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Caveira

Mais um roubo de carga nossa. Mais uma vez que passam a gente pra trás. Essa porra já tá tirando todo o juízo que eu tenho. É foda, porque eu sei que é alguém aqui de dentro. É um dos nossos. E quando eu digo que é foda, não é nem só porque é alguém daqui, mas porque é difícil de pegar. Foi eu que treinei os caras. E treinei muito bem.

Eu já tô a quase uma semana sem dormir direito. Vivendo mesmo a base de droga e os caralho pra ficar na correria. Que nem agora, pô, são 03:00 da manhã e eu tô na boca pensando nessa porra. Levanto puto da cadeira da minha sala e jogo ela longe quando percebo que nem uma solução vai sair. Vou pra janela e fico olhando o morro e giro o anel no meu dedo. TH.

Eu treinei esses cara, mas o TH me treinou. Não tem ninguém melhor que ele.

TH é meu irmão nessa vida. Foi ele que me deu a oportunidade de entrar pro tráfico. Por mais que ele não seja tão mais velho que eu assim, tenho máximo respeito pelo mano e pelo que ele fez pela minha família. Tanto que esse filho da puta casou com a minha irmã.

Meu pai abandonou minha mãe quando eu tinha 10 anos. Nunca mais vi ele desde então e também não faço nem por onde não. A velha fez todo o corre pra poder criar eu e minha irmã bem, ta ligado? Fez a gente terminar o ensino médio, cobrava estudo e os caralho, mas aí quando terminei a escola, comecei a correr atrás de trampo e as portas tudo se fechando na minha cara. Fiz um corre pro movimento, depois outro. O dinheiro entrava. Fiz outro.

Foi aí que o TH me chamou pra entrar de vez pra facção e eu quis. Ele já era sub do morro, eu fui ganhando a confiança dele e ele me fortalecia pros chefe da facção. Quando ele virou frente do Vidigal, me colocou de sub. Em uma dessas voltas aí que a vida dá, o chefe da facção me chamou pra gerenciar o Alemão. E tamo aí até hoje.

Saio dos meus pensamentos pegando o celular e ligando pro TH. Ele ia ficar puto.

— Acorda, caralho. Tá achando que porque é vagabundo vai dormir até tarde? — digo assim que ele atende.

— Caralho, Caveira. Qual foi? São quase quatro da manhã, porra. — ele fala com voz de sono.

— Preciso de ti, irmão. Bagulho sério mermo. — mudo o tom de voz.

— Tá suave aí? Mais tarde eu colo aí na tua área. Tua irmã já tava enchendo o saco mermo pra te ver. — ele diz e parece já ta se levantando

— Nada suave, TH. Papo de trairagem aqui dentro. — adianto pra ele e escuto ele respirando fundo.

— Nós resolve isso sem neurose, irmão. O papo é um só e todo mundo tá ligado nele. Amanhã nós chega aí.

— Fé, paizão. — digo desligando.

Guardo o celular no bolso do short e vejo o dia querendo amanhecer. Puxo a cadeira que tinha jogado longe e sento sentindo meu corpo pesar. Puxo um beck do bolso, acendo na tentativa de relaxar e decido ir pra minha goma. Só ia conseguir resolver essa fita quando o TH chegasse de qualquer forma.

Termino o baseado, jogando a ponta pela janela. Pego a chave da moto e desço vendo os vapor trocando de turno.

— Bom dia, chefe. Suave? — um menor fala e eu balanço a cabeça

A Primeira Dama do Tráfico Onde histórias criam vida. Descubra agora