Anelise não quis comer nada, apenas bebeu um copo de água, que terminava de tomar acalmando um pouco as batidas do seu coração. Logo Dan, com sua postura imponente, chegou à cozinha, lugar para onde ela foi levada pela mulher.
— Vamos! — Ele apenas deu um maneio de cabeça para a garota levantar e segui-lo. Porém, ela não obedeceu, fazendo-o se virar em sua direção com uma expressão confusa.
— Vamos aonde? — ela perguntou, com os olhos assustados. Embora tentasse raciocinar, nada vinha a sua mente sobre o porquê de estar ali.
A mulher que a levou, que se apresentou como Grace, apenas olhava o diálogo estranho dos dois atentamente.
— Apenas siga-me, sem fazer perguntas. — Dan se virou e, dessa vez, saiu decidido do local.
Anelise olhou aquela estranha, que foi amável consigo, sem saber o que fazer. Então, Grace apenas assentiu com um pequeno sorriso para que ela obedecesse.
Ainda desconfiada e alerta, ela se levantou e partiu atrás do homem que nem o nome sabia. Em um determinado momento, passando pelos vários corredores daquela mansão, Anelise perguntou:
— Será que você pode se dignar a dizer para onde está me levando? — Embora assustada, seu temperamento pouco paciente deu as caras e a confusão com tudo o que houve a fazia se sentir como uma bomba relógio.
Dan se virou após dar um suspiro, encarando a garota.
— Estou te levando ao seu quarto! — disse, sem mais delongas.
— Qual quarto? Eu quero sair daqui! — Lise exprimiu impaciente e acabou tropeçando pela visão turva.
Dan a segurou pelo braço, mas logo ela retirou se afastando. Ele respirou fundo e disse:
— Escute com atenção o que vou te dizer, menina.
— Eu tenho nome, seu mafioso! — rebateu, não sabendo porquê de estar agindo daquela forma numa situação tão perigosa, mas quando percebeu sua língua grande já tinha falado o que não devia.
A verdade era que tudo aquilo estava fazendo seu nível de estresse subir rapidamente, e quando ficava assim não conseguia medir as consequências dos seus atos.
— Para quem estava chorando de medo há alguns minutos atrás, você está muito atrevida — proferiu Dan, arqueando as sobrancelhas para a audácia da garota.
Ela arregalou os olhos em temor. O que estava pensando? Olhou o tamanho daquele homem perto dela. Ele poderia esmagá-la como uma formiga. Sem falar que estavam sozinhos naqueles corredores longos, com paredes em tons frios, que só lhe davam mais medo.
"Fala alguma coisa, Anelise. Quem sabe se você mostrar coragem, consegue ser liberta! Sem falar que você pode ser bem chata quando quer. Basta provocá-lo. Resistir ao diabo e ele fugirá de vós, é isso!"
— Não tenho medo de você! — respondeu morrendo de medo, porém empertigando o pescoço para passar segurança.
— Ah, é? — Dan se aproximou, colocando as mãos no bolso enquanto encarava a menina em desafio.
A cada passo para frente que ele dava, Anelise dava dois para trás. No entanto, um passo do homem era dois do dela e em pouco tempo já estava sem saída, encostada na parede fria com ele à sua frente.
— S-sim! — ela pronunciou em um fio de voz, sentindo sua garganta secar e travar.
Ele estava a uns passos decorosos dela, mas ainda assim perto demais para a moça conseguir ver seus olhos âmbar brilharem desafiadoramente, através das lentes que usava. De repente, ele se afastou e a jovem conseguiu respirar aliviada. Ele não tinha a intenção de assustá-la, também estava tão incrédulo com a situação, porém a garota estava explorando suas atitudes mais incomuns. Seu rosto vermelho e expressão amedrontada, embora audaciosa, o fizeram recuar em aterroriza-la ainda mais.
— Então, qual é o seu nome? — ele indagou, ainda com as mãos no bolso numa posição segura.
— A-Anelise! — Dando-se conta do que disse, ela colocou as mãos na boca em surpresa.
Ela então começou a falar em português para si própria.
— Anelise, sua burra, como diz seu nome a um estranho? Tia Sandra sempre me disse que minha língua grande podia me meter em encrenca. Vai que ele coloque meu nome envolvido em algum crime? Diferente do Brasil, aqui tem leis duras que podem me fritar e empanar dentro de uma grade — falou consigo, batendo fortemente a mão na testa, dando um estralo tão alto que fez Dan se surpreender com o jeito desajeitado da garota. No entanto, ele não entendeu nada de sua fala.
— Olha, como eu ia dizendo quando você me interrompeu — o homem interrompeu o diálogo dela com ela mesma —, enquanto eu não resolver essa situação você precisa ficar no quarto. Estão todos com raiva e podem descontar em você, entendeu? — completou, observando ela assentir em meio aos olhos arregalados, que cada vez cresciam mais com sua fala.
Dan soltou um longo suspiro e continuou a andar pelo corredor, dessa vez sendo seguido por uma Anelise calada e envolta em pensamentos conturbados.
— Chegamos! — Ele abriu a porta do quarto. — Não é muito grande, mas creio que você ficará confortável. — Mesmo sem nenhuma reclamação da menina, quis explicar: — É o quarto mais escondido da casa, então vai ser melhor pra... — Coçou a garganta e desviou os olhos dela — sua segurança.
Dan deu espaço e a moça entrou no cômodo, visualizando uma cama de solteiro larga no canto do quarto, com um guarda-roupa de três portas logo em frente, uma pequena penteadeira na outra extremidade do aposento e, entre eles, uma porta lateral que, provavelmente, era um banheiro. Além disso, um grande tapete cobria quase todo o chão do quarto. Todos os móveis eram brancos e a tonalidade creme das paredes dava um ar mais calmo ao ambiente, diferindo da casa que era toda em tons frios e escuros, com divisórias de pedra e portas e janelas de madeira.
A garota sentiu seu coração palpitar em perceber seu destino dali para frente, estava insegura e fragilizada. Ela olhou para o homem presente, que examinava a sua expressão. Será que podia confiar naquele estranho? Até agora não tinha lhe feito nenhum mal e disse que se ficasse no quarto estaria em segurança, então, a estava protegendo? Mas, de quem? Sua mente era um turbilhão de confusões e dúvidas. No momento, tudo que queria era deitar na cama, chorar e dormir, quem sabe quando acordasse veria que tudo foi apenas um pesadelo. Com esse intuito, ela assentiu para Dan e proferiu:
— Está ótimo! E, onde está a chave? — perguntou ao ver que a porta não tinha nada na fechadura.
— Para quê? — ele indagou de volta, confuso.
— Ora! Você acha que vou deixar a porta aberta com um monte de bandido por aí? Eu posso ser doida, mas não burra! — exprimiu colocando uma mão na cintura numa pose séria, enquanto estendia a outra para ele.
Dan queria rir da menina, seus trejeitos eram divertidos e incomuns, mas percebeu que só estava assustada. Por isso, tirou a chave do bolso e colocou em sua mão estendida.
— Então, eu já vou. Ah! — Lembrou de algo. — Não somos bandidos, mocinha. É bom tentar controlar sua língua. Também fique atenta porque mandarei alguém trazer notícias. — Sem mais delongas, saiu e ela trancou a porta.
Com um suspiro, Anelise se jogou de costas sobre a cama e questionou enquanto a primeira lágrima de muitas rolava sobre sua face:
— Pai, por que me abandonaste?
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Se Ficares Aqui
RomanceLonge do seu país, Anelise vê seu mundo ir ao chão quando é sequestrada pelo clã Brassard. Ela tenta de todas as formas fugir, porém seus planos são frustrados. E o único lugar em quem buscará segurança é no homem que deveria odiar. Mas muitos acont...