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Rafaela

Dias depois...

Era surreal e extremamente inesperada a conexão que eu e Marcela tínhamos uma com a outra. De todas as pessoas que eu poderia conhecer e construir uma amizade, eu nunca imaginei que seria a mulher e a irmã de dois dos traficantes mais procurados do país. E o mais incrível nisso tudo, é que foi tão natural que esse fato nunca foi um obstáculo na nossa amizade. Eu tenho certeza que na época, ela jamais precisaria de uma babá pro filho dela, mas ela me chamou, porque viu que eu precisava. Também nunca me envolveu nesse papo todo do marido dela ser traficante e inclusive, até outro dia nunca nem tinha me apresentado o irmão. Hoje, além de minha patroa, ela é uma das minhas melhores amigas e eu confio nela para tudo. 

Pensar nisso tudo me deixa emocionada pra caramba. E fico nessa  vibe enquanto faço o lanche do Lucas, que está na sala assistindo. Decido fazer um café pra mim também, então coloco água pra ferver e preparo o filtro pra poder coar. Saio procurando o pó de café e não consigo encontrar por nada, até que abro um armário em cima da geladeira e vejo o vidro um pouco mais pra dentro dele e é aqui que aborto qualquer chance que eu tinha de tomar meu cafézinho, porque percebo que com meus 1,60m eu jamais iria alcançar aquele pote. Nem que eu colocasse uma cadeira. 

— Quer ajuda? — escuto uma voz grossa atrás de mim e pulo de susto sem coragem de virar pra ver quem tinha conseguido entrar. — Qual foi, maluca? Vai ficar aí parada? — Caveira. Respiro fundo e viro aos poucos, ainda com a mão no peito. 

— Puta que pariu, você quer me matar? — falo ouvindo a risada dele. 

— Quer o que dali? — ele diz ignorando minha pergunta. 

— O café. — sinto ele se aproximar e vou andando pra trás. 

— Se eu quisesse mermo te matar, eu faria isso de outro jeito. — ele diz me entregando o pote de café e todos os meus reflexos e minha sanidade vão pra casa do caralho com esse homem me olhando. Ele é gostoso e ele sabe que é gostoso. 

— Eu espero mesmo, sou muito bonita pra morrer de susto. — respondo quando caio em mim de novo, passando por baixo do braço dele e indo em direção ao fogão. 

— Cadê minha irmã? Vi o Lucas ali na sala sozinho. — ele diz pegando o banco do balcão e sentando. 

— Saiu bem cedo e ainda não chegou, também não me disse onde ia. Só pediu pra eu ficar com o Lucas. — falo dando de ombros e vejo ele balançar a cabeça positivamente.

— Vou ficar com o moleque. — ele sai e eu solto o restante de ar que ainda existia nos meus pulmões. Porra de homem. 

Termino o lanche do Lucas e coloco em um pratinho, abro a geladeira escolhendo um suquinho que ele gosta e levo pra ele que ainda está brincando enquanto passa algum vídeo no youtube e ele conversa sobre com o tio que mexe no celular. 

— Lucas, vem comer. — chamo ele e coloco o lanche na mesa de jantar. A Marcela nunca gostou que ele comesse enquanto assistia. — Você quer alguma coisa? Eu vou fazer um misto pra mim. — pergunto dessa vez olhando pro Caveira. 

— Eu tô suave. Tem alguma parada pra beber aí será? — ele fala levantando do sofá e vindo na minha direção enquanto observo o Lucas sentar na cadeira.

A Primeira Dama do Tráfico Onde histórias criam vida. Descubra agora