Capítulo vinte e três

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Amber

       Saio do banheiro com uma toalha, depois de um banho relaxante. Vou para o quarto saber se deixei meu telefone aqui para fazer uma ligação e vejo Dante de joelhos no chão, passando mal.
      Ele respira rápido demais, não olha para mim e não diz nada. Seus pés estão descalços e suas mãos no chão, pedindo por ajuda mesmo sem dizer uma palavra. Abro as janelas para entrar ar, mas não muda sua situação, na verdade sinto como se tivesse piorado porque a cada segundo parece pior.
      Dante continua na mesma posição, respira e respira, não se move tanto, consigo sentir a sua aflição, o desespero, o que automaticamente me contagia. Ele precisa de ajuda, eu preciso fazer alguma coisa. O medo me domina e sinto que tenho as mãos atadas.
      — Dante! — toco o seu ombro, mas isso também não ajuda em nada. — Eu vou pedir ajuda.
      Corro para fora do nosso quarto de toalha e vou bater na porta do quarto do Ivan. Bato a porta em pânico, assustada. Eu não sei se é realmente um ataque de pânico ou se isso é fatal, apenas estou com medo e preciso pedir ajuda. Daqui posso ouvir Dante, onde será que seus pais estão?
      Ivan abre a porta, sem camisa, apenas de cueca boxer. — O que foi?
      — O Dante. Por favor, vem ajudar o seu irmão. Ele está muito mal.
      Ele corre comigo para o quarto e vê o irmão no chão. Dante respira cada vez mais rápido, o que me deixa mais assustada. Eu nunca tinha visto alguém a passar por isso, parece que está sofrendo e preso nesse sofrimento sem poder fazer nada, sem poder escapar.
      Uma lágrima escapa de seu olho e isso quebra o meu coração. Ele está sofrendo, precisa de ajuda. Parece que não há nada que eu possa fazer. Como se ajuda alguém que está nesse estado? Se ao menos meu abraço podesse amenizar a sua dor.
      — Dante, respira. — Ivan senta na frente dele.
      Zoey também vem para o quarto e fica ao meu lado vestindo apenas uma camisa do Ivan. Estou demasiado preocupada com Dante para dar importância a ela. Não sei o que aconteceu para ele estar assim.
      Dante respira cada vez mais rápido, ele não consegue pronunciar uma palavra, olha apenas para baixo, e não suporto ver ele desse jeito. Dou um passo para frente, para que ele saiba que eu estou aqui, que não precisa temer.
      — Fala comigo. Diga cinco coisas que estão no quarto. Diga. — Ivan fala com ele, calmo.
      Mas Dante continua com a respiração acelerada. Seus olhos verdes demonstram medo, será que não consegue respirar? Está com dor? Agora também estou com medo. Será que não é melhor chamar uma ambulância?
      — Só cinco coisas que consegue ver. Qualquer coisa. — Ivan insiste.
      Dante procura pelo quarto. — M-Meus... remédios. — Fala com dificuldade. — O telefone da Amber. A cama. — Ele está lutando. Está sofrendo, mas está lutando.
      — Continua. — O irmão pede.
      — A toalha da Amber. Os meus chinelos. — Ainda respira daquele jeito tenebroso.
      — De que cor é a toalha da Amber? — pergunta Ivan.
      Dante olha para mim. — Branca.
      — O que mais é branco aqui?
      Ele procura por alguma coisa. — As nuvens. Os nossos lençóis, o abajur, o telefone da Amber.
      — De que cor são os olhos da Amber?
      Dante começa a se acalmar. — Azuis.
      — Consegue encontrar alguma coisa azul aqui além dos olhos da Amber?
      Dante procura. — Os meus chinelos. A camisa da sua noiva.
      — Isso. Agora respira comigo. — Ele toca no ombro do irmão. — Inspira e expira.
      Dante faz o que o irmão manda, sua respiração começa a normalizar e dou um passo para ficar mais perto deles. Dante fecha os olhos e repete o processo, deixando outra lágrima escapar.
      Quando ele finalmente se acalma, Ivan o ajuda a sentar na cama. Não consigo tirar os olhos dele e mesmo que pareça melhor, o meu coração não quer se acalmar.
