21. sobre: velas, escândalos e duetos

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Naquele ponto do dia, Nayeon já havia perdido as contas de quantas voltas tinha dado na pista de atletismo da universidade. Não queria ter que pensar em nada. Seu corpo estava extremamente quente, a respiração ofegante. Trajava um moletom cor de rosa bebê – que tinha roubado de Sana anos atrás; legging preta e um par de tênis de corrida brancos. Seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo meio bagunçado, usava um headphone com orelhinhas de coelho (este que era, de fato, presente da Minatozaki) e carregava uma garrafa de água quase vazia, o que significava que muito em breve teria que retornar a cozinha dos dormitórios para reabastecê-la.

Só o que ela sabia é que era tarde. No olhômetro mesmo, porque além de desativar todas as notificações do celular também não estava se dando ao trabalho de olhar que horas eram desde que colocara música para tocar no aleatório. É claro que ela tinha consciência de que tacar fogo no quarto de alguém era extremamente sério mesmo que não passasse de um acidente idiota causado por sua eu bêbada idiota, mas, poxa, não havia acontecido nada grave com ninguém! E as únicas perdas naquele incêndio foram um colchão de péssima qualidade, um tapete cafona, uma mesinha de cabeceira feia e parte de um carpete brega. Se parassem para pensar, Im tinha feito era um favor para aquele quarto mal decorado.

— Tão ridículo... — Nayeon deixou escapar em voz alta, enquanto fazia uma das curvas na pista de atletismo desértica. — Elas mesmas falavam mal daquelas coisas.

Bom, não importava, já tinha dito a Jeongyeon e Chaeyoung que iria arcar com os custos de tudo e por isso não via razão para tanto mau humor vindo delas. Talvez, estivesse um pouquinho (ou muito) mal acostumada convivendo tantos anos com Sana, mas gostaria que as pessoas fossem mais como ela. Por mais chateada e irritada que estivesse com Nayeon, a japonesa nunca a ignorava ou ficava emburrada por muito tempo. Sempre faziam as pazes em alguns minutos, horas ou no pior dos casos um dia no máximo. Não era à toa que eram as melhores amigas há doze anos.

Sana era muito pacífica e não conseguia ignorar as pessoas, enquanto Nayeon surtava com frequência e gostava de atenção. Era o equilíbrio perfeito. Ainda que suas personalidades contrastassem em muitos aspectos, eram igualmente carentes e tinham a certeza de que nunca estariam sozinhas ou incompletas na presença uma da outra. Se entendiam como ninguém. O que faltava em uma, a outra compensava e assim viviam suas vidas na paz. Eram prioridade sem precisar dizer, família mesmo no sentido mais puro da palavra. Seriam o casal perfeito se tivessem química. O que não tinham, como comprovaram aos quatorze para nunca mais.


NUNCA MAIS.


É claro que, às vezes, Nayeon sufocava um pouco Sana com todo aquele seu amor e preocupação excessiva, mas o motivo dela fugir da melhor amiga nos últimos meses tinha mais relação com o fato dela não saber como era levar um pé na bunda do que com seu jeitinho insistente e autoritário de ser. Porque, ao contrário da Minatozaki, a coreana sempre foi a responsável pelo término de seus namoros. Ela não entendia como era horrível ser chutada e Sana estava acabada, com um medo absurdo de conhecer outra mulher que fizesse tudo se repetir.

Além de claramente estar atrapalhando a vida amorosa de Nayeon que, pela primeira vez na vida, estava dentro de um relacionamento duradouro com alguém à sua altura: Yoo Jeongyeon, quem ela conheceu por acaso numa de suas corridas matinais pelo campus durante a primeira semana delas na universidade. No primeiro mês, tudo o que NaJeong fazia era competir uma com a outra como verdadeiras inimigas. No segundo mês, a competição ainda existia mas passaram a se pegar loucamente às escondidas também. E no terceiro mês, começaram a namorar oficialmente e viraram as maiores gays romantiquinhas que Sana já viu.

Namorada de Mentirinha - SaiDaOnde histórias criam vida. Descubra agora