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Caveira

Não precisou chegar no morro pra saber que lá tava um caos. Cada vez que eu chegava mais perto, mais alto eu escutava as sirenes de polícia e dessa vez era diferente, tinha muita polícia. Eu sabia que não ia dá pra subir e pensei em ligar pro Leal, mas como se ele escutasse meu pensamento, o radinho chama.

— Caveira, não sobe. — ele fala alto e eu só consigo prestar atenção nos tiros. — Tá me escutando, porra? Não sobe. Eles querem tua cabeça.

— Tá me tirando, Leal? — respondo rapidamente, nunca que eu ia deixar meus mano na bala por mim. — Algum menor na frente? — falo dessa vez pra todo mundo da contenção.

— Rato na voz, chefe. — o menor responde

— Como tá aí? — pergunto já quase chegando na entrada.

— Dá pra vir, patrão. — ele responde

— NÃO SOBE NESSE CARALHO, CAVEIRA. — é a vez do GB.

— Vai me avisando, Rato. Eu tô chegando. — digo e deixo o radinho de lado.

Em pouco tempo eu chego na entrada do morro e consigo observar que ali parece mais tranquilo do que onde os caras tavam, o que me deixou mais preocupado ainda por saber que eles conseguiram subir ainda mais. 

Paro o carro na entrada, tiro dois 38 do porta-luvas e olho como eles tão de munição, só pra me certificar. Desço e vou subindo me escondendo nos becos do morro e quanto mais eu subo, mais destruição eu vejo. Muito corpo no chão. Poucos nossos. 

— Já tô na área. Tô pelo beco 9. — digo no radinho, esperando uma posição deles.

— Tão subindo chefe. — um menor fala do outro lado, todo nervoso. 

— Tá suave. Quero proteção na casa minha coroa. Dá teus pulo. — respondo rápido enquanto avanço na direção que eles tão.

— Já tem.  — escuto a voz do Leal. Nunca decepciona.

Deixo o radinho de lado quando escuto os tiros cada vez mais perto e muita gritaria. Meu celular vibra no bolso e eu pego, maior medo de ser minha coroa, papo reto. Rafaela. Desligo. Esse é um b.o maior que eu vou deixar pra resolver depois. 

Vejo o Menor na minha frente, com as mãos pro alto e um fardado mirando na cabeça dele. O olhar dele bate no meu e antes que o nervosismo dele entregue minha posição, eu faço sinal de silêncio. Coloco a mira do revólver na cabeça do pau no cu e atiro, vendo ele cair no chão e o Menor correr na minha direção. 

— Valeu aí, chefe. — ele diz e eu balanço a cabeça assentindo. 

Logo os tiros começam a diminuir e quando eu penso em pegar o radinho pra poder perguntar pra quem tá mais em cima, o que tá acontecendo, escuto a voz do Leal.

— TÃO RECUANDO PORRA! — alívio, mais uma é nossa. 

— Geral na atividade, NÃO PRA SAIR NINGUÉM DO LUGAR QUE TÁ! — por mais que os fardado estejam metendo o pé, não tem como confiar nessa porra. 

É quando o blindado dá meia volta, que eu relaxo e vou subindo ainda mais o morro. Tanto pra ver o estrago que já tava feito, como pra ver com os caras o porque esses filho da puta subiram tanto. 

Mando o Menor subir na frente enquanto eu ia mais de boa, vendo se não tinha morador ferido ou algum mano do movimento que precisasse de ajuda. Escutei um gemido que vinha do beco da rua 16 e entrei. Era um fardado. O cuzão tava quase morrendo no bagulho. Me aproximei dele que não tava muito longe e antes que eu pudesse me abaixar todo pra olhar bem no olho daquele pau no cu do caralho, sinto meu ombro arder. Logo depois meu peito e minha perna. Caio no chão. 

Escuto o barulho de mais alguns tiros, mas não sinto se pegam em mim e muito menos sinto a dor de algo novo. O que já tem dói pra caralho. Tento levantar a mão, na intenção de pressionar o tiro no meu peito, mas meus braços já nem respondem mais. Sinto gosto de sangue na boca e meus olhos começam a querer fechar.

— Caveira, tá na voz? — escuto o D2 chamar. Não consigo responder.

— Alguém viu o filho da puta do chefe de vocês? — é o Leal. 

Sinto alguém mexer em mim e falar alguma coisa em cima da voz dos caras, mas não reconheço. 

— Acertaram o chefe, porra — agora sim, o Menor. 

— MAS QUE CARALHO! Onde ele tá? — o GB fala e o Menor responde rápido. 

Tento ficar acordado, mas a dor é tanta que eu não consigo dizer por quanto tempo mais eu conseguiria me manter assim. O gosto do sangue na boca começa a ficar ainda mais forte e eu cuspo pro lado, sentindo ainda mais dor. Eu vou matar o filho da puta que atirou em mim. 

— CAVEIRA — escuto o Leal gritar e sinto ele levantar minha cabeça. — Fica acordado, irmão. 

— PEGA UM CARRO PORRA — D2 grita com alguém. 

— Minha coroa, Leal. — é a única coisa que consigo falar. 

— Cala a boca, filho da puta teimoso do caralho. — ele xinga me fazendo rir e começo a tossir, sentindo o sangue sair cada vez mais e o meu peito arder. 

— O carro chegou, patrão. — um vapor fala com o Leal, que me coloca no braço e sinto ele me ajeitar no banco de trás. 

No caminho até o hospital, eu apago um tanto de vezes que eu nem consigo contar e na real, nem dor eu sinto mais. É uma parada maluca, porque eu também não entendo quase nada do que as pessoas ao meu redor tão falando. 

Sinto meu celular vibrar no bolso de novo e de duas, uma: Ou é minha coroa ou é a Rafaela. Em qualquer uma das opções, eu tô fodido. 

— O. Meu. Celular. — digo com dificuldade pro Leal que ainda tá na minha frente enquanto me levam pra algum lugar na maca. 

Ele coloca a mão no meu bolso, tirando o celular de lá, olha pra mim e vejo ele rir enquanto entro em uma sala.

— VOLTA INTEIRO PRA RESOLVER ESSE B.O QUE É TEU, MEU PARCEIRO. — escuto ele gritar.

A Primeira Dama do Tráfico Onde histórias criam vida. Descubra agora