O quê Foi que Eu Perdi?

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O barulho do carro freiando se alastrou pela rua. Tom iria me matar por estar desgastando o seu pneu, mas naquele momento eu não me importava, minha única preocupação era ver Hannah.
Sai da Audi R8 correndo, adentrando no hotel, fui em direção ao elevador que estava prestes à se fechar. Impedi seu fechamento colocando o meu pé entre as portas, fazendo assim ele se abrir novamente, entrei no elevador e apertei o andar desejado aguardando. Sai do elevador indo em encontro ao quarto de hotel dos garotos, bati na porta ansiosamente aguardando alguma alma viva me atender.
A porta se abria lentamente, e eu estava prestes a empurrar com toda força, mas eu me segurei e continuei a aguardar.

— Oi Tri Roll-ão — Georg aparecia na porta me atendendo atenciosamente

— Agora não Georg — Eu disse entrando brutalmente enquanto os meus olhos estavam a procura de Hannah e Bill

— Eles estão logo ali, se acalma — Gustav dizia enquanto aparecia em meu lado

— Toma cuidado que Bill está tentando roubar sua amiga — Georg falava logo atrás de mim

— Como assim? — Eu perguntei confusa e curiosa

— É só olhar — Gustav dizia

— Ele não tira os olhos dela — Georg completava

Me retirei do meio dos dois e fui em direção aos outros dois que estavam sentados no sofá da sala.

— MAYLA! — Hannah correu em minha direção me depositando um abraço de urso, um abraço de saudades

— Hannah... — Eu dizia me afastando dela. Aquela não era minha amiga, ela estava diferente. Aonde estavam os seus piercing radicais, o seus cabelos longos, e aquela determinação de "Só se vive uma vez". Era como se ela estivesse morta, ela me parecia morta

— Eu preciso conversar com você... — Ela dizia parecendo ser firme. A minha amiga não era assim, ela não parecia ser, ela era!

— Por isso que estou aqui. O quê aconteceu que você não me retornava as minhas ligações?

— Eu vou falar sobre isso, eu juro! Mas primeiro me fale sobre você, quero saber das suas atualizações, e como você conseguiu ser amiga de uma banda que nem ia com a cara? — Ela dizia em alto e bom som, fazendo com que eu me sinta um pouco constrangida

— Eu não ia com a cara da banda, não das pessoas em si — Me justificava olhando para os garotos que estavam na sala escutando nossa conversa

— E você e Tom? No que deu aquela aposta? Você realmente foi parar na cama dele? — Nesse momento eu estava completamente constrangida, não à consegui responder, a única coisa que consegui foi gaguejar, e gaguejei o que nem eram palavras

— Ah, isso você pode ter certeza de que realmente aconteceu! — Georg se intrometia na conversa, fazendo com que todos que estavam ali rirem

— Então vocês estão namorando? — Hannah me perguntou com uma cara de assustada

— Poderia dizer que sim... — A respondi envergonhada

— Falando nisso, cadê Tom? Ele não estava com você? — Bill me perguntava preocupado

— Isso é uma longa história. Já já ele chega, e eu não quero estar aqui quando isso acontecer — O respondi e ele me encarou de forma confuso

— Você ainda está fumando maconha? — Hannah me perguntou com aquela face, aquela face de que uma mãe só está esperando a resposta do filho para dar bronca, e eu obviamente estranhei

— O que foi? Vai me dizer que você não fumou nenhuma vez enquanto você estava na casa de sua vó?

— Você tem que parar de usar essa porcarias! — Ela me repreendeu

— O que deu em você? Você não é a mesma desde que partiu. Você está diferente! — Eu disse em um tom um pouco mais alto

— EU ESTOU MORRENDO MAYLA! — Ela gritou comigo, fazendo me calar. Naquele mesmo momento me arrependi das palavras de que eu disse — Você continuaria a mesma se soubesse que está morrendo?

Um clima pesado se alastrou pela aquela sala, ele tomou conta e contaminou o meu coração.
Os resquícios de sorriso ou felicidade que tinha nos garotos havia ido embora. Eu não sabia o que dizer, o que fazer, não sabia me expressar e nem definir o que eu sentia, eu era inútil naquele momento.

— Eu tenho câncer Mayla — Hannah continuou. Quando ela falava o meu nome, parecia uma lâmina que perfurava o meu coração, que cortavam as minhas veias, me deixando de mãos atadas — Eu tenho câncer no estágio IV, um câncer terminal. Eu tenho os meus dias contados, eu sou uma paciente "irrecuperável" Mayla

— Como assim? Desde quando? Por que você não me disse? — Um nó na garganta se formou, e a cada pergunta o meu olho lacrimejava, formando um mar de lágrimas

— Um pouco depois de que perdi os meus pais, e fui morar na casa de minha vó, eu já estava com câncer — Era difícil para ela me contar aquilo, dava para ver em seus olhos, que estavam lacrimejando — Iniciei o tratamento alguns anos depois, logo após de descobrir o que eu tinha. Comecei a fumar maconha a prol do meu tratamento, não foi porquê eu quis. Na minha adolescência, quando me mudei para cá, eu já tinha um vício e uma grande dependência na erva, aparentemente o câncer havia sumido, e foi quando eu conheci você. Eu havia começado uma vida nova, eu não queria que ninguém e muito menos você soubesse disso, foi por isso que não te contei.
Quando eu disse que ia viajar para minha vó, sem data de retorno, na verdade eu iria me internar no hospital, pois o câncer havia voltado. Quando eu soube que era terminal, e não havia mais jeito, voltei para cá, para te contar pessoalmente, pois eu não queria que você soubesse pelos outros, isso seria vergonhoso — Com diversas lágrimas que escorriam pelo seu rosto, ela terminou de falar, e ainda rindo, o seu sorriso me fazia falta, e só de pensar que aquele era seu último sorriso, o último em que ela tinha forças para dar, e o último em que eu iria ver.

Eu estava em prantos, não conseguia parar de chorar por sequer um minuto, eram lágrimas atrás de lágrimas que escorriam pelo meu rosto. Não conseguia falar pois os soluços do meu choro me impediam.
Os garotos estavam tristes, mas Bill estava abalado, o curto momento em que ele havia ficado com a garota foi o suficiente para que ele se sentisse assim

— Hannah... — Bill murmurou

— Eu só vim aqui para te dizer isso — Ela dizia com um sorriso no rosto em meio às lágrimas — Ver você desperdiçando o seu tempo fumando aquela erva dói. Mas pelo menos consegui viver o suficiente para ver você desencalhar — Ela ria. Como ela conseguia tirar forças para por um sorriso em seu rosto, eu não entendia, não conseguia entender

— Eu espero que você vá ao meu enterro — Ela me abraçou fortemente,  o último abraço que eu iria ter — Eu te amo. — Eu abracei firmemente

— Eu também te amo — Essas foram as únicas palavras que conseguiram soar sem problema nenhum, sem sair como um gaguejo

— Adeus. — Hannah disse antes de se afastar do nosso abraço e ir em direção a porta. Eu não consegui me despedir dela, não estava pronta para isso

Tom entrou dentro do quarto de hotel gritando, enquanto ele abria a porta e entrava ele se esbarrou com Hannah que estava chorando e saindo, mas não deu a mínima e continuou  com o seu escândalo

— Eu não acredito que você teve a capacidade de me largar lá! — Ele falava alto enquanto fechava a porta — Eu tive que vir com o guincho! — Ele se virou para mim, e viu que eu estava em prantos — A propósito seu carro está guinchado... — Ele terminava de falar, olhando para todos nós que estávamos em um clima pesado — O quê foi que eu perdi?

Vícios  |Tom Kaulitz Onde histórias criam vida. Descubra agora