VINTE E DOIS

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Alfredo piscou algumas vezes porque parecia não ter escutado devidamente. A sua expressão era de perplexidade. Não, aquilo não era possível. Ele passou a mão entre os cabelos e respirou fundo umas três vezes, procurando as palavras que tinham sumido de sua consciência. Todavia, quando o pastor tocou no seu ombro, foi como se o espírito tivesse voltado para o corpo.

— Esposo? — Sua fala saiu trêmula. — O quê? Do que está falando, Lise? — Então ele parou de olhá-la e se direcionou com fúria para Dan. — O que você fez com ela, seu desgraçado? — E avançou em direção ao homem.

— Alfredo, não faça isso! — Anelise se meteu no meio e acabou sendo acertada pelo cotovelo do amigo, sendo jogada em direção as cadeiras que caíram no chão com o impacto bruto dos homens. 

Dan viu sua noiva jogada no piso e com o rosto vermelho da batida que levou, fazendo com que sua passividade terminasse naquele mesmo instante.

— Anelise, eu não...

Alfredo ia se abaixar para ajudar, mas Dan não permitiu, antes o puxou pela camiseta e o segurou com as duas mãos, levando-o longe de Anelise, e fazendo as costas do jovem bater numa estante e assim todos os livros praticamente caírem ao chão, causando um imenso barulho.

— Já disse para não encostar nela, mizerabil! — Os olhos de Dan cintilavam com a ira no peito.

O pastor não sabia se ajudava a jovem caída, ou apartava os dois homens. Mas optou em conter a violência que começava a ser instaurada naquele lugar.

— Separem-se os dois! — disse com um tom de voz rígido. — Vocês estão na igreja e eu exijo respeito. Ou tomarei outras providências que nos causarão problemas dez vezes piores, porém não terei outra saída.

Dan e Alfredo ainda se olhavam com nítida raiva, e a força do Kafa era tamanha que o jovem não conseguia se desprender e apesar de estar vermelho e se sentindo sufocado, o orgulho não o deixava transparecer sua dor.

— Meu ombro... — Lise rompeu aquela situação. — Está doendo muito. — Ela tentou se levantar.

Foi a voz fraca da jovem que fez Dan soltar o rapaz, e quando o largou, o jovem caiu sobre os livros e sentiu suas costas baterem. Sem muito pensar, Dan retornou para Lise caída, cujas lágrimas nos olhos demonstravam a imensa dor.

— Onde dói? — Dan perguntou e Anelise mostrou o ombro esquerdo que tinha sofrido uma luxação.

— Se eu mexer dói muito. — Ela olhou para Dan e uma lágrima escorreu, o que fez o coração do Kafa se encher de mais raiva de Alfredo e ao mesmo tempo de uma profunda preocupação com a jovem.

— Venha comigo. — Dan a pegou no colo sem muito esforço e ela somente aceitou a ajuda.

O líder do clã já saía da sala com Lise, quando o som da voz de Alfredo vindo atrás foi ouvido:

— Anelise, Anelise, me perdoa. Não queria machucar você. Sabe que eu nunca faria isso. — Ele estava correndo atrás de Dan.

O homem não dava atenção ao rapaz, seguindo a passos firmes, e Anelise só conseguia chorar com a dor que percorria todo seu corpo. Mas era fato que ela amava o amigo e não desejava que se sentisse culpado. Então, por cima do ombro de Dan, apenas esboçou um sorriso que não chegou ao olhos.

Assim que chegaram perto do carro, Dan ordenou aos seguranças:

— Não o deixem passar!

Com cuidado, colocou Anelise na parte de trás do carro e foi entrando, Alfredo saiu também da igreja, mas dois grandes homens de ternos se colocaram na frente dele.

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