Assassinato

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Cachos a despencar por entre a clavícula
Compunham-lhe em sintonia ao rosear da vossa pele
Corpo curvilíneo tão moldado, despertava o desejo da cópula
Esbanjava vida àqueles cujo em sua vida se atreve

Olhos como polidas jades
Carregavam a ancestralidade e calmaria no olhar
Energia viva a ti, grande vivacidade
Amava-te até sangrar, é claro que cederia teu vivar!

Segurava-lhe a mão
Ansiava por sua atenção
Dançava uma valsa solitária, inequívoco
Quando teu inconsolável corpo bateu no chão, oco

Recoberto de hematomas,
Tua última lágrima desceu-lhe
Por entre os seios caiu, que cena tétrica veio à tona!
E seu último suspirar, ao sentir o álgido piso o rosto afagar-lhe

Acusou em maldade intrínseca,
Pois foi vossa culpa.
Sorrindo por entre falso espanto, proferiu cínica:
Não entendo porquê jaz desnuda!

Quem entenderia?
Perguntei-me ao ter o cômodo invadido.

Você a matou!
Assassinou-a
Esquartejou,
Devorou,
Consumiu-a vagarosa
Ela está morta,
Pois você a matou.
Morreu por ti, não te recordas?
Tuas mãos sujas, nem se lavou.

Exibiu orgulhosa,
O gracioso bordão.
Riu pútrida por entre os dentes, manhosa:
Mastiguei cada pedaço do vosso coração
Saboreei cada gota da genuína emoção
E suguei o que restou do pobre corpo em putrefação

E enquanto ria impune,
Vosso cadáver jazia seco, injusto, incrédulo
Jazia a lembrança do seu olhar iluminado, ah, que ilumine!
Perdidamente apaixonado, encarava-te com estima, vosso cúmulo

Agora o olhar vidrado,
Morava na casca esdrúxula,
Para a surpresa de todos no caso,
Dos lábios pálidos e descarnados, irromperam palavras trêmulas:

É, esse é o fim!
Não há nada mais,
Você me amou;
Você me drenou;
Você me matou;
É o fim.

Noites estreladas, oceanos contra rochasOnde histórias criam vida. Descubra agora