Certo ou Errado?

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— Ei, ei! — Eu cutucava os braços da garota desorientada. O rosto da garota agora apresentava uma expressão de preocupação. Como se ainda estivesse estranhando a situação toda.

— Hum? — Ela perguntou com um tom ligeiramente irritado, meio desejando estar num lugar melhor.

— A onde você mora? — Perguntei curioso e meio preocupado

— Não sei — Respondeu a mesma. Era meio surpreendente a resposta, e deu a entender que não estava nem mesmo se lembrando da onde ela vinha. O olhar dela continuava confuso, mas não sabia o que dizer nesse momento.

— Como não sabe? Você não pode ficar aqui, ou ir para qualquer outro lugar nesse estado! — Eu mesmo estava perdido, não sabia o que dizer ou fazer.

— Hum — Ela murmurou como resposta. A garota ficou em silêncio, parecendo confusa. Não sabia o que fazer ou onde ficar. Ficou um momento silencioso, como se todos os ecos da festa tivessem desaparecido e só nós estivéssemos ali.

— Você só sabe falar isso? — Revirei os olhos. Por algum motivo, isso me fez soltar um risinho.

— Hum — Ela ainda não teve coragem de falar muito. Talvez, por medo, talvez por desconfiança. Só não estava falando, estava apenas ali. Mesmo assim, eu também ainda estava ali.

Peguei a bolsa da menina procurando algo que possa me dizer à onde a mesma mora. A bolsa era de pele vermelha, um pouco esfarrapada. Mas estava lá. Não havia nenhum nome ou endereço escrito, e o celular que havia estava descarregado. Não parecia haver nenhum cartão de visita, ou documento que pudesse mostrar-lhe onde ela morava.

— Nada! O que fazer agora? — Joguei a sua bolsa em cima do balcão

— Hum — Era como se ela estivesse a pedir para que nada mais acontecesse. Assim, decidi tentar trazer um copo de água, pensando que, talvez, isso ajudasse. Enquanto eu pedia um copo d'água, a garota parecia estar perdida na própria cabeça. Ela parecia estar no mundo dela, sozinha.

— Percebi que um diálogo com você não vai funcionar! — A expressão dela era como se ela não estivesse realmente presente. Ela tinha olhos pálidos, exageradamente cerrados. A face estava um pouco pálida e sua boca não era expressiva.

— Se eu te levar comigo é considerado como sequestro? Por que não tô podendo me meter em encrenca. —  Apesar de tudo, havia algo nela que me fazia querer ajudar. Ela parecia ser frágil, mas forte ao mesmo tempo.—Bom, até que não seria uma má idéia se você dormisse comigo está noite — Falei malicioso

— Se fode! — Murmurou ela

— Isso você sabe falar!? — Ela não me respondeu — Mas é sério, eu posso? — Perguntei sem malícia nenhuma — Ei, ei! — Mesmo comigo chacoalhando-a, ela não reagia. Estava algo intranquilizante. Ela estava ali, mas não parecia estar consciente. Meu instinto me fazia acreditar que ela poderia precisar de ajuda. Porém, como me comportar com uma pessoa que se recusa a responder-me?

A levantei do banco e ela se debruçou em meu pescoço.
Andei com ela para fora do estabelecimento indo para o estacionamento.
Ao chegar ao estacionamento, ela ainda parecia indisponível. Embora minha tentativa de agir como alguém bem-intencionado, eu não sabia como resolver ou ajudar. Eu estava me sentindo perdido, não sabia se era correto a levar sem a sua conscientização.

Ao chegar no hotel sai do carro, abrindo o passageiro e pensando como vou tira-lá de dentro.
A puxei pelos braços para fora, fazendo com que seu corpo caísse no chão.
Não parecia correto fazer isso. Ela parecia vulnerável e indefesa, não era correto fazer uma coisa dessas. Talvez ela sofresse de alguma dependência, e agir assim só poderia piorar a situação. Mesmo assim, meu sentimento mais forte naquele momento era fazer o que fosse necessário para ajudá-la.

— Espero que Georg não se importe de eu ter pegado o carro dele emprestado — O que mais me perseguia era se alguém a teria notado, já que a situação me parecia meio bizarra. E o carro ainda era do Georg.

Peguei a garota do chão e colocoquei ela debruçada sobre os meus ombros, e andei com ela até o elevador.

— Ainda bem que existe elevadores! — Entrei no elevador, e, com o comando, escolhi o andar onde o meu quarto ficava. A garota continuava inerte, e, mesmo que tivesse parecido certo, não me sentia confortável com a situação.

Antes de chegar no andar de meu quarto o elevador para em um outro, e uma senhorinha entra. Me achego para o canto junto com a garota para dar espaço a senhora.
A senhora parecia algumas décadas mais velha do que eu. Usava um casaco de pele e um chapéu elegante. Ela só notou nossa presença no elevador quando a porta foi se fechando, e meu coração parecia ter desacelerado por um momento.

A garota já estava apagada, ela tinha parado de só me responder "hum" o que era bom para mim, mas não sei se era um bom sinal.
Eu fiquei muito preocupado. Era como se ela tivesse parado de existir. Era como se estivesse imersa em alguma outra realidade. Ou como se fosse toda consciente do que estava acontecendo, mas que simplesmente estivesse inerte, não podendo me responder ou se comunicar de qualquer outra forma.

A senhora para no andar seguinte e sai do elevador com uma cara de assustada e julgamento olhando para mim. Com um sorriso labial levanto os braços da garota que estava inconsciente e aceno um "tchauzinho" com eles.
A senhora não conseguia acreditar no que estava acontecendo. O sorriso tosco só a desconcertou mais, mas seguiu andando, aparentemente com a intenção de se afastar o quanto antes da situação. Eu não conseguia dizer se a minha atitude de achar graça era a melhor coisa a fazer nesse momento.

Ao chegar na porta do meu quarto tento pegar a chave que estava no meu bolso, mas com o peso do corpo dela, e as minhas calças largas, não estava dando.
A batalha comigo mesmo começou a ser uma situação quase cômica. Mas, era também um pouco desesperadora. Já me via passando toda a noite com a garota sobre os meus ombros, já que eu não conseguia deixá-la no chão.

— Porra! — Murmurei e deixei a garota no chão. Ela caiu no chão com um barulho semelhante ao que um saco de batata faria, se fosse jogado num chão de concreto. Foi uma cena até que engraçada, mas, no momento, eu só sentia um certo alívio de não precisar carregar o peso dela mais. Mas, o problema não havia se resolvido. Ainda não conseguia abrir a porta do meu quarto.

Finalmente consegui pegar a chave e abrir a porta. Arrastei a garota pelo chão na tentativa de não fazer algum barulho. Com certeza se alguém no corredor me visse naquele momento, iriam achar que eu estava tentando esconder um cadáver.
Eu sentia minha mente a trabalhar a mil por hora. Não me sentia capaz de pensar de forma racional. Uma voz dentro de mim gritava para levar a garota de volta ao centro do hotel, para os funcionários poderem ajudá-la. Mas, outra voz me dizia que precisava tomar cuidado para não ser preso.

Adentro com ela fechando a porta o mais silencioso possível, pois que por incrível que pareça, os garotos já estavam dormindo.
Era bizarro que aquele quarto, que estava surpreendentemente vazio até pouco tempo antes, agora estava repleto de pensamentos absurdos. Eu estava com a cabeça cheia de hipóteses e emoções. Não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo. Tudo isso parecia tão irreal.

Arrastei ela para perto do sofá, depois respirei fundo pelo esforço que estava fazendo. Peguei ela pelos braços e coloquei a parte de cima de seu tronco no sofá, depois peguei ela pelas pernas terminando de por todo o seu corpo no mesmo.
Pressionei a testa contra o sofá, sentindo a verdadeira realidade