Capítulo 11.

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A gravidez me tornou uma pessoa muito mansa para ser sincera. Em outros tempos, eu já teria entrado numa briga com Imma a tempos, mas agora não, simplesmente evito ficar no mesmo espaço que ela.

Estou voltando para casa, e são oito da noite. Quando três quadras da minha casa, vejo um homem cercado por três jovens, quer dizer crianças. Digo isso porquê conheço esses três, vivem perto da minha casa, se entregaram ao mundo das drogas muito cedo, deixaram de estudar e armam confusão desnecessária. Eles são uns três anos mais novos que eu, eles só respeitam aqueles que os conhecem, mas se você não for do bairro, com certeza será saqueado.

Como de costume eu ia passar por eles e fingir que não vi nada, afinal de contas não é problema meu. Mas quando vi a garrafa apontada para o homem fiquei preocupada, se eu acordar amanhã e descobrir que o homem morreu com certeza terei peso na consciência.

— Rapazes! Como vai?— falei me aproximando deles.

— Mana Zuri!— cumprimentaram. — Agora estamos numa cena!— um deles apontou novamente a faca ao par o homem. Alto, de cabelos castanhos, ele tem o corpo forte, mas uma aura fraca. Talvez não esteja bem de saúde.

— Não façam isso! — se ele fosse negro, diria que é um primo meu e me livraria do problema, mas a cor não ajuda — Estudamos juntos!—  eles me olharam desconfiados, suspirei abri minha carteira e tirei uma nota de 50mt — Se eu tivesse mais vos dava, mas não tenho e nem quero estragar vosso esquema. Mas peço para deixarem ele ir.

Após verem a nota, eles ficaram mais amigáveis, concordaram em deixar ele ir, e se despediram sorridentes.

— Delinquentes!— resmunguei.

— Não devia ter lhes dado nenhum dinheiro, isso só lhes motiva a praticar mais atos obscenos.

Olhei para o ingrato.

— Agradeça por ainda estar vivo e inteiro. Eles são crianças mais são perigosos, melhor se manter distante deles e não querer bancar o valente se não sabe se defender.

Está fazendo um frio de merda, e a camisola que trago mal aquece.

— Bom, muito obrigado por me salvar. Você é daqui?

— Disponha, sou sim e você?

— Na verdade não, meu carro inteiro naquela rua, e estava procurando um caminho com menos areal para poder chegar a cidade.

— humm, tem uma rua naquela esquina, é estreita, mas não tem areal.

Caminhei com o homem em direção ao local que estava seu carro.

— É só virar a esquina, e não dê boleia a estranhos.— ele sorriu dentro do carro.

— Sua casa é distante? Poço te acompanhar se quiser.

— Não se preocupe, minha casa e na rua a seguir, e lá tem muito areal, seu carito não passaria. E também, estou na minha zona.

Ele sorriu gentil, agradeceu mais uma vez antes de se retirar. Continuei meu caminho até chegar a casa. E para minha infelicidade acabaram o jantar para mim, nem sequer discuti, só entrei no meu quarto e me joguei. Não importa.

Na manhã seguinte como se fosse pouco Imma estava gritando comigo porque acordo tarde sabendo que entro de tarde na escola, e que eu devo cortar o hábito de ir a escola sem trabalhar.

— Ao menos arruma o quarto já que foste a última a acordar. — disse meu cunhado parado no batendo da porta, mesmo sabendo que estou me vestido.

— Estou vestindo, não consegue ver!— falei jogando um frasco na sua direção, e ele esquivou por milímetros.

— Opha! Isso foi perigoso, você podia ter me ferido.

— Saía daqui agora.

Ele saiu, mas não levou nem dois minutos para Imma entrar.

— Porque bateu no Gilberto?

— Eu não bati no seu namorado.— falei cansada, terminando de me vestir.

— Você acha que Gilberto mentiria para mim? A troco de que?

— E você acha que eu mentiria para ti porque?

— Porque você não gosta do Gilberto, tem inveja de mim, não é óbvio. Zuri se não dá para respeitar meu namorado, o homem dessa casa, melhor você cair fora entendeu? Se não dá saia dessa casa.

— Essa casa também é minha.

— Mas quem manda nela sou eu.

Peguei minha mochila e saia, antes que isso termine em tapas. Enquanto eu caminhava para escola, eu pensava como minha vida tinha mudado, como as coisas tem dado tão errado, e porque logo a pessoa que devia estar do meu lado me quer fora de casa. Sem me aperceber me sentei num banquinho que tem a beira da estrada, e comecei a chorar.

Eu não aguento mais, eu quero morrer, Rúben tinha razão, eu devia ter abortado enquanto ainda tinha tempo. Agora já estou com cinco meses, é impossível realizar o aborto. Eu não irei conseguir sozinha, eu mal trabalho e como, e ainda tenho brigas constantes com minha irmã. Se eu não me matar, morrerei de estresse.

Estou com os cotovelos apoiados nas minhas coxas, enquanto minhas mãos tampam os meus olhos, não consigo controlar minhas emoções, mas também não quero que ninguém veja que estou chorando.

Meu coração dá um pulo quando sinto a mão de alguém em meu ombro, então rapidamente levanto o rosto.

— Você está bem?— meus olhos caíram no homem de cabelos castanhos, olhos da mesma cor e de pele clara. Abanei a cabeça para cima e para baixo, esquecendo que ainda a lágrimas em meus olhos. Ele sorriu gentil e se sentou ao meu lado. — Você não me parece bem, criança!— ele fez com que eu encostasse minha cabeça em seu ombro e me deixou chorar.

Pode ser estranho, pode ser que ninguém acredite, mas pela primeira vez, na minha vida eu senti paz. Como se minha alma se deita-se em verdes pastos, e o resplandecente da manhã me banhasse. Como é possível um homem transmitir assim tanta paz?

O Belo e a FeiaOnde histórias criam vida. Descubra agora