CATORZE

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Os dias na mansão dos Brassard pareciam não passar. Anelise, em seu quarto, sentiu como se o tempo tivesse parado. A dor invadiu o seu peito de modo que a paralisou e ela não mais fazia questão de sair do cômodo. Desde o dia que foi trazida à força para aquele lugar, o brilho em seus olhos se dissipou e as lágrimas eram suas companheiras diárias.

Toda a sua esperança estava depositada na certeza de sua liberdade, algo que ela não poderia mais ter. O que faria agora? Como poderia passar o resto de sua vida submetida àquela gente que a fizeram tanto mal?

Ao lembrar de todas as pessoas queridas que conheceu durante sua vida, da igreja que a acolheu, dos amigos que ficaram para trás, a tristeza em seu peito aumentava. A janela do quarto permitia uma bela visão da paisagem, mas o olhar da moça estava perdido no horizonte. O pôr-do-sol, que outrora trazia imensa satisfação e prazer em ser apreciado, havia perdido a sua beleza.

Lise se sentia completamente sozinha, abandonada, desamparada. Sua alma não tinha paz e seu rosto só continha a expressão de sofrimento. Olheiras marcantes, palidez, os cabelos bagunçados e o corpo totalmente sem forças para se mover dali.

— Por que, meu Deus? Eu não aguento mais — sussurrou, entre as lágrimas que caiam de seu rosto. — Eu tinha uma vida toda pela frente. Tinha pessoas que me amavam, me apoiavam, estavam ao meu lado e queriam o meu bem, mas agora estou sozinha e perdi tudo! Por que permitiu isso em minha vida?

Enquanto trazia suas lamentações à tona, a jovem ouviu alguém bater na porta do quarto por duas vezes.

— Anelise, por favor, abre essa porta. — A voz era de Grace. — Você não pode ficar assim. Me deixa entrar para conversarmos. — As batidas persistiram por mais alguns minutos, mas logo cessaram.

Sem dar nenhuma resposta, a moça continuou na mesma posição que estava e ignorou totalmente a tentativa de contato realizada. Sua condição se igualava a alguém que estava anestesiado. Suas forças se esvaíram totalmente do corpo e o modo automático estava ativado. Era de sua vontade não ver ninguém. Será que até isso não seria respeitado? Perder a liberdade não era suficiente?

As refeições eram trazidas todos os dias por Grace ou por sua mãe, Magda, ao quarto. A governanta se compadecia da situação deplorável da jovem. Poucas foram as vezes que Lise se alimentou. Seu apetite havia ido embora junto de sua alegria. Nada mais importava. Afinal, sua vida já estava com os dias contados mesmo.

O coração estava despedaçado. As mãos trêmulas por conta da fraqueza e a má alimentação evidenciavam o mal estado físico dela. Não havia nada que pudesse fazer naquela situação, a única alternativa vista por Anelise foi se entregar ao seu sofrimento e foi o que fez.

Os pensamentos conturbados a faziam questionar se Deus realmente estava com ela. Aliás, naquela altura do campeonato, a certeza de que tinha sido abandonada já estava confirmada. O sentimento em seu peito era igual ao descrito no salmo 10, versículo 01: “Por que estás ao longe, Senhor? Por que te escondes nos tempos de angústia?”

A noite chegou e as densas trevas do céu refletiam o estado que se encontrava o seu coração: totalmente obscurecido pela falta de esperança e perspectiva de futuro, além da solidão constante.

— Anelise…Anelise — Ao abrir os olhos, a jovem percebeu a presença de Grace no quarto ao seu lado.

Lise havia adormecido na beira da cama. Não se recordava de como parou ali, mas não teve muito tempo para se situar, pois Grace a estava amparando para que sentasse. A empregada tinha a chave extra, mas até então havia respeitado o afastamento da jovem, mas ao perceber como a menina se matava aos poucos não teve como ignorar e assim entrou em seu quarto.

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