VINTE

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Esposa?

Era isso mesmo que tinha acabado de ouvir?

Anelise piscou algumas vezes e parecia não ter entendido direito. Entre todas as suas ideias de libertação, nunca pensou que seria por meio de um casamento com Dan Brassard. Não, aquilo não estava certo. Sua surpresa foi tanta diante da situação que permaneceu calada e somente escutou o que Dan procurava explicar.

— A Magna Carta descreve que podem ser livres de condenação de morte aqueles que se tornam parte do sangue do próprio clã através de laços matrimoniais e filiais. — As palavras dele não pareciam fazer muito sentido para a jovem. — Uma vez que se torna um com o Kafa, não se pode matar, pois ela é carne de sua carne e sangue de seu sangue.

A força da frase impactou Anelise, sentindo todo seu corpo estremecer diante da possibilidade de se casar. Era uma mistura de terror, temor e esperança. Ao menos tinha uma chance, mas aceitar aquilo era também perder sua liberdade.

— Como assim você irá casar com a Ane? — A voz de Martin reverberou por toda a cozinha e despertou a jovem de seu estado de tupor.

Dan, que tinha seus olhos atentos nas expressões de Anelise, direcionou-se ao amigo e franziu o cenho.

— Acredito que você entende a gravidade da situação, Martin — o líder expressou com seriedade.

— Eu propus uma ideia de casamento e você disse que era inútil. — Martin formou uma carranca no rosto e aquela informação fez Anelise olhá-lo espantada.

O Kafa deu uns passos para frente e o fitou bem.

— Um casamento com você realmente é inútil. Mas eu não sou você. E neste clã, depois de mim não há outro. Então sendo minha esposa ninguém poderá tocá-la! — A gravidade evidenciada na voz de Dan deixou a todos surpresos.

Grace poucas vezes tinha visto o chefe tão enfático nas palavras. Ele buscava sempre ser manso no trato, e nunca impor sua autoridade, porém havia situações, como aquela, que o levavam a mostrar seu poder de maneira a colocar cada pessoa em seu devido lugar. Dan Brassard não era o tipo de homem que se deixava ser manipulado apesar de sua mansidão em muitos momentos.

Martin ficou calado depois da resposta e nunca imaginou que aquela seria a resolução do problema. Ele olhou para Anelise, que permanecia calada, porém seu coração pesou a pensar que nunca mais pudesse ter uma chance com a jovem a quem tanto se interessou.

— Eu espero que compreenda a situação — Dan falou para Anelise, que o fitou.

Ela se levantou do banco e um pouco tonta disse:

— Sinceramente, eu não sei o que pensar sobre isso. — Ela passou a mão na têmpora. — Eu... Eu... Preciso ir para o meu quarto.

Dan queria resolver aquela situação, mas compreendeu o estado de alma da jovem. Ele lhe daria um tempo. Depois que Anelise saiu, ficou somente os três.

— Grace, eu vou me limpar e organizar umas coisas. Dentro de uma hora, leve Anelise em meu escritório.

A empregada assentiu e o patrão ia saindo, mas a voz de Martin ressoou no ambiente. 

— E se ela não quiser casar com você? Não vai poder obrigá-la, não é?

Dan se virou para o amigo e disse:

— Não me parece que você gosta da Anelise, mas simplesmente deseja satisfazer seu desejo. — O líder colocou as mãos nos bolsos da calça. — Sabe, Martin, quem ama deseja o bem da pessoa. Ainda que para isso precise abrir mão. Você é cristão e sabe sobre sacrifícios. — Dan saiu da cozinha, deixando para trás um jovem decepcionado.

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