      — Ele está bem. Não é nada grave. — Seu irmão passa a mão nos cabelos escuros do Dante. — Eu sinto muito, de verdade.
       O que ele fez?
      — O que eu posso fazer? — pergunto.
      — Mantem ele calmo. Fica com ele até que volte ao normal.
      Ivan e Zoey saem do quarto e nos deixam sozinhos. Encaro o homem gigante na cama que agora parece ser feito de cristal. Parece que cada dia, descubro coisas diferentes sobre ele, e Dante não é como eu pensava ser. Ele ainda gosta do colo da sua mãe, não consegue dormir talvez por ansiedade, fica irritado algumas vezes sem motivo e mantém as pessoas longe, e agora tem isso.
      Dante enxuga as lágrimas e senta de costas para mim, como se quisesse se esconder. Vou até ele e sento ao seu lado, para que saiba que estou aqui para o que precisar. Dou um abraço nele para ajudar a se acalmar e parece que resulta.
      A noite de ontem significou muito para mim, é por isso que não disse uma palavra sobre hoje o dia todo. Eu quero conversar sobre isso, mas no fundo sei que ele não quer seguir em frente e agora que conseguiu a única coisa que queria de mim, já não devo ter importância para ele. Eu só quero proteger o meu coração mesmo que doa me afastar dele. Eu não sei em que momento esse sentimento surgiu.
       Talvez tenha sido quando ele me deu aquela rosa naquele dia, ou quando ele me levou na sua sala sagrada para ficarmos bêbados juntos enquanto jogávamos "eu nunca". Talvez tenha sido quando nos beijamos pela primeira vez, quando ele me levou para a Disney ou quando nos beijamos naquele balão gigante. Tudo isso tornou a nossa primeira vez especial para mim e agora que o vi daquele jeito, meu coração dói.
       Eu não consegui resistir, mas se tiver sorte ainda posso fugir.
      — Transtorno de ansiedade generalizada. — Ele sussurra contra o meu ombro. — Acontece muitas vezes, mas eu não consigo me acostumar com isso. É diferente quando não consigo dormir ou quando fico irritado. Quando tenho um ataque de pânico, eu me sinto preso. — Ele se afasta, tira o suéter e aponta para a tatuagem de correntes. — Para me lembrar que estou preso a isso. A ave significa liberdade, algo que não posso ter.
      — Por que não me disse antes? — entrelaço as nossas mãos.
      — Eu não sei.
      — O que eu posso fazer para ajudar?
      — Por que não me contou que teve alguma coisa com o meu irmão? Que você gosta dele?
      — Como? Ele contou? — pergunto. Ivan teve mesmo coragem de fazer isso? Então esse é o motivo para pedir desculpas ao irmão.
      — Sim.
      — Eu não sabia que era seu irmão até chegar aqui. — Tento me defender.
      — Ele era o seu namorado?
      — Tecnicamente não, nunca tivemos nada oficial. Mas eu o considerava um namorado. Juro que não sabia que tinha noiva. — Desvio o olhar com medo que ele não acredite em mim.
       — Eu acredito em você. — Diz.
       — Você está bem agora?
       — Sim.
       — Você passou mal por minha causa?
       — Eu não sei. — Fecha os olhos. — Eu não sei.
       — Por favor, fala comigo.
       — Ivan me contou que te ama e que vocês têm uma linda história de amor. Ele disse que vai lutar por você. — Ele cruza os braços.
       — Isso fez você reagir assim? A culpa é minha?
       — Não. É só que... eu comecei a entrar em pânico e tive medo que você fosse me ver desse jeito. Não consegui ficar calmo e não consegui controlar.
       — Eu nunca iria te julgar.
       — Eu sei. Mas esses momentos são muito difíceis para mim.
       — Eu sinto muito. — Apoio o rosto no seu ombro.
      — Você gosta dele? — pergunta.
      — Eu achava que sim. Mas não é assim. — Fico mais perto dele. — Nós tivemos uma coisa é verdade, mas não foi tão especial.
       — Mas ele vai lutar por você.
       — Vai perder o seu tempo.
       — Você não está apaixonada por ele?
       Encaro as nossas mãos entrelaçadas. — Não. Mas você não pode me dar o que eu quero. É por isso que não me sinto bem em continuar com isso.
