DEZOITO

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Dois dias depois.

Narcís chegou à casa de Dan por volta do horário de almoço, e foi recebido por Nicolae, o mordomo, sendo guiado até o escritório do seu Kafa.

— Salut, primo! — Narcís exclamou com toda sua sagacidade.

Dan, que estava perto da janela, perscrutando algo do lado de fora, se virou em confusão e questionou qual o objetivo da inesperada visita.

— Ora, não temos um "tudo bem"? Ou "como vai, querido primo"? Mas eu o perdoo. — A ousadia era manifestada com muita ironia. — E apesar de não perguntar, eu estou bem e acabei de voltar de viagem, trazendo notícias de que nossas empresas estão muito bem e saudáveis na Alemanha.

— Que bom. — Foram as palavras secas de Dan, que se virou para o primo com as mãos nos bolsos.

— Vim visitar meu tio também. Acredito que podemos almoçar juntos e eu possa contar todas as novidades. — Narcís tinha um sorriso que Dan jamais confiou. — Então vamos, Kafa? Ou pretende morrer de fome?

Dan assentiu e acabou saindo primeiro que Narcís do escritório. Dessa forma, antes de partir dali, ele se aproximou da janela em que o primo outrora estava e, para sua surpresa, avistou Anelise sentada em um dos bancos de madeira do jardim. Ele franziu o cenho para aquilo e ponderou sobre algumas coisas.

Após o almoço, Narcís deu uma desculpa de estar cansado e pediu um quarto para descansar. Ele repousaria de fato, mas não sem antes obter algumas informações importantes com um dos seguranças do casarão. Como fazia parte da família, nenhum dos homens fazia vista grossa para guardar segredos em troca de alguns centavos.

Já era fim de tarde, quando Narcís levantou de seu sono e limpou seu rosto, colocando um sorriso sagaz no rosto em seguida. Ao sair do aposento, observou como tudo estava silencioso e caminhou até o lago que ficava atrás do casarão. Esperava encontrar certo alguém do qual havia tomado informação.

— Tirando Martin e Grace, você é o único amigo que tenho aqui, Sr. Donald. — Anelise jogava pedaços de biscoitos para o pato que havia adotado no coração.

Estar ali havia se tornado uma rotina. O lago e o jardim eram o único lugar que se sentia bem em estar naquela casa. Eles traziam um ar de refrigério para sua alma exausta.

— Olha, que bonito!

A voz de Narcís invadiu o ambiente e Anelise, que estava sentada na ponta do pier, se colocou de pé na hora. Ela o encarou com uma feição fechada e seu coração começou a acelerar. Mais do que raiva, tinha nojo daquele homem.

— A menina e o pato. Que coisa mais fofa! — Narcís fez um movimento com a mão como se estivesse batendo palma, e foi se aproximando.

Anelise saiu do pier, mas assim que pisou na grama, Narcís já estava à sua frente.

— Que tristeza sua vida, não é? — Ele fez um seblante sério, mas o sorriso de zombaria permanecia nos lábios. — Soube como sua fuga lhe trouxe uma condenação que será executada em breve. E acho bom avisar que nem adianta fugir porque nós sempre encontramos quem quer que seja.

A jovem engoliu em seco e tentava manter uma postura de forte, mas sua fraqueza emocional era mais intensa. Por mais que tentasse escapar, ainda que em pensamentos daquela maldita sentença, sempre vinha um para lhe lembrar que sua vida estava arruinada.

— Mas não posso negar o quanto é terrível perder uma jovem bonita assim. — Anelise não conseguiu acreditar no que estava ouvindo. Ela engoliu em seco o nó que se formou na garganta. — Veja só esses cabelos volumosos e rebeldes como a dona, mas os olhos são... — Ele estendeu a mão para tocá-la, mas Lise, de ímpeto, acertou um tapa nela, afastando-o. Porém, isso só serviu para instigar mais o homem. — Você é tão atrevida, menina! Quem você pensa que é?

Se Ficares AquiOnde histórias criam vida. Descubra agora