Capítulo 10.

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Marta e Mônica me aconselharam a abortar, pelo meu próprio bem. Mas eu estava com medo, e nada era mais grande que o meu medo de morrer por tentar tirar a vida que gerei.

Elas não insistiram na ideia, para o bem ou para o mal. Elas Simplesmente aceitaram minha decisão, ainda na mesma semana minha chefe encerrou o salão porque tinha uma viagem e sem data de regresso. Enumeras vezes procurei formas de contar a minha irmã que estava grávida, mas as palavras entalavam em minha garganta e me sufocavam.

Dizer isso para ela, para mim seria o mesmo que dizer, cometi o mesmo erro que você e nossa mãe. E minha relação com Imma começou a ficar bastante sufocante, principalmente quando ela inventou de deixar o namorado dela viver conosco, só porque estava longe de sua terra natal e sem dinheiro para pagar aluguel.

Isso me irritou pelo simples fato de obstruir minha privacidade, para além de dormir com Aina, tinha de dormir com meus sobrinhos. Enquanto ela devia o quarto com o seu namorado. O cara ajuda em algumas coisas em casa, e só por isso pensa que manda nela. E isse foi o motivo que nos fazia brigar várias e várias vezes.

Agora tinha de esconder a gravidez da minha irmã, da Dona Matilde e do meu cunhado. E para piorar, o ano lectivo estava começando, apesar seu não ter nenhum ânimo para continuar estudando.

— Não desista!— Mônica disse enquanto eu a trançava em minha casa — Eu não entendo muito bem da vida, você é mais velha que eu , já passou por muito. Mas não desista, estaremos na mesma sala, fazendo a mesma secção , nós seremos seu ponto seguro.

— Eu não sou tão inteligente como você, e eu tenho de me esforçar mais que o normal para entender uma matéria, minha vida não é tão simples assim.

— Eu sei, mas não desista, farei o possível para te ajudar.

E realmente, eu iria precisar do possível e do impossível para não desmoronar. Já se passavam quatro meses, e nada do meu cunhado ir embora, e para pior nos não nos entendemos. Podemos ter três dias de paz, mas nada mais que isso.

— Zuri você está grávida?— e quando eu menos esperei fui descoberta. Num dia como qualquer outro lavando a louça.

Não a respondi, continuei lavando, sem parar , porque eu sentia, nos iríamos brigar por isso.

— Você está sim. É daquele loiro?

— Isso não lhe interessa.

— Isso me interessa sim, sou sua irmã mais velha, e tudo que diz respeito a ti me interessa. — parei de lavar a louça e a encarei, seca.

— Certo, eu estou grávida, o filho é dele. Ele não vai assumir, ele nem sequer está nesse país. A família dele é racista  e odeia pobres.— disparei tudo que eu tinha medo de assumir para mim mesmo, por meses. — Mas alguma questão?

Por alguns estantes ela pareceu surpresa. Depois deu um riso debochado.

— Não. A criança e sua também, irás cuidar sozinha.

Eu sei disso, não preciso que ninguém me diga ou me lembre. Eu sei disso, mas do que ninguém eu sei disso. Nunca fui assumida realmente como namorada dele, nunca tive o respeito e consideração da família dele, para eles sou insuficiente. Eu não preciso, não preciso, simplesmente não preciso que ninguém me lembre disso.

Mas Imma não entendeu esse simples fato, agora sempre que brigamos ela mete o fato deu estar grávida e ser irresponsável. Não só ela como meu cunhada que pensou ser meu pai para me dar sermão.

— Você não é absolutamente ninguém na minha vida. Então não se meta nela.— isso foi o suficiente para que ele não quisesse me ver mais na casa, e envenenar minha irmã contra mim.

Agora para além deu estar grávida, não estar trabalhando bem, ela não queria me ver numa casa que é por direito nossa. Parei de beber, parei de festejar, eu simplesmente procurava distrair minha mente na escola, enquanto tentava arranjar uma solução para minha vida.

O que eu irei fazer meu Deus?

Chega uma fase que a mente humana não aguenta mais guardar tanto para si, que sem você se aperceber está vivendo no automático. Das poucas vezes que cruzei com a família de Ben, eles olhavam para mim como se eu fosse uma praga, como se eu tivesse traído Ben, a expressão deles dizia nitidamente, Rúben só fez bem em viajar para o exterior, senão essa daí ia querer dar o culpe do baú e prejudicar nossa família.

E isso que eles pensam, é isso que todo bairro pensa. Eu realmente estou ficando sem força, se ao menos Imma fosse a mesma irmã de a dez anos atrás, seria muito mais fácil atravessar essa situação juntas. Muitas vezes fomos julgadas, menosprezadas, mas porque estávamos juntas de corpo e alma era muito mais fácil de superar, era nos contra o mundo, mas agora não, sou eu contra o mundo.

O Belo e a FeiaOnde histórias criam vida. Descubra agora