       — Se eu disser que estou disposto a te dar o que você quer?
      — Por quê? — procuro seus olhos.
      — Porque eu... gosto de você. Estou apaixonado por você. Eu quero arriscar tudo e ficar com você. — Responde, um pouco ofegante.
      — Tenta ficar calmo, está bem?
      Ele segura a minha mão e põe no seu peito. — Diga que quer tentar, por favor.
      — Você tem a certeza que é isso que quer? Um relacionamento é difícil e exige responsabilidade, confiança...
      — Eu sei de tudo isso.
      — Dante... eu não sei.
      — Eu entendo. — Afasta as nossas mãos. — Se é essa a sua decisão, eu vou respeitar. Quando voltarmos para casa, eu não volto a te procurar.
       — Eu não disse que não. Apenas é um pouco complicado. Você é complicado, entende?
       Eu também quero tentar, mas preciso saber se não é apenas um momento de fraqueza. Ele também acabou de desistir de mim agora, em menos de cinco segundos.
       — Posso só pedir uma coisa?
       — O quê?
       — Fica só mais um pouquinho comigo, por favor.
       Eu disse que ele é complicado.
      — Não peça como se fosse uma despedida.
      — Mas vamos voltar para casa amanhã.
      Toco o seu rosto. — Por que você desistiu tão rápido de mim?
      — Se você não me quer, não devo desistir? Há muitas coisas que posso suportar, Amber. Mas não um coração quebrado.
      — Por isso vai desistir?
      — Minha reputação não ajuda.
      — Mas eu confio em você por algum motivo.
      — Por quê?
       — Você me deu motivos para confiar. Eu sei da sua má reputação, mas também conheci um lado seu que me surpreendeu.
      Ele olha para mim. — Então você quer tentar?
      — Você está disposto a isso? — preciso ter a certeza.
      — Agora que você está na minha frente, eu tenho a certeza que você é tudo o que eu quero.
      — Então podemos tentar.
      Seus lábios tocam os meus, trazendo o meu corpo até o seu. Deitamos na cama, e me livro da minha toalha para sentir a sua pele na minha. Desfruto do seu gosto, sentindo o meu coração bater forte, um medo que não lembro de sentido antes. Com ele é diferente. Não senti isso cada vez que Ivan me beijou.
      Minhas mãos seguram o seu rosto, e as suas passam pelas minhas costas lentamente e carinhosamente. Dante envolve sua perna em mim, beijando apaixonadamente do seu jeito, apagando todos os problemas em fração de segundos. Tive medo que essa história fosse terminar em tragédia, mas eu estava errada. Ele quer ficar comigo.
      Deixo seus lábios, minutos depois, para que possa respirar. Lembro também que estou nua deitada na cama com ele, mas não importa porque não há nada que ele não tenha visto.
      Dante toca o meu rosto, um toque delicado que me rouba um sorriso. — Obrigado por me dar uma chance.
      — Não estrague tudo, por favor.
      — Darei o meu melhor a você. Tenha paciência comigo. — Beija o meu rosto e depois o meu pescoço.
       — Felizmente, eu sou uma pessoa paciente.
       — Isso significa que gosta de mim? Que não está apaixonada pelo meu irmão?
       — Eu não ficaria com você se não estivesse apaixonada. Pode acreditar, você sabe como você é. — provoco. — Só mesmo isso para uma mulher te suportar.
       — Você me suportava antes. O destino quis que isso acontecesse.
       — Você acredita mesmo em destino?
       — Não tanto, mas acredito no que eu sinto por você.
       Ficamos na cama, trocando carícias e vários beijos enquanto todos almoçam lá embaixo. Depois lembramos que temos fome e comemos no quarto para termos mais privacidade.
       Se o que Ivan disse para Dante é verdade, então ele é o tipo de pessoa que tento sempre fugir. Ele não é nada do que eu pensava. Como pode tentar ficar com a namorada do irmão? Eu nunca fui dele, então ele nunca irá conseguir. Ainda mais agora que fui fisgada por Dante fodido Valentine.
      Tenho a certeza que os meus amigos vão surtar, e mal posso esperar para ver a cara deles.

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