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             Any Gabrielly Soares 🌹

  Josh e eu começamos a nos ver quase todos os dias. Era como se eu fosse a sua fuga da realidade, e ele fosse a minha—ou, mas precisamente, nós nos ajudávamos a fugir da fachada de superficialidade do povo de chester. A cidade tinha sido meu lar a minha vida toda, mas, ultimamente, parecia que eu não me encaixava mais. Eu só sentia que alguma coisa fazia sentido quando estava com o Josh.

  Na escuridão dele, eu encontrava a minha luz.

  Começamos a fazer várias coisas juntos como uma maneira de nos conhecer melhor. Ele tinha passado a vida inteira cuidando do pai, e eu, tentando ser perfeita para minha mãe. Então, pela primeira vez, escolhemos dedicar um tempo para descobrir juntos quem nós éramos como indivíduos.

  Fomos ao cinema assistir a filmes aos quais jamais teremos assistidos e amamos. Saímos para caminhar, e eu odiei. Tentamos construir um móvel só para dizer que podíamos. (Ele conseguiu, eu não.)

  No entanto, algum dos meus momentos favoritos eram quando estávamos no fundo da The Silent Bookshop, um ao lado do outro, lendo livros diferentes juntos. Era tão fácil ficar em silêncio com ele. O silêncio parecia um lar.

  Meus outros momentos favoritos eram quando estávamos juntos no sofá da casa dele, sem fazer nada, mas conversando sobre nada e sobre tudo.
  Naqueles momentos, eu senti aqui aprendi a mais sobre o homem diante de mim. Eram momentos Breves que eu adorava.

  —eu só aprendi a nadar com 17 anos. Só tive um animal de estimação, um gato a quem deu o nome de rato. Meus dois dentes da frente caíram quando eu levei um tombo de cara no chão durante uma parada de comemoração da fundação da cidade. Consigo entender espanhol, mas não consigo falar nenhuma palavra. Cardeais são os meus pássaros favoritos -falei, contando mais alguns fatos aleatórios.

  Ele se aconchegou mais na almofada do sofá.
  —meu nome foi escolhido como uma homenagem a um artista. Meu nome do meio é Kylle porque este é o primeiro nome dele. Eu quase me apaixonei uma vez quando tinha 19 anos por uma garota que estava de passagem pela cidade. Acho que eu escolhi porque ela não poderia ficar. Eu odeio ervilhas, mas acho que combinam com strogonoff de carne. Sou obcecada por game of thrones e jugo secretamente qualquer pessoa que não seja.

  —confissão: eu nunca assisti a nenhum episódio de game of thrones.

  Seus olhos posaram em mim antes de ele desviá-los.

  Eu ri.
  —pare de fazer isso.

  —parar de fazer o quê?

  —de me julgar em silêncio.

  Ele arqueou uma das sobrancelhas.
  —eu não estou julgando.

  —claro que está! Eu consigo ver nos seus olhos.

  —não. Sério. Eu entendo. Não é sua culpa ser uma pessoa completamente alienada.

  Eu ri e o empurrei.
  —ah, pare com isso.

  —não, eu não transo com gente que não curte o Jon snow.

  Fiquei vermelha ao ouvir aquilo e desejei que ele não percebesse na sala mal iluminada.

  —aposto que você é o tipo de pessoa que nunca viu breaking bad nem the walking dead.

  —com certeza.

  —sons of Anarchy?

  — nunca nem ouvi falar.

  Ele arregalou os olhos.
  —minha nossa, Any! O que exatamente você faz no seu tempo livre?

  Dei um sorriso e encolhi os ombros.
  —sei lá. Eu vivo a minha vida?

  Ele fez uma careta.
  —aposto que você faz crochê para se divertir.

  Fiquei vermelha.

  Ele estreitou os olhos.
  —você faz crochê, não faz?

  Mordi o polegar.
  Eu simplesmente amava fazer crochê.

  —ai, meu Deus. Você é uma velhinha -gemeu ele, batendo com a mão no próprio rosto. —merda, se nossos caminhos vão continuar se cruzando, você tem que assistir a pelo menos alguns episódios de game of thrones. Vou livrar você dessa velhice precoce.

  Eu comecei a rir.
  —bem, se nós vamos assistir a game of thrones vou fazer crochê enquanto assistimos.

  —você não pode fazer isso. Você precisa estar 100% focada no programa. Caso contrário, é só uma perda de tempo. Você não vai saber o que...Any?

  —Hã?

  Ele olhou para baixo, e vi que, de alguma forma, em algum momento, minha mão encontrou a dele e eu entrelacei meus dedos nos dele. Eu tinha me aproximado mais dele e nem tinha notado.

  Puxei minha mão rapidamente e respirei fundo.
  —foi mal -sussurrei.

  —não precisa se desculpar -respondeu ele, aproximando sua mão bem devagar da minha, até seu dedo mínimo roçar no meu. —você sente falta disso, não é? Dos pequenos momentos?

  Fechei os olhos ao sentir o toque.
  —sinto.

  Ele colocou a mão sobre a minha e entrelaçou os dedos nos meus.

  —e disso? -perguntou ele, com a voz grave e suave. —ficar de mãos dadas?

  Respire devagar.

  —sinto.

  Ele se aproximou mais e colocou a outra mão na minha nuca. Seus dedos começaram a massagear lentamente a minha pele, fazendo inclinar um pouco a cabeça.

  —e você sente falta disso?

  Sim...
  Ah, como eu sentia falta daquilo.

  A coxa dele roçou na minha e nossa respiração estava em sintonia.
  Isso... Bem assim... Isso.

  —eu sinto falta disso -confessei, colocando as mãos no peito dele. —Sinto falta de ser tocada, de ser abraçada sem todo o lance de sexo.

  —Entao, se você deixar -começou ele com a voz suave, encostando a testa na minha. A respiração dele acariciava meus lábios enquanto eu mantinha os olhos fechados. —Eu vou ficar agarradinho com você.

  Ele me ergueu nos braços e me colocou em seu colo. Eu o envolvi com as pernas, e ele me abraçou. Eu estava tão perto que minha cabeça pousou no peito dele. Estávamos tão próximos que cada vez que eu respirava, ouvia as batidas do seu coração.

  Uma respiração, uma batida.
  Duas respirações, duas batidas.

  —Josh -sussurrei enquanto seus dedos brincavam com meu cabelo. —posso pedir pra você fazer uma loucura?

  —É só dizer o que você quer.

  —Sera que você pode me levar para o seu quarto e ficar deitado lá comigo e só me abraçar por um tempo?

  Sem dizer mais nada, ele me levantou no colo e seguiu para o quarto, onde me colocou suavemente na cama e se acomodou no meu lado. Ele me puxou para perto e eu me aconcheguei ao seu corpo. Seu calor me envolveu por inteiro e eu inspirei todos os cheiros dele. Josh parecia o meu cobertor favorito, e eu queria ficar agarrada com ele pelo maior tempo possível.

  Não havia nenhum barulho a nossa volta, apenas o som das nossas respirações. Ele aninhou os lábios no meu pescoço e, pela primeira vez em muito tempo, senti que estava exatamente onde deveria estar.

  —Josh? -sussurrei, aproximando-me ainda mais dele. Nós éramos peças de quebra-cabeças diferentes, mesmo assim, nós nos encachávamos de forma perfeita.

  —Hã?

  Respirei fundo e soltei o ar devagar.
  —eu gosto de ouvir as batidas do seu coração.

Shame -BEAUANY (Adaptação)Onde histórias criam vida. Descubra agora