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"algum dia em qualquer parte, em qualquer lugar indefectivamente te encontrarás a ti mesmo, e essa, só essa, pode ser a mais feliz ou a mais amarga de tuas horas"

                              —Pablo Neruda.

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              Any Gabrielly
                    Duas atuais...

    No vestíbulo vazio e escuro havia cinco malas descasadas, desgastadas e arrebentadas. Dentro de cada uma delas havia uma parte de mim. A mala roxa foi a da nossa primeira viagem a Paris, na nossa lua de mel. Nós nos hospedamos em um quartinho de hotel no qual podíamos tocar as duas paredes se abrissem os braços. Passamos muitas noites inebriadas naquele quartinho imundo, nos apaixonando mas a cada segundo que passava.

    A mala florida foi a da nossa viagem para espairecer depois que perdi o primeiro bebê. Ele me surpreendeu com uma viagem para as montanhas para me ajudar a respirar. A cidade está abafada, e meu coração, partido. Mesmo com meu coração ainda estilhaçado, lá o ar era um pouco mais fácil de respirar.

    A pequena mala preta foi aqui ele arrumou quando consegui o primeiro emprego como professora. Ele também a usou para a viagem que fizemos depois que perdi o segundo bebê. Daquela vez, fomos para a Califórnia.

    A verde foi a do casamento da minha prima em Nashville, quando torci o tornozelo e ele me carregou no colo pela pista de dança e nós rimos a noite toda.

Por fim, mas não menos importante, a malinha azul-marinho foi a de quanto ele foi passar a noite no meu quarto no dormitório da faculdade. Foi a primeira vez que fizemos amor.

    Meu coração batia rápido enquanto eu ainda estava ali apoiada na parede da sala, olhando, de longe, para a bagagem. Seis anos de história em cinco malas. Seis anos de felicidade e sofrimento roubados de mim.

    Ele saiu do quarto com uma bolsa de lona pendurada no ombro. Seu corpo passou rente ao meu, e ele olhou para o relógio.

   Nossa, ele era lindo.
   Mas isso não era novidade. Noah sempre foi lindo. Ele era muito mais bonito que eu, e isso não tinha nada a ver com questões de baixa autoestima. Eu me achava bonita, com todas as curvas no lugar certo e alguns quilinhos extras concentrados no quadril. Só que Noah era mais bonito. Em todo casal a um que é mais bonito e, no nosso caso, este lugar é ocupado por Noah.

   Ele tinha olhos escuros Que brilhavam quando ele sorria. Noah sempre mantinha um cabelo arrumado, e o sorriso dele...
     Foi aquele sorriso que me conquistou e fez com que eu me apaixonasse.

    —quer ajuda? -perguntei. —com a bagagem?
  
    —Nao. -respondeu ele de maneira sucinta, sem olhar para mim nenhuma vez. —eu cuido disso. -seu corpo estava tenso e hostil. Eu odiava sua frieza, mas sabia que eu tinha feito com que ele ficasse assim. Eu o motivo distante por tanto tempo e, então, ele desistiu.

    Noah estava com uma camisa polo amarela que Eu odiava. Havia um rasgo embaixo do braço e uma mancha que não saia por nada neste mundo, não importava quanto eu tentasse resolve-la.

   Mas tem uma vez tentando guardar aquela camisa horrenda na minha memória.
     Eu sentiria saudade dela, ainda que a odiasse tanto.

    Suspirei enquanto ele arrastava as malas. Quando colocou a última no carro, entrou de novo em casa e vasculhou o vestibular com os olhos como se estivesse esquecendo de alguma coisa.
 
    De mim

Shame -BEAUANY (Adaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora