Anelise acordou um pouco trêmula no meio da noite, então logo ouviu um ruído alto sobre o teto. Ela procurou abrir melhor os olhos para se situar e notou como uma chuva forte caía na cidade de Romanov. Aos poucos ela se sentou na cama e colocou os pés no chão, esticou as costas e os braços, sentindo novamente a estabilidade do próprio corpo, sensação essa que não possuía há dias, embora ainda sentisse seus músculos doloridos por tudo que passou.
Ela passou a mão na garganta e percebeu como estava seca. Levantando-se daquela cama, colocou os chinelos e caminhou rumo a janela, observando mais uma vez a chuva torrencial que se derramava sobre as colinas de onde estava. Olhou para si e agradeceu por Grace ter lhe dado um pijama quentinho, podendo tirar as roupas sujas do esgotante trabalho que fez. A jovem também a deu produtos de higiene e mais algumas peças simples de roupa. Voltando aos seus pensamentos conturbados, Anelise sentiu seu coração apertar no peito ao refletir em como todos seus conhecidos poderiam se encontrar com seu sumiço. Só queria ir embora dali. Sem querer, deu umas tossidas e resolveu ir atrás de água fresca para saciar sua sede.
Anelise saiu do quarto com uma pequena lanterna em mãos, que achou dentro de uma das gavetas do móvel perto da sua cama. Ela começou a andar por entre os corredores daquele casarão. Quanto mais caminhava somente conseguia ouvir o barulho dos seus próprios passos ecoando, sentindo um terrível arrepio dentro de si. Ela procurou ir mais rápido em direção a cozinha, dando-se conta de que ao menos para uma coisa serviu seus dias de empregada: agora conhecia bem os cômodos principais da casa.
No decorrer do caminho, ela reparou em como uma das portas daquele corredor estava aberta e, com sua curiosidade falando mais alto, se encaminhou e a abriu mais encontrando diante de si um pequeno escritório. Ela levantou mais a lanterna na altura dos olhos para averiguar melhor o local e arregalou suas ìris castanhas ao ver o relógio grande e redondo apontando às 2h50m da manhã.
"Nossa!" pensou.
Sinceramente, não deveria estar andando por aquele lugar tão escuro e sozinha. Porém, antes que pudesse dar a volta, encontrou aquele objeto que brilhou para ela como se fosse ouro: um telefone. Lise correu em direção a ele e sem demora discou o número de Alfredo, que sabia de cor. O número chamou umas três vezes.
— Vamos, Alfredo, atenda esse celular! — Anelise exclamou baixo, e olhando ao redor para checar se ninguém se aproximava.
"Claro que ninguém vai se aproximar, sua louca! A essa hora todos estão dormindo." Ela se contentou com o acalento dos próprios pensamentos.
Plimmm! Plimmmm! O telefone chamou e caiu. Ninguém atendeu.
Anelise apertou os olhos, sentindo uma pequena raiva nascer. Por que aquele menino não atendia o telefone? No entanto, por um momento seu rosto ficou lívido diante do pensamento que lhe ocorreu: Alfredo poderia estar morto e por isso não atendia. Com o coração acelerado, ela discou novamente o número e esperou a chamada. De repente, uma voz rouca declarou do outro lado da linha:
— Alô?
— Alfredo! Alfredo, sou eu Anelise!
— O quê? Quem? Anelise! — Finalmente a voz dele se estabeleceu e os neurônios voltaram a funcionar. — Meu Deus! Anelise, procuramos você por toda a parte. Onde está? Me conta que vou buscá-la agora!
Anelise quis chorar ao ouvir a voz de seu amigo no telefone. O aconchego que ele lhe trazia era realmente algo que somente uma amizade verdadeira poderia demonstrar. Sem falar que era muito bom ouvir uma voz familiar depois de todo o horror que passou.
— Alfredo, me escuta!
— Não, me diga agora onde você está! — ele exclamou. — Anelise, você sabe por quantas noites tenho orado a Deus para ao menos ouvir sua voz novamente e saber que estava viva?
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Se Ficares Aqui
RomanceLonge do seu país, Anelise vê seu mundo ir ao chão quando é sequestrada pelo clã Brassard. Ela tenta de todas as formas fugir, porém seus planos são frustrados. E o único lugar em quem buscará segurança é no homem que deveria odiar. Mas muitos acont...