— Salut, senhor!
Dan tirou os óculos e ergueu a cabeça para dar atenção ao homem que lhe dirigia a palavra. O velho senhor de cabelos brancos e pele já enrugada ainda servia a família Brassard com total dedicação mesmo depois de 46 anos.
— O que houve, Nicolae?
— Velkan e Vasile estão aqui. Eles pedem uma audiência privada com urgência.
O homem sentado atrás da mesa coçou a barba e soltou uma lufada de ar. Ele esperava poder passar o dia resolvendo as pendências mais burocráticas, porém, seu planejamento foi alterado.
— Diga-os que podem entrar.
Nicolae fez uma pequena reverência e se retirou. Não demorou muito para que um dos visitantes, de estrutura corpulenta e olhos ferozes, entrasse naquele escritório rústico e pouco ensolarado.
— Senhor, encontramo-na na praça e a trouxemos como pediu — Vasile, o homem que perseguia Anelise na livraria, disse.
— Como?
Vasile fez um sinal e o seu irmão, Velkan, entrou com a jovem moça nos braços meio sonolenta, porém, balbuciando algumas palavras. Dan, ao ver a cena, se levantou imediatamente e saiu de trás de sua mesa. Os olhos se atentaram à menina desacordada. Que loucura era aquela?
— Quem ordenou que fizessem isso? — a voz dele saiu mais alta do que o normal. — Por que sequestraram uma garota?
— Senhor, recebemos a carta com a ordem. — Vasile tirou de dentro do casaco um papel amassado com a letra cursiva que descrevia com exatidão o que eles deveriam fazer.
Com certa brutalidade, o chefe deles leu a ordenança e ao finalizar a leitura, amassou o papel e o apertou firmemente com o punho fechado enquanto visualizava aquela moça inocente, que não sabia onde estava.
— Sabe bem como o clã dos Clifford tem afrontado nossa região. Eles não estão brincando. Semana passada mataram dois dos nossos, senhor. Não podíamos deixar isso impune. — Vasile quis justificar o ato.
— E por isso sequestraram alguém que nada tem a ver com isso? — Dan perguntou com tamanha frieza e dureza, que não saberiam discernir qual seu real intento com o questionamento.
— Ela é a filha caçula do Sr. Clifford. Teria algo pior do que saber que sua menina preferida está com o clã rival? — Velkan falou com certa raiva na voz e sem esperar muito deitou a menina no chão.
— Enfim, se não foi o senhor que mandou isso alguém da família o fez. Fizemos nossa parte!
Os dois irmãos se retiraram da sala, deixando apenas Dan e a jovem menina, que começava a dizer palavras com mais clareza. Aos poucos, ele aproximou seus sapatos italianos da moça e observou como ela se virou, ficando bem perto de seus pés.
— Alfredo... Alfredo... — ela dizia e balançava a cabeça de um lado para o outro como se quisesse acordar de um pesadelo. — Toma cuidado! Por favor, não se fira! Alfredooo!
Anelise sentiu uma mão no seu braço e, de imediato, tocou naquele antebraço firme, coberto por algum tecido de textura pouco asperosa.
— Por favor, não me deixe! — ela declarou com o tom choroso e uma lágrima desceu. — Sabe que ainda temos muitos anos para viver um ao lado do outro...
As falas delas se misturavam com o idealismo e o medo, levando o homem que a assistia naquele estado a estreitar o olhar. Ele a tocava, pois queria que acordasse.
— Eu não posso perder você. Não posso — Lise, entre o sonho e a realidade, abraçou com força o antebraço dele.
Ele engoliu em seco e compreendia, de certo modo, o motivo de tudo aquilo. Resolveu tirar o braço, porém, a jovem não o deixou se apartar.
— Por favor, não me deixa! — ela suplicou e mais lágrimas desceram.
Enfim, ele se ajoelhou e observou bem a moça que estava diante de si. Os cabelos cacheados estavam amontoados num coque desalinhado e o suor tinha deixado o rosto dela lustroso, a pele corada e a sobrancelha grossa e farta, porém, bem aparada modelava ainda mais a curvatura do rosto. Com o seu polegar acabou tocando nas lágrimas que desciam sobre a bochecha rosadas e, sem esperar, a viu abrindo os olhos e aquele encontro dos dois foi marcado pelo misto de espanto e pavor que percorreu no mesmo instante que Anelise acordou. Ela deu um salto para atrás.
— Não encoste em mim! Não se aproxime! — Anelise começou a se arrastar para longe dele.
Dan ficou intrigado com tamanha reviravolta de acontecimentos. Uma hora a menina o prendia entre os braços e agora procurava estar o mais longe possível. Ele se levantou sério.
Anelise virava a cabeça de um lado para o outro, procurando se situar naquele lugar desconhecido. Ela apertava os olhos para enxergar melhor, porém a cabeça dava sinais de dor e a mistura de sensação do medo e terror dominava seus membros a ponto de não deixá-la tomar uma atitude concreta e coerente. Ela fitou o homem de alta estatura e postura estoica a olhando com curiosidade, como se fosse um animal de circo.
— Quem é você? Que lugar é esse? Por que eu estou aqui? — Ela não perdeu tempo em perguntar.
As mãos dele foram parar dentro dos bolsos da calça social. E continuou com a sua atitude de somente a encarar e não lhe deu resposta nenhuma.
— Por que você não me responde? Por algum acaso é surdo ou mudo?
Ele não concedeu resposta. Anelise se aborrecia pelo modo de agir daquele completo desconhecido. Seria ela alguma atração especial? Ou o olhar dele era apenas um sinal de uma mente que trabalhava assiduamente em fazer atos criminosos, esse último pensamento a apavorou.
— Vamos! Diga alguma coisa!
Para o completo desgosto dela, tudo que ele fez foi virar as costas e ir para atrás de sua mesa dar um telefonema. Anelise o ouviu falar em romeno bem rápido e, após alguns minutos, disse o ouviu dizer:
— Cião!
Ah! Então ele sabia sim falar. A intenção de fato era não conversar com ela, ou talvez não dissesse nada em inglês, que era a única língua a qual sabia além do português. Anelise passou a mão entre os cabelos e agora não somente a raiva predominava, no entanto, uma tristeza profunda tomou conta de seu coração, mente e espírito, fazendo-a pratear com sincera dor. Os sentimentos ferozes e melancólicos se entrelaçavam a fazendo sentir um intenso estresse emocional.
Dan foi pego de surpresa com aquela súbita mudança de emoções. Uma hora ela delirava, depois rosnava raivosa e, por fim, chorava como uma garotinha abandonada no parque. Ele não sabia proceder nesses casos de desespero feminino por isso permaneceu estático, ponderou que a deixando livre para chorar estaria lhe dando um benefício.
Não passou 10 minutos quando uma mulher, com um véu azul sobre o cabelo, entrou no escritório. Ela sorriu para Dan até ele acenar para o lado indicando a garota. A moça se aproximou da menina e estendeu a mão, a qual Lise não segurou. Mas em seguida viu um sorriso de compaixão da jovem que a chamava para algum lugar.
— Vamos, eu daria água para beber e uma comida.
— Não quero comer nada e nem beber. Somente que me deixem ir embora. — Anelise fitou o homem à distância. — Se não me soltar eu fugirei. Esteja certo disso!
Tudo que ela recebeu foi um franzir de cenho dele, o que a fez fervilhar de raiva.
— Até para fugir precisa estar alimentada. Vamos comigo.
A desconhecida estendeu a mão e a fez levantar dali. Lise percebeu como seu raciocínio estava confuso e as pernas ainda estavam tontas, porém, a mulher a segurou com firmeza. Ela saiu da sala e, antes que a porta se fechasse, visualizou mais uma vez aquele olhar frio do homem.
Ela caminhou por aquele lugar cujas paredes eram cobertas por pedras largas e ao contemplar através de uma janela de vidro o astro luminoso do sol se entristeceu profundamente. Deus. Aonde ele estava? Por que havia permitido uma coisa daquela acontecer na sua vida?
🦢
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Se Ficares Aqui
RomanceLonge do seu país, Anelise vê seu mundo ir ao chão quando é sequestrada pelo clã Brassard. Ela tenta de todas as formas fugir, porém seus planos são frustrados. E o único lugar em quem buscará segurança é no homem que deveria odiar. Mas muitos acont...