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            Any Gabrielly Soares 🌹

  Ele não me consertou com o corpo, mas com as palavras. Ficamos acordados a noite toda conversando sobre tudo e sobre nada em nossas vidas, o que me ajudou a respirar. Sabem mais fatos sobre Josh fazia a minha vida parece ser menos solitária.

  —quando você soube que queria trabalhar com carros? -perguntei.

  Ele fez uma careta e deu de ombros.
  —não era o que eu queria. Eu queria fazer belas artes. Puxei mais o lado da minha mãe do que a do meu pai, mas, depois de tudo o que aconteceu, achei que deveria ajudar na oficina.

  —você nunca quis ser mecânico?

  —nunca.

  Fiquei triste por ele. Josh nem conseguiu encontrar tempo para correr atrás dos próprios sonhos depois de passar tanto tempo cuidando do pai.

  —você pode voltar a estudar.

  Ele deu de ombros.
  —estou bem aqui.

  —mas você está feliz aqui?

  —a felicidade nunca apareceu ser uma opção para uma pessoa como eu.

  —você merece muito ser feliz.

  —menos do que você. -ele deu um sorriso. —você merece toda a felicidade do mundo.

  Nós vivíamos em um universo estranho, ele e eu. Um universo no qual não éramos exatamente livres para expressar como realmente nos sentimos em relação ao outro, mas, na minha mente eu não parava de repetir:

  Eu adoro você. Eu adoro você. Eu adoro você...

  Ele passou os dedos pelo meu punho e puxou meu braço para me beijar ali.

  —machuquei você da última vez que assegurei pelo punho.

  —existem maneiras bem piores de se machucar. -dei uma risada. Ele franziu um pouco a testa olhando para a marca no meu punho. —está tudo bem, Josh. Eu estou bem.

  —eu não quero machucar você.

  —ultimamente você é a única coisa que não me machuca. -eu me aproximei e dei um beijo leve em sua boca.

  Ele fechou os olhos por um segundo e quando os abro de novo, senti um frio na espinha.

  —quando você tem que voltar para Atlanta para dar aula?

  A gente nunca conversava sobre a minha partida. Nos últimos meses, a gente só caia um nos braços do outro e não trocavam muitas palavras, a não ser por gemidos. Quando conversávamos, era sempre sobre o nosso passado, nunca sobre o futuro.

  —em umas três semanas -respondi.

  Ele baixou o olhar, com expressão de decepção.
  —Ah, está bem.

  —o que foi? -perguntei.

  —é só que... Vou sentir saudade. Só isso.

  Senti o coração palpitar.

  —Joshua Kylle Beauchamp sente saudade das pessoas? -brinquei, tentando controlar o sentimento que tomava o meu peito.

  —não das pessoas... Só de você.

  Eu adoro você. Eu adoro você. Eu adoro você...

  Eu o abracei e comecei a acariciar sua pele, enquanto ele me envolvia em seus braços. Pousei o olhar em sua boca. Aquela mesma boca que já tinha passeado por todo o meu corpo, mas o que me tocava mais era as palavras que saiam por entre aqueles lábios.

  —eu também vou sentir saudade -declarei suavemente. —sem você, eu teria me afogado nesse verão.

  Ele me beijou, e alguma coisa mudou naquela noite. Os beijos dele foram diferentes, mais reais do que a história fictícia que vinhamos contando um para o outro todos os dias durante todas aquelas semanas. Ele não disse as palavras, nem eu, mas nossos beijos pareciam implorar por um pouco mais de tempo, alguns toques a mais e mais palpitações no peito.

  Fiquei até mais tarde naquela noite enquanto o nosso toque imitava algo que poderia ter sido confundido com amor. Quando o sol nasceu, eu me vesti para voltar para casa.

  —eu vou levar você -disse ele.

  Sorri e bocejei.
  —você sabe que eu não vou aceitar.

  —então, mande uma mensagem de texto para avisar que chegou.

  —posso fazer isso.

  —tudo bem -ele sorriu e se apoiou no batente da porta.

  —tudo bem -respondi.

  —Any Gabrielly?

  —o quê?

  Ele pigarreou e enfiou as mãos nos bolsos.
  —o que você acha de a gente sair um dia desses? Tipo em um encontro de verdade?

  Senti um frio na barriga.
  —eu não sabia que Joshua Kylle Beauchamp convidava pessoas para encontros.

  —não pessoas... Só você.

  Mas um pouco de frio na barriga.
  —na verdade, eu ia convidar você para ir a um lugar comigo.

  —onde? -perguntou ele.

  —todos os anos, desde que me entendo por gente, meus pais dão uma festa a rigor no salão de baile da prefeitura para arrecadação de fundos para a caridade. É um acontecimento aqui na cidade e todo mundo se veste como se fosse a entrega do Oscar ou algo assim. Tem um jantar em um baile e literalmente todo mundo da cidade vai estar lá.

  —o baile dos Soares. Já ouvi falar.

  —você vem comigo? -pedi. Ele fez uma careta e senti meu coração se partir. Enrubeci de vergonha. —se não quiser, não precisa ir. Juro viu eu só achei que...

  —eu quero ir -disse ele, tentando me tranquilizar. —minha única preocupação é que as pessoas dificultam as coisas para você se aparecer lá comigo. Não quero estressar você ainda mais e causar mais problemas na sua vida. As pessoas vão comentar.

  —que comentem -respondi, colocando a mão no peito dele. —a gente simplesmente não vai ouvir.

  Ele sorriu. O tipo de sorriso que fazia meu coração saltar no peito. Ele se inclinou e encostou a testa na minha.
  Seus lábios roçaram os meus, e eu sabia que estava acabada.

  —então... -sussurrou ele. —temos um encontro?

  —Sim. -senti um frio na espinha. —temos um encontro. Boa noite, Joshua Beauchamp.

  Ele deu um beijo suave na boca, e senti com todas as fibras do meu ser quando suas mãos pegaram minha nuca. Ele massageou a pele com suavidade e falou com voz rouca:

  —bom dia, Any Gabrielly.

Shame -BEAUANY (Adaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora