o que você quer fazer é agarrar a pessoa que está ao seu lado, cheirando a paraíso e com os ombros à mostra, pedindo para serem beijados ou mordidos.
       Porra, tenho que esperar os remédios fazerem efeito.
     — Tens gostado do novo apartamento? — pergunto, voltando a olhar para ela. Amber vai arrancar meus testículos por não deixá-la dormir.
     Boceja. — Você é estranho.
     — Isso é um elogio?
    Vira para mim. — Não. Quando nos conhecemos achei você um brutamontes, estúpido, e agora olho para você e já não parece aquilo tudo, não a 100%.
     — É um elogio sim. Achou tudo isso por causa da nossa guerra com gás de pimenta? — tento que saber o motivo para ela não me suportar.
     — Não. Foram as suas atitudes mesmo.
     — Devo dizer que para mim continua a mesma impressão da primeira vez que te vi. — Digo.
      As luzes estão apagadas, então não conseguimos ver muito bem um ao outro. A única luz que temos é da janela, porque as paredes de vidro foram cobertas, mas eu poderia passar a noite toda a olhar para Amber mesmo assim.
      — E qual é? — pergunta, curiosa.
      — Você é uma mulher foda, malvadona.
      — As aparências enganam. Na verdade, eu sou um doce e sou romântica. — Responde.
      — Sério?
      — Sim. Por quê? Não pareço romântica?
      — Todas as mulheres são românticas.
      — Errado. Nem todas, mas isso não importa agora. Eu só quero dormir e ter uma noite sossegada para ter uma Páscoa divinal. — Dá às costas para mim novamente. — Dessa vez, é mesmo um boa noite.
       — Está bem. Boa noite. — Sussurro.
      Ela está longe de mim na cama, mas sinto seus lábios nos meus como se ela estivesse perto o suficiente para me beijar. Seu gosto não sai da minha cabeça e o mais difícil é saber que não posso beijá-la nesse momento e que ela me faz sentir outras coisas mais.

                                        ****

     Eu consegui dormir ontem por causa dos remédios, mas hoje não me sinto muito bem. Acordo às seis da manhã, tomo um banho e fico sentado no sofá da janela contando as folhas das árvores. Minha cabeça dói, já tomei uma aspirina, mas essa dor é um sintoma da merda que tenho. São constantes e isso me deixa irritado. Prefiro ficar no meu canto às vezes para não magoar ninguém.
      Tento me acalmar observando as árvores, os passaros, até as nuvens. Observo os jardineiros tratarem das plantas da minha mãe, enquanto ouço Amber respirar. Infelizmente não consigo ficar mais relaxado. Tudo na minha vida é motivo para ficar inquieto.
      Amber acorda e estica os braços. — Bom dia, troglodita.
      Volto a minha atenção para a janela, para as folhas das árvores. — Bom dia.
       — Você não conseguiu dormir?
       — Consegui.
       — Está tudo bem?
       — Só me deixa em paz, está bem? — não olho para ela.
       Não quero fazer ou dizer nada que a machuque, algo que eu vá me arrepender depois. Quando estou nesses dias, o melhor é ficar longe.
      — Está bem. — Ela vai para o closet.
      Minutos depois ouço o chuveiro e respiro fundo. Esses momentos sempre chegam, e nem posso me cansar porque vai ser sempre assim. O inferno bate na minha porta todos os dias.
      Levanto para caminhar pelo quarto, ando de um lado para outro, sentindo o meu coração acelerar. Poderia beber alguma coisa, um whisky talvez, mas não é sensato ficar bêbado a essa hora. Não consigo parar de pensar em tudo, minha cabeça se enche com "e se", não consigo evitar.
      Fico descalço e faço o exercício de respiração. Eu não quero pensar no Luke, pensar em Amber, no beijo de ontem, no jeito que ela me fez sentir, eu não quero sentir medo dos meus sentimentos, ou do que Luke pensa em fazer para me infernizar. Nesses momentos tudo cai por cima de mim ao mesmo tempo. Preciso falar com doutora Susan.
      Vou para baixo com o meu telefone, para um lugar que possa fazer uma sessão com doutora Susan em paz, se ela não estiver ocupada, claro. Encontro a minha mãe na sala de estar desligando o telefone. Vou até ela e dou um beijo de bom dia.
       — Bom dia, mãe.
       — Como você dormiu, filho? — segura a minha mão, olhando para mim com preocupação.
       — Bem, mas não consigo parar de pensar. — Sento no sofá. Ela vem ao meu lado, sabendo que preciso desabafar.
       — O que houve, querido?
       — O Luke voltou. — Ainda não tinha dito para ela. Minha família sabe como a minha relação com ele é conturbada.
       — O que ele disse?
       — O mesmo de sempre. Disse que sou culpado e vai infernizar a minha vida. — Apoio oo rosto no colo da minha mãe. Ela também me ajuda a me acalmar. Desde criança que ela me ouve e me consola com carícias na minha cabeça.
      — Ele precisa de ajuda.
      — Eu não devia ter deixado ele. Ele me odeia e nunca vai me deixar em paz.
      — Você precisava melhorar, Dante. Talvez se você conversar com ele...
      — Eu tentei. Ele não quer saber.
      — Vai dar tudo certo. Não pense muito nisso. — Ela passa as mãos por meus cabelos. — Acho que uma ordem de restrição contra ele é a solução. Vai se sentir mais seguro se for assim?
      — Eu acho que sim. Vou conversar com o meu advogado.
     Amber desce usando um vestido roxo de algodão e olha para mim apoiando o rosto no colo da minha mãe. Levanto imediatamente porque é um momento íntimo. Não preciso que as pessoas saibam que sou um filhinho de mamãe ainda mais a Amber, que irá esfregar isso na minha cara todos os dias.
     Passo a mão no cabelo e Amber vem até nós sorrindo. — É a cena mais linda que eu já vi. Bom dia. E feliz Páscoa.
     — Feliz Páscoa. — Minha mãe sorri. — Como você está?
     — Eu dormi bem. Só estou um pouco preocupada com você, amor. — Ela vem sentar ao meu lado.
      — Eu estou melhor. — Encaro as minhas mãos.
       Minha mãe levanta. — Vou ver como estão as coisas na cozinha. — Ela nos deixa sozinhos.
      Amber vira o meu rosto para ela. — O que se passa com você?
      — Não me pergunte isso. Eu respeitei o seu espaço quando você chorou naquele dia, respeite o meu também. Até porque não temos nada. — Levanto e vou para os degraus, me fechar no quarto para fazer minha sessão com doutora Susan.
      Já começo a me arrepender pelo jeito que tratei Amber. Eu sempre faço merda, quando estou nesses malditos dias. Só preciso conversar com a minha terapeuta e depois encontro qualquer coisa para compensar a Amber. Espero que ela entenda que não faço de propósito.

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