DEZESSETE

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Desde a conversa da manhã com Anelise, Grace ficou pensativa com os rumos que o coração da menina estava se dirigindo: mágoa e raiva. Ela não julgaria esses sentimentos, apesar de entender que eram errados, mas sabia que a juventude e a decepção atrapalhavam a visão sobre as circunstâncias e a fé também. E após muito pensar, teve uma ideia simples, porém que esperava ajudar.

— Posso falar um instante, Dan? — Grace indagou ao entrar no escritório do patrão, que se encontrava trabalhando em meio a muitos papéis.

— O que deseja? — Ele não levantou o olhar.

— Quero relatar sobre como as emoções da jovem Anelise estão muito depressivas. É triste demais a situação dela.

A leve emoção demonstrada na fala da empregada, fizeram com que Dan a olhasse de imediato. Ele sabia como a menina a cada dia se afundava em lamentação, e até desejou, de certo modo, que a amizade com Grace e Martin ajudassem no humor.

— Creio que se não intervirmos, a alma dela perecerá antes do seu dia determinado. — A voz de Grace embargou naquele momento. Ela não podia imaginar aquilo realmente se realizando. — Dan, não há nada a ser feito para libertá-la?

O líder do clã tirou os óculos do rosto e passou os dedos sobre as pálpebras cansadas.

— Até o momento, não. — Sua voz era seca, mas seu interior parecia um mar tempestuoso.

Grace baixou o olhar e entrelaçou os dedos frente ao corpo. Que destino cruel e implacável.

— Posso fazer ao menos algo para alegrá-la, senhor? Esperava que um passeio ou algo assim pudesse ajudar. — A ideia da funcionária despertou a curiosidade de Dan. —  Fiz uma lista de alguns filmes e acho que poderia ser bom para a Ane. Sair um pouco daqui e ver algum lançamento novo pode distrai-la.

— Sabe bem que Anelise não pode ter contato com pessoas de fora, pois senão acabaria fugindo e pedindo socorro, enfiando mais pessoas nisso tudo. Ela não mede as consequências de suas ações — Dan declarou.

— Ela não mede porque nem mesmo sabe quais são as consequências. — Grace expressou com coragem, e Dan a encarou. Sua amizade de infância permitia certa liberdade. — Você pode ter se esquecido, mas o clã Brassard obtém direito a um dos cinemas da cidade e podemos usá-lo. Se me permitir, posso pedir um sessão única e exclusiva.

— Está certo, Grace, faça isso então. E obrigado por ajudá-la. — Dan sorriu de leve.

Apesar de todo o emblema que envolvia a jovem, ele desejava ainda encontrar uma solução para livrá-la daquela condenação, contudo o livro de tradições não havia ajudado em nada.

— Creio até que poderia nos acompanhar, Dan, pois anda tão cansado. — Grace surpreendeu o líder do clã com seu convite inesperado. Ela observava compadecida a difícil batalha do amigo naquele clã por anos. — Tenha uma boa tarde.

A jovem empregada se retirou, deixando o homem pensativo para trás. Ela correu para o quarto de Anelise, dando com alegria a notícia de que iriam ao cinema.

— É mesmo? — Anelise nem poderia acreditar que sairia daquele lugar por um momento.

A expectativa de espairecer e ver pessoas, acabaram criando um certo alívio no seu coração.

— Mas não vão nos perseguir por causa disso? — Ao lembrar de como foi interceptada na sua fuga, acabou desanimando.

— Eu conversei com o Sr. Brassard e foi feito um acordo entre nós. Eu cuidarei de você. — Grace guardava o modo informal de se dirigir a Dan para quando podia, afinal, ele ainda era seu chefe.

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