CINCO

228 43 52
                                    

Duas semanas se passaram, Anelise nem sabia dizer como sobreviveu àqueles que eram como uma tortura. Seu corpo já tinha dado todos os sinais possíveis de que não aguentaria muito mais aquela situação. Ela implorava por um milagre, embora sem fé. Já que seu coração estava dolorido com o Senhor.

— Ai, Deus! Já não fui bastante sorteada durante a vida? Ser sequestrada e virar escrava nunca passou pela minha cabeça, nem nos meus piores pesadelos — ela expressou apoiando seu braço na vassoura, enquanto olhava para o teto do banheiro que acabara de limpar.

Seus olhos encheram-se de lágrimas grossas, caindo como cachoeiras. Estava se sentindo sem vida. Não tinha mais sonhos e nem mesmo esperança. Haveria socorro para aquela situação?

"Porque eu, o Senhor teu Deus, te tomo pela tua mão direita; e te digo: Não temas, eu te ajudo."

Aquele versículo de Isaías 41:13 ressoou tão forte em seu coração que Lise abriu os olhos, sentindo como se uma voz branda e forte saisse de dentro de si. Mas, como? Não tinha forças nem de orar mais. Deus estava a consolando? Ela creu que sim e mesmo ainda duvidando, agradeceu em meio a um suspiro pelo lampejo de fé que sua alma experimentou naquele instante.

Logo após, ela guardou as coisas e saiu do banheiro, vendo o quão impecável ficou. Nunca foi preguiçosa, sabia fazer de tudo em serviços domésticos, mas o tamanho daquela casa não era para apenas uma pessoa dar conta. Constatou como a tortura  daquela mulher a estava atingindo seu êxito. Pensando nisso, logo viu a dona de seus pensamentos aparecer em sua frente, enquanto se encaminhava a cozinha para tentar comer algo. Nem Grace ela tinha visto naqueles dias e sentia saudades da jovem acolhedora.

— Vejo que terminou, garota! — Georgia proferiu com todo o escárnio que poderia empregar em sua voz. — Vamos! — ordenou e saiu andando à frente.

— Para onde? Eu já terminei tudo que a senhora pediu! — Anelise retrucou em tom baixo, nem sua voz tinha o mesmo vigor de antes. — Preciso descansar.

— Você vai ajudar servir o jantar hoje, depois pode ir pro seu quarto. Sem preguiça, vamos! — Sem dar espaço para discussões, a megera saiu andando a passos duros e imponentes, sendo seguida por uma Anelise que mal estava aguentando o peso do seu próprio corpo.

Chegando à cozinha, a primeira coisa que Grace observou foi o estado deplorável que a garota se encontrava. Seus cabelos estavam num coque desalinhado, suas roupas com partes molhadas e sujas, além de um avental que comprovava o trabalho pesado que fez durante todo o dia. Foi inevitável não se compadecer, pois, certamente, uma moça tão jovem não deveria está passando por aquilo. Ela queria ter conseguido fazer algo, mas Georgia a proibiu de se aproximar de Anelise, pois disse que ela mesma cuidaria da "prisioneira". Entretanto, deveria ter imaginado o modo que ela faria isso, sendo tão fria e maldosa.

— Querida, você está bem? — Grace perguntou assim que Georgia saiu da cozinha, depois de avisar que ela teria ajuda para servir o jantar.

Grace trabalhava como uma governanta na mansão, sendo sua mãe a cozinheira. À noite, como só ficava elas de funcionárias na casa, ficavam responsáveis pelo jantar e qualquer outra coisa que precisassem. 

— Posso beber água? — Anelise indagou de volta, preservando suas mínimas forças para falar o que importava.

Rapidamente, Grace lhe deu um grande copo d'água, aliviando um pouco a chata dor de garganta que já começava a apontar. Pensou que não demoraria para ter mais uma de suas crises de rinite.

— Você mal se aguenta em pé, Ane! Não saia daqui, vou servir o jantar e venho para te levar ao quarto. Dan saberá da maldade que fizeram com você! — Grace disse e saiu levando algumas bandejas com os pratos do jantar, sendo seguida por sua mãe, que olhou com comiseração para a menina.

Se Ficares Aqui Onde histórias criam vida. Descubra agora