Capítulo vinte e dois

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Dante

      O caminho de volta para casa foi estranhamente silencioso. Não que não trocamos uma palavra, mas falamos apenas quando temos que falar. Uma parte de mim está desesperado para saber se é por causa de ontem. Nós transamos e agora parece que estamos mais distantes. Sinto um aperto no peito e quero me livrar dessa sensação, mas não sei por onde começar. Eu não devia me importar, mas me importo. Será que ela se importa? Precisamos conversar sobre isso.
      Não acredito que estou desse jeito.
      Nosso carro chega a casa e estaciono. Minha voz não sai, talvez por medo do que ela irá pensar. Quero conversar, normalmente nunca quero, só que com Amber é diferente. Não queria que com ela fosse diferente, mas é. Alguma coisa mudou dentro de mim.
       Porra, eu sinto que vou colapsar.
       Descemos do carro, pegamos nas nossas coisas e nos dirigimos para dentro de casa. Observo sua saia jeans curta, sua jaqueta de couro e botas. Minha mãe nos recebe com um abraço e me esforço para sorrir quando dentro de mim só há dúvidas e medo. Por que temos que fazer isso?
       — Como foi o passeio pela Disney? — minha mãe pergunta.
      — Foi muito divertido. Temos várias fotos. — Amber responde. — Fizemos muita coisa em apenas um dia. Não pensei que fosse possível. Claro que ainda tinha três parques que não exploramos, mas foi incrível mesmo assim.
      — Vejo que se divertiram bastante.
      — Foi muito divertido. — coloco a mão na cintura da Amber e beijo o seu rosto. — E muito especial.
      Se calhar ela quer que eu aja normalmente, mas como posso fazer isso depois da noite de ontem? Não consigo explicar, mas não foi só sexo. Por que eu não pensei que estar perto da Amber por demasiado tempo iria mexer comigo? Ela bem que avisou que eu estaria fodido.
      Ivan sai da biblioteca e olha para nós como se tivesse visto seu pior inimigo. — Que bom que chegaram. A casa estava silenciosa sem você, Dante.
      — Não exagera.
      E meu irmão desvia o olhar para Amber. A sua expressão muda e isso claramente me incomoda. Sei que deve ser coisa da minha cabeça porque Ivan tem noiva e Amber não deve fazer o tipo dele, mas mesmo assim não me deixa confortável.
      — Nós vamos para o nosso quarto agora. — Seguro a mão de Amber. Ivan está atento a cada movimento que dou.
      — Sim, querido. E Amber, se não se importar, pode dar uma ajuda na cozinha mais tarde?
      — Claro que sim. Eu adoraria.
      — Que bom.
      Subimos para o nosso quarto e fecho a porta. Amber cai na cama e olha para mim com seus olhos azuis mais claros devido a sua sombra escura.
      — Eu acho que você conseguiu conquistar a minha mãe. — Levo as nossas coisas para o closet e regresso.
      — Ela vai superar quando souber que terminamos.
      E se não terminamos?
      — Amber...
      — Mas você só dirá a eles nas férias de Natal. Assim seu pai não irá pensar que não consegue ter um relacionamento.
      — Você acha que não consigo ter um relacionamento? — meu coração bate forte contra o peito.
      — Eu não sei dizer. Não te conheço assim tão bem.
      Ela tem razão. Nós não nos conhecemos tão bem, mas acho que sei o suficiente sobre ela, claro que ela não me contou tudo, mas não somos dois estranhos. Eu confio nela e quero muito que confie em mim também. Então, respiro fundo e conto sobre o meu primeiro namoro de verdade para que ela saiba mais sobre mim.
      — O nome dela era Emily. — Começo. — Ela era muito bonita. Nós namoramos por um ano, mas foi o ano mais difícil. — Prefiro não mencionar que Emily me fazia ter ataques de pânico com frequência, me fazia ficar ansioso com muita frequência, desesperado, não me fazia bem.
      — O que aconteceu? — Amber senta na cama, agora mais atenta.
      — Ela ia e voltava. Fugia de casa e não deixava notícias o tempo todo. Aquilo não me fazia bem. Parecia que eu namorava uma estranha. Até que ela se suicidou. Foi muito difícil lidar com aquilo. Eu não consegui lidar com aquilo. Desisti da faculdade, me foquei na minha saúde mental e tentei seguir a minha vida. Nunca tive um relacionamento desde então. — Não gosto de falar sobre isso, mas quero que Amber saiba sobre mim.
      Ela levanta e vem me abraçar. — Eu sinto muito. Não fazia ideia. — O primeiro contato que tivemos hoje depois da noite de ontem.
     — Não faz mal. É só para você me conhecer melhor. — Olho para ela. Olho nos olhos, pronto para fazer tudo o que ela me pedir. Eu achei que transar com ela era a única coisa que queria há uma semana, agora eu quero muito mais.
      Me aproximo para beijar seus lábios, mas Amber se afasta de mim. E sinceramente não esperava que isso doesse. Por que dói?
      — Eu vou apanhar um pouco de ar. — Ela sai do quarto e fecha a porta.
      Deve ter sido por causa da noite de ontem. Eu sempre deixei claro que queria transar e Amber é uma mulher que gosta de compromisso, se calhar só quer se proteger de mim. Ou será que ainda está apaixonada pelo ex-namorado?
      Sento na cama e ligo para Lorenzo, mas ele não atende, então ligo para Stephen. Ultimamente ele tem passado muito tempo com a namorada, está difícil comunicar com ele, mas também sei que ela tem muitos problemas que Lorenzo tem tentado resolver. Espero que esteja tudo bem.
      — Olha só quem lembrou que eu existo. — Stephen atende.
      — Tenho um problema.
      — E que problema é esse?
      — Eu... a Amber me rejeitou e está doendo. Eu acho que gosto dela.
      — Caralho, que coisa! Logo você. — Parece não acreditar.
      — É sério, Stephen. Eu vou enlouquecer. Não sei o que fazer, às vezes não sei o que dizer ou como agir com ela.
      — Ela parece interessada? Parece sentir o mesmo?
      — Não sei dizer.
      — Pergunta.
      — Eu achava que era fácil assim, seu fodido, mas não é. As palavras estão bloqueadas dentro de mim.
      — E você vai deixar as coisas assim? Sabe que as mulheres são orgulhosas e se você não fizer nada vai achar que você não quer nada com ela. É isso que você quer?
      — Será que é isso? Ela acha que não quero nada por isso está fugindo de mim?
      — Provavelmente.
      — Eu acho que faz sentido. Muito obrigado. — Olho para as minhas mãos. — O que se passa aí? Lorenzo está bem?
      — Ele está bem. Só anda demasiado disponível para a namorada e o trabalho que esquece dos amigos. Espero que se você e a Amber ficarem juntos também não esqueça de mim.
      — Não posso prometer.
      — Pense nisso. E tenho que desligar. Enquanto você está de férias, eu tenho trabalho a fazer.
      — Certo, seu merda.
      — Não esqueça de perguntar. Ou se declare.
      Penso se realmente é boa ideia me declarar. Não tenho a certeza dos meus sentimentos, e nem sei se ela sente alguma coisa por mim. Eu não sei ler ela. Nunca sei o que quer realmente dizer, se está interessada em mim. Apenas sei que não consigo parar de pensar na noite de ontem. Eu nunca transei sem camisinha com qualquer outra mulher e muito menos gozei dentro. Com Amber foi a primeira vez e foi bom para caralho.
        — Mostra como você é bom na cama e ela vai ficar interessada.
       — Você é péssimo com conselhos. Adeus. — Desligo.
      Como se já não tivesse feito isso.
       Nós vamos voltar para casa amanhã, temos que resolver as coisas, embora saiba que irei vê-la sempre, mas não será a mesma coisa.
       E mais uma vez, a noite de ontem vem na minha cabeça. Não apenas o sexo, mas o jeito que nos beijamos depois disso, o jeito em que dormimos abraçados. Tudo parecia tão certo.
      Eu quero a Amber.
      Talvez isso seja ter a certeza dos meus sentimentos.

                                           ****

      Vou apanhar ar, enquanto Amber encanta os meus pais. Ela tem feito um bom trabalho, não só com eles, mas ao me conquistar também. Se meus pais gostam dela, principalmente o meu pai que não gosta de nada que tenha a ver comigo, como posso não sentir nada? Eu não queria um relacionamento, mas agora acho que posso fazer isso por ela.
       Ivan está sentado na espreguiçadeira, sozinho. Ocupo uma também ao seu lado, só para fazer o que a minha mãe tanto quer: que eu me dê bem com o meu irmão. Não temos motivos para brigar o tempo todo.
      — Como foi o seu dia com a sua namorada? — ele pergunta, virando para mim.
      — Foi perfeito. — Perfeito nem chega perto. Foi um dos melhores dias da minha vida.
      — Imagino que sim. — Ele parece irritado.
      — Você está bem?
      — Quer saber? Não. Eu não estou bem e sabe por quê? Porque você está com a mulher que eu amo. — Ele vocifera.
      — O quê?
      Eu esperava ouvir qualquer coisa. Que não está feliz no casamento, que quer resolver as coisas comigo, até que a Zoey está grávida, mas nunca isso. Não pode ser verdade. Ele acabou de conhecer a Amber.
      — Isso mesmo. Amber e eu tivemos alguma coisa. Nós temos uma coisa, que obviamente não se compara ao que você tem com ela. — Fala baixo, mas não esconde a raiva nas suas palavras.
      — Têm? O que isso quer dizer?
      — Estivemos juntos, eu toquei nela mais vezes do que você. Eu sei que ela tem um coraçãozinho na virilha. Eu sei o que ela gosta, eu a conheço melhor que você. — Levanta para ficar mais perto de mim.
     O que fazer quando seu irmão mais velho diz essas coisas a você? Estou em choque. É por isso que Amber age estranho com ele? Ela está com ciúmes dele? É por isso que ela estava triste quando viu o meu irmão? Ela chorou por causa dele? Ela ainda ama ele?
      São perguntas demais para o meu cérebro aguentar.
      — Você está com a Zoey. — Digo.
      — Isso muda o facto de que Amber é mais minha do que tua? Eu não amo a Zoey, isso é só um casamento de conveniência.
      — Isso é problema seu. — Levanto também, ficando perto do seu rosto. — Fica com o seu casamento.
      — Eu agora estou disposto a lutar por outra coisa. Eu vou cancelar o casamento com a Zoey e vou lutar pela Amber. Nós temos uma história linda e você devia ficar fora disso se não quer se machucar. — Bate no meu ombro. — Conselho de irmão mais velho.
      Fico estagnado digerindo as suas palavras, sem saber o que fazer. O pouco de esperança que eu tinha, Ivan arrancou de mim. Amber deve estar apaixonada por ele, e obviamente ela escolheria Ivan ao invés de mim. Eu sou um idiota, um desastre. Um relacionamento com meu irmão seria mais estável e seguro do que um relacionamento comigo.
      Fico na piscina pensando e tudo vem por cima de mim ao mesmo tempo. Quando ela estava triste por terminar com o namorado, quando chorou por causa dele, ela me rejeitar, mais uma vez estou apaixonado por uma mulher que não quer saber de mim.
       Não tenho noção de quanto tempo estive na piscina, mas vou para dentro de casa, atordoado. Vou para o quarto e fecho a porta, mesmo sentindo que falta ar. Porque Ivan vai tirar Amber de mim. Eu nem sequer tive tempo de tê-la. Ele sempre tirava os meus brinquedos de mim, claro que com as mulheres não seria diferente.
       Ouço o som do chuveiro e tiro os sapatos para pisar no chão frio. Eu não posso fazer isso na frente da Amber. Hoje não, tenho que conseguir me acalmar.
      Merda, eu não consigo ficar calmo.
      Faço o exercício de respiração, mas não consigo me concentrar, meu coração dói, e começo a entrar em pânico quando na minha cabeça surgem imagens de meu irmão e Amber. Porque ela vai escolher ele.
      Caio de joelhos no chão e inspiro profundamente, expiro, repito o processo com medo que Amber me veja assim. Ela não pode me ver assim, mas não consigo relaxar, não sou capaz nesse momento.
      Eu não sou capaz.
      Algumas vezes nunca sou capaz.
      E eu perco muitas vezes.

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