Carta aberta à ti

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Escrevo á você
Neste dia singelo e pouco doce
De nuvens brancas
E meio céu azul com excesso de temperança

Dia sem vento de leve roupa
E os pássaros cantam ao longe
Mastiguei sua partida em minha boca
E engoli a seco, engasgou na falange

Naquele dia, soube que partiria
Observando tua expressão vazia
Olhos garços e distantes
A mala bem feita e pronta já de antes

Quando cheguei para te buscar
Bem trajado em gala
Olhar de conquista em meu portar
Aqui sou eu quem vós fala

Os olhos inchados mas não chorava
A cabeça baixa se meneava
Tu sabias que devia partir
Eu é que não soubera aceitar

Pois o buquê murcho permanece na mesa
Os lírios e narcisos presos numa morte não permitida
A dúvida da tua ausência recheada de esquisita frieza
Cingiu hoje de vermelho esta carta a ti remetida

Fadado a uma espera eterna
Os olhos já cansados sem resquício de espanto
Não se cansam, entretanto
De mirar a janela à tua espera

Não se enganes, sou eu de fato
Que hoje neste dia tão tosco
Escreve-te melancólico.

Com afeto,                     
Eu para Velho-Antigo-Sofrido-Eu, apesar disto, Apenas-Eu

Noites estreladas, oceanos contra rochasOnde histórias criam vida. Descubra agora