Capítulo 27 | Cicatrizes

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Lolite Ophelia

《》

- Me diga tudo o que aconteceu. Sem esconder detalhes. - seu tom dizia que isso não foi um pedido, foi uma ordem.

Engoli em seco, vendo minhas mãos começarem a tremer, senti meus olhos se encherem de lágrimas que ameaçavam a querer correr pelo meu rosto.

- Por quê? - perguntei, virando o rosto para o lado, fugindo de seu olhar. - Mesmo se eu te contasse nada mudaria. É passado.

Escutei um suspiro dele.

- Eu quero saber, Lolite. - respondeu, segurando meu queixo com a mão direita e suavemente virando meu rosto para ele.

Estranhamente, ele parecia carinhoso.

- Saber o quê? - perguntei, ainda sem olhar para sua cara.

- Quantos machucados te fizeram, as dores que sentiu, quanto medo teve. - acariciou meu rosto. Ele estava sendo tão atencioso, como se estivesse tocando um objeto de vidro que quebraria a qualquer toque errado. - Quero saber o que sofreu durante o tempo que não estava ao meu lado. - se aproximou mais e ergueu meu queixo para vê-lo.

Eu estava relutante. Nunca falei sobre nada que me aconteceu naquela casa para ninguém. Era meu maior segredo, trauma e vergonha. Vergonha por ter sido incapaz de me defender direito. Puxei o ar e mordi meu lábio, sendo parada por seu dedo, que separou meu dente da minha boca.

Olhei em seus olhos fixamente, encarando aquela cor verde fascinante e apaixonante. Então faço minha decisão. Concordo com a cabeça, confirmando que lhe contarei tudo, com o máximo de detalhes que conseguir falar.

- Eu direi.

Vejo um sorriso pequeno se formar em seus lábios. Uma visão rara.

- Feche seus olhos e conte tudo. - falou acariciando minha bochecha. - Calmamente.

Não sabia o porque dessa insistência de saber o que aconteceu, mas respirei fundo e fechei meus olhos, me concentrando na escuridão da minha mente, preparando meu psicológico.

Estou falando sozinha. Estou falando sozinha... - repetia para mim mesma, tentando me desfazer do nervosismo e do desespero de falar sobre o assunto.

Demorei alguns minutos para começar a contar meu passado traumático e desesperador. Comecei sobre a primeira vez que me trancaram no armário sujo, pequeno e escuro, após ter sido acusada de roubo falsamente, pela minha madrasta.

- Era tudo tão assustador. - disse com a voz trêmula. - Eu estava sozinha. Ninguém escutava minhas rezas por mais que orasse. Todos haviam me abandonado. - terminei, tentando acalmar minha respiração.

- Um. - escutei sua voz rouca ressoar no quarto.

Ameacei a abrir os olhos para vê-lo, mas sua enorme mão cobriu meus olhos me impedindo.

- Não abra. Continue falando apenas. - falou, retirando a mão após eu concordar com a cabeça.

Logo falei sobre como me faziam comer como um animal e sobre o impedimento de me alimentar direito, já que segundo eles eu não merecia comer aquela boa comida deles. E isso tudo resultou me fazendo ganhar distúrbio alimentar. De como me chamavam de rata imunda e se não comesse o lixo que me davam eu iria ser punida fisicamente.

- Meu estômago embrulhava pela fome e quando eu comia acabava vomitando tudo. - mordi levemente meu lábio. - Eu sentia fome, mas era incapaz de comer.

Nas mãos de EblisOnde histórias criam vida. Descubra agora