Capítulo 9| Teimosia

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§ Lolite Ophelia §

Ω

Tudo o que passei e senti nesse único dia me fez repensar no desejo de querer mais adrenalina na minha vida, talvez eu deveria só agradecer por ainda estar respirando.

Lúcia adentrou no cômodo com o carrinho que havia levado a comida para a sala de jantar, anteriormente. Nele tinha uma tigela cheia de sopa quente, uma colher e uma panela tampada. Sem falar uma palavra, ela se aproxima da cama e se sentou na beira, pegando a colher, mexendo a sopa para esfriar. Enche uma colherada e assopra, levando em direção a minha boca, fico envergonhada, porém não nego e apenas abro a boca, sentindo o delicioso gosto da sopa que descia em direção ao meu estômago vazio. Enquanto Lúcia me alimentava e o médico se segurava para não cair no sono, Eblis segurava o soro, que já estava pela metade, seus olhos voltaram a sua natureza fria e sua preocupação já tinha se esvaido. Termino a sopa e respiro fundo, pela primeira vez no dia minha barriga não estava querendo roncar.

- Estava delicioso. - olho para ela e sorrio.

Em seguida, Lúcia tira a tampa da panela que estava no carrinho e encheu a tigela outra vez, quando vou lhe dizer que não precisava ela me olha com um sorriso inocente e sou incapaz de negar. Novamente ela me alimentou até que a tigela estivesse limpa. Antes que eu pudesse falar algo a tigela já tinha sido enchida, pela terceira vez, suspiro e abro a boca.

Não lembro quando foi a última vez que repeti, normalmente comia apenas uma vez em cada refeição. Força do hábito.

Quando termino de comer e vejo ela tirar a tampa da panela de novo, seguro seu braço e nego com a cabeça.

- Já estou satisfeita. - toco minha barriga. - Se eu comer mais uma tigela, acho que meu estômago explode. - brinco e meu sorriso se desfaz quando vejo seu rosto sério.

Ela não gostou da brincadeira?!

- Lúcia?

- Não fale assim, senhorita Lolite. - junta as sombrancelhas, triste e cabisbaixa. - Você deve se acostumar a comer no mínimo cinco tigelas dessas, se não vai continuar desmaiando pela fraqueza. - ela segura minhas mãos. - Não se limite a quantidade de comida, aqui poderá comer tudo o que quiser, quando quiser. Você pode e deve comer bem.

Fico sem palavras para dizer algo. Eu sequer falei para Lúcia sobre o meu trauma ou sobre o trastorno alimentar, porém suas palavras me atingiram diretamente, como se estivesse ciente sobre o que passei e a dificuldade que sinto para me alimentar, por me disserem que não tenho o direito de comer mais que uma vez peguei o hábito de não repetir, porém suas palavras pareciam um incentivo indireto, dizendo que sou livre para comer. E ela tem razão, sou livre para comer o quanto e o que eu quiser, não estou mais presa naquela casa infernal, não preciso continuar com esses hábitos que eles me fizeram ter.

Abro um sorriso e a puxo para um abraço apertado, sentindo um pouco de dor no braço que tinha sido perfurado, mas ignoro.

- Obrigada, Lúcia. - agradeço.

- Não sei porque está agradecendo, mas fico contente se minhas palavras te alcançaram. - devolve o abraço.

Ela abriu meus olhos e nem sabe disso. - sorrio.

Nos separamos e ela levantou da cama, encarando Eblis, que levantou a sombrancelha.

- O senhor deveria ser mais consciente sobre a situação da senhorita Lolite. - cruza os braços. - Como que pode por pressão em alguém que não estava com boas condições? - esbraveja.

Nas mãos de EblisOnde histórias criam vida. Descubra agora