QUATRO

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Após trancar a porta do quarto, Anelise se virou para aquele espaço pequeno e "aconchegante" e sentiu uma profunda vontade de chorar. Mas ainda que desejasse se derramar em lágrimas, algo a impedia. Ela não saberia discernir se a fúria, a amargura ou a indignação. Porém, o sentimento que a dominava era que não podia se deixar abater. Apesar do leve desespero que demonstrou ainda diante daquele homem desconhecido.

Ela passou a mão no rosto e se sentou na beirada da cama e soltou o ar, pensativa. Depois de levantou e foi até a janela - por sinal com grades - mas notou como estava numa parte alta. O vento era forte e a cidade Romanov parecia pequena demais ao longe. Ela segurou numa das grades e apertou pensando em Alfredo. Ele teria sido socorrido? E o pessoal da igreja estaria a procura dela? Ao menos já tinham sido notificados do ferimento do amigo e do sequestro dela? E as irmãs do abrigo no Brasil? Todas essas coisas a fizeram se encher de raiva e pesar. Por quê? Por que estava vivendo tudo aquilo?

— Meu Senhor, por que permitiu eu viver uma situação dessa?  — indagou ao céu, que estava se tornando escuro.

Lise observou bem aquela condição e a aflição começou a dominar mais. Ela passaria a noite naquele lugar e não tinha para onde fugir. Não ainda. Mas pensaria em alguma coisa. Suas emoções tinham chegado ao pico naquele dia. E diante de toda aquela situação, sentiu o corpo pedir por descanso, mas ela lutou para ficar acordada. Não podia se dar ao luxo de dormir, mas depois de algumas horas o cansaço a venceu.

O dia nem havia nascido direito quando Anelise ouviu alguns barulhos do lado de fora. Ainda mergulhada em seus pensamentos, ela percebeu que a fechadura se movia numa tentativa de abri-la e logo após a tentativa frustrada, são ouvidas fortes batidas.

— Abra essa porta imediatamente! — a voz de uma mulher soando firme e autoritária causou calafrios na moça indefesa. — Vamos! Eu não tenho o dia todo!

Anelise, com medo do que poderia lhe acontecer, paralisou e sentou em posição fetal na cama, esperando que as socos ferozes na porta parassem e isso realmente ocorreu. O silêncio não durou muito tempo, pois surpreendentemente a porta foi aberta, assustando a jovem.

— Por que você não me obedeceu? Você não é surda, pelo que sei. Levante agora! — A tal mulher puxou Anelise pelo braço a forçando a sair de cima da cama. Os olhos dela refletiam o ódio. A raiva dela era palpável.

Análise somente a encarou.

— O que esperar de uma imprestável como você? — Com um tom carregado de escárnio, a mulher de cabelos castanhos e olhos verdes, em uma posição de superioridade apertou ainda mais o braço da moça.

— O que você quer comigo? O que eu te fiz? — Tentando se recompor do susto que a recém-chegada lhe dera, essas foram as únicas palavras que saíram inicialmente da boca de Anelise. — Solte-me! — ela puxou seu braço para si, pois a dor estava latente.

Ao ouvir tais perguntas, um sorriso sarcástico reverberou pelo quarto. Anelise não estava entendendo nada. O que ela queria era sua vida de volta, mas parecia algo impossível.

— Quem sou eu? — A desconhecida arqueou a sobrancelha e estalou a língua no céu da boca. — Sou Geórgia Brassard, filha do Vittorio Brassard, se lembra? — Ela chegou mais perto de Anelise e num tom soturno, declarou: — E não vou facilitar a sua estadia aqui. — Analisou dos pés à cabeça a nova "moradora" da casa.

Lise não compreendia muito bem aquela tom de intimidação. Por Deus! Alguém poderia explicá-la o motivo daquela desgraça? Quem era aquelas pessoas, e por que estava ali? Nunca havia se envolvido com nada fora da lei para ao menos terem um motivo justo para sequestrá-la.

— Eu não quero ficar. Nunca quis, mas fui forçada! —Anelise tentou voltar à postura normal. Levantou sua cabeça e agora as duas estavam de frente uma para a outra. — Me tira desta casa!

Se Ficares AquiOnde histórias criam vida. Descubra agora