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Caveira

Só problema nas costas do vagabundo, pô. Porque também quando eu acho que tá pouco ser traficante, comandar um morro e a porra toda, eu vou lá e arrumo uma mulher que é um problema do tamanho de um caminhão.

Dizer que eu não tenho nada com ela, é putaria, porque porra, essa mulher passou uma semana inteira dormindo comigo no hospital, mesmo tendo quem ir contra, tá ligado? Mas eu também não posso cobrar ela, porque eu não coloquei ela no meu nome. Só que eu posso cobrar dele e eu vou. Existe uma lei na favela, que essa lei tem que ser respeitada: Não se pega mulher de aliado. E ele sabia que eu tava com ela até uns dias atrás, pô.

Levanto da cadeira olhando pra onde o PK tava. Ele ta em pé, perto da porta. A Rafaela entre nós dois e o TH vendo tudo meio que de lado. Dou uma risada abafada com a resposta dele. Almoçar com ele é um caralho. Eu tô bem ligado na aproximação deles dois.

— Eu tô falando com ela, irmão. — respondo numa boa, não tô legal pra me estressar.

— E eu tô respondendo por ela, chefe. — ele me encara.

— PK... — TH fala levantando também.

— Senta pra almoçar, Rafaela. — não tiro os olhos dele.

— Caveira, para com isso. — ela diz baixo.

— Vamo, Rafa. — o comédia chama ela e eu dou um passo pra frente fechando minha mão.

— Caveira, deu irmão. — TH tenta tirar minha atenção, mas eu nem olho pra ele.

— Eu que digo isso, TH. Tira esse comédia daqui. — cerro os olhos e escuto a risada abafada do PK.— Tira ele daqui ou essa porra vai dá ruim.

— Amor, não precisa disso. — a Raíssa fala e fica na minha frente.

— Ou tu sai da minha frente ou a primeira a entrar na porrada vai ser tu, Raíssa. — sinto uma mão tocar meu peito.

— Matheus, olha pra mim... — Rafaela fala e eu exito um pouco antes de olhar.

Não quero olhar no olho dela. Primeiro porque ela vai fazer o caralho dessa raiva passar e segundo porque eu quero quebrar esse filho da puta todinho na porrada. Não é só pela Rafaela, não. É porque esse otário esqueceu com quem ele tá falando, pô. Ele esqueceu quem eu sou. Esqueceu que por mais que eu seja chefe de outro morro, eu ainda sou superior a ele dentro do comando.

— Matheus... — ela puxa meu rosto, fazendo eu encarar ela e eu balanço a cabeça.

— Fala. — digo calmo.

— Para com isso, cara. — ela ainda segura meu rosto.

— Tu só pode tá de palhaçada com a cara do vagabundo, Rafaela. Qual foi? — digo ainda com as mãos fechadas.

— Eu não fiz nada. O PK é meu amigo e você tá almoçando com sua família e a sua namorada. Então, por favor, se acalma. — balanço a cabeça de novo. Eu sabia que a raiva ia passar.

— Então avisa pro seu amigo que eu vou trombar com ele ainda e ele vai se arrepender de ter batido de frente. — olho dentro do olho dela e ela solta meu rosto concordando com a cabeça. — Rafaela, a gente ainda vai conversar.

— Tá bom, Matheus.

Ela sai. O pau no cu ainda olha pra trás e solta um sorriso debochado e eu me seguro muito pra começar a cobrar ele aqui mesmo. Isso aí é um papo que eu tenho que ter com o TH. Não sou moleque e não comecei ontem.

É uma parada meio merda porque eu fico na onda. Puxo um bem bolado do bolso e acendo ali mesmo, escutando minha mãe falar um monte e a Raíssa também, que no reto mesmo, eu nem sei o que ela ta fazendo tanto tempo na minha casa e nem porque veio hoje.

Hoje vai ter baile, Marcela disse que vai levar a Rafa. Eu preciso falar com ela, isso aí é uma parada que tá me consumindo mesmo, tá ligado?

O almoço termina e eu mando levarem minha mãe e a Raíssa com a desculpa de que tenho que resolver coisas do morro com o TH, elas acreditam e vão. Na real, eu quero mesmo é tirar essa história a limpo e saber qual a procedência desse menor e se eles já tiveram alguma coisa.

— O que tu quer saber, irmão? — Marcela fala assim que as duas saem levando o Lucas.

— Que palhaçada foi essa aí, pô. — digo sentando no sofá.

— Ele foi o primeiro amigo que ela fez aqui no morro depois de mim, cara. — ela responde e eu dou uma risada alta.

— Amigo, Marcela? Não me fode. — acendo outro fino. — Eu vou cobrar ele, TH. — digo dessa vez olhando pro TH que tá no outro sofá.

— Mano, tu vai cobrar ele em qual fundamento, pô? Vai dizer que o cara pegou tua mulher, sendo que nem tua mulher ela é? — ele diz enquanto eu passo o baseado pra ele.

— Não é minha mulher, mas tá no meu porte. — balanço a cabeça

— Se liga, Caveira. Qualquer vagabunda por aí fica no porte de bandido. Enquanto tu tiver nessa onda de "não é minha, mas não é de ninguém" tu vai ficar sem, porra. — ele diz me devolvendo o baseado.

— E ela não é as meninas aqui do morro, irmão. Que tu faz do teu jeito. — eu balanço a cabeça concordando.

Odeio que me deem lição de moral, mas eles tão mandando o papo certo. Dou mais uma tragada.

— Conversa com ela hoje e pelo amor de Deus, manda a mamãe se ligar e parar de empurrar a Raíssa pra cima de ti. — ela rir e eu acompanho ela, vendo o TH balançar a cabeça negando.

Hoje eu vou resolver essa parada aí na minha vida.

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