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              Josh Kylle Beauchamp🖤

  —Oi -cumprimentou Any, na minha varanda na tarde de terça-feira, como um sorriso estampado no rosto e um olhar maroto. —quer fazer uma loucura hoje?

                  {>>>>>>>><<<<<<<<<}

  —tudo bem, espere um pouco! Só um pouquinho. -Any fez uma careta no estúdio de tatuagem quando James estavam prestes a encostar a agulha na parte de trás do seu ombro.

  —a gente já está esperando a meia hora. -dei uma risada. —é agora ou nunca.

  —você pode segurar a minha mão? -pediu ela.

  Eu entrelacei meus dedos nos dela.
  —sempre e para sempre.

  Ela me olhou por um instante como se tivesse visto um fantasma, seus lábios se abriram como se fosse dizer alguma coisa. Ela se virou para James e assentiu.

  —tudo bem. Estou pronta.

  Era mentira.
  Na hora em que a agulha encostou na pele dela, Any deu um grito absurdamente alto e quase deu um salto enquanto apertava a minha mão com uma força ridícula.

  —pense em coisas boas, princesa -sugeri.

  Ela respirou fundo e concordou com a cabeça:
  —ovos em bolo, filhotinhos de cachorros, vestidos, tacos...

  —pizza, waffles, parques...

  —livrarias, Natal, Halloween... Puuuuuuuutz grila! -exclamou ela apertando minha mão.

  —você está bem? -perguntou James. —tem certeza de que vai querer tatuar sete corações com asas? Você pode fazer menos.

  —Nao -declarou ela com veemência. —eu consigo. Eu só... -ela respirou fundo e eu peguei a outra mão dela. —eu consigo fazer isso.

  —tudo bem, então, mas já que estamos fazendo isso, será que podemos conversar sobre o fato de que em vez de falar uma porção de palavrões, você disse "putz grila" para reclamar da dor? -perguntei.

  Ela riu.
  —acho que estou passando tempo demais com minha irmã. Estou começando a falar com ela.

  —vocês duas são chegadas?

  —ela é a única coisa que mantém a minha fé na humanidade. Nour é um anjo e uma pessoa muito boa.

  —fico feliz que você a tenha do seu lado.

  —é, eu também. Aí! -ela se sobressaltou um pouco.

  —concentre-se em mim, princesa -pedi a ela. —converse comigo. Faça perguntas. Qualquer coisa para você se distrair da agulha.

  —eu posso fazer perguntas?

  —pergunte o que quiser.

  Ela mordeu o lábio inferior e fez um gesto com a cabeça em direção a pulseira de borracha no meu braço.
  —o que significa? Momentos poderosos?

  Eu fiz uma careta.
  —mergulhando de cabeça, hein?

  —você não precisa me dizer. Eu notei que você fica sempre puxando a pulseira.

  Eu me remexi um pouco na cadeira. James olhou para mim e fez que sim com a cabeça uma vez.
  Quase como se estivesse me dizendo que não havia problema se eu me abrisse um pouco. Se eu permitisse que mais alguém visse as minhas cicatrizes.

  —ganhei essa pulseira na reabilitação. Sempre que eu sentia vontade de voltar a usar, o médico me dizia para puxar a pulseira e soltá-la contra o meu punho como um lembrete de que essa vida é de verdade, e que a dor que eu sinto quando a pulseira bate no meu punho era para me lembrar que o próximo passo que eu desse seria real também. Essa seria a minha chance de ser poderoso em momentos sombrios.

  —momentos poderosos -sussurrou ela, assentindo devagar. —gosto muito disso.

  —É. Costumava funcionar na maior parte do tempo.

  —você já quase se desviou do caminho?

  —todos os dias. -eu sorri. —mas acho que é uma luta que vale a pena.

  —vale mesmo -concordou ela. —posso fazer outra pergunta?

  —isso vai fazer você parar de pensar sobre a tatuagem?

  —Vai.

  —então, pode.

  —por que você começou a usar?

  Franzi a testa e encolhi os ombros.
  —porque estava cansado de sofrer e achei que era uma maneira fácil de consertar as coisas.

  —e era?

  —era, sim... Pelo menos até o barato passar. Aí, eu acabava sofrendo ainda mais. Quanto maior o barato, maior o bode que vem depois.

  —eu realmente sinto muito orgulho por você ter conseguido superar isso -disse ela. —eu nem consigo imaginar tudo pelo que você já passou, mas você está aqui agora, firme e forte. Isso é incrível.

  Aquilo significou mais para mim do que ela poderia imaginar.

  Quando o James pegou um ponto mais sensível nas costas de Any, ela apertou minhas mãos com mais força ainda, e eu deixei.

  —você consegue. Momentos poderosos, está bem?

  Ela concordou com a cabeça.
  —Eu consigo.

  E ela conseguiu. Levou o tempo, e algumas lágrimas escorreram pelos seus olhos, mas o resultado ficou perfeito. Ela ficou de costas para o espelho, olhando por sobre o ombro para ver a obra de arte, um sorriso iluminando o seu rosto.

  —você gostou? -perguntou ela.

  —eu amei. -coloquei a mão na cintura dela e dei um beijo em seu rosto. —ficou perfeito.

  —eu também achei -concordou ela, olhando para mim. —mas nós temos que fazer mais uma coisa.

  —O que?

  Ela puxou um cartão.
  —espero que você não se importe, e se você realmente odiar a ideia, não precisa fazer, mas vi que o veterinário mandou um cartão para você com a impressão das pastas do Tucker. Pensei que talvez você pudesse tatuar a impressão em alguma parte do seu corpo como uma homenagem a memória dele.

  Apertei o topo do nariz e pigarreei.
  —você é sempre assim?

  —assim como?

  —perfeita.

  Fiz a tatuagem da impressão da pata de Tucker atrás do ombro e abaixo apresentei as palavras momentos poderosos. Any acrescentou as mesmas palavras abaixo dos seus anjinhos.

  Ela não fazia ideia de o quanto me confortou naquela tarde. Any não fazia ideia de quanto vinha me confortando nas últimas semanas.

  —tudo bem. E agora? -perguntei, beijando a testa dela quando terminamos tudo.

  Ela abriu um sorriso enorme, e isso me fez sorrir também.

  —sorvete, mas primeiro vou ao banheiro.

  —boa ideia. A gente se encontra lá na porta.

  Quando ela saiu, James abriu um sorriso e balançou a cabeça.

  —o que? -perguntei.

  —nada. É só que fica muito bem e você. Isso é tudo.

  —o que fica bem em mim?

  —a felicidade.

Shame -BEAUANY (Adaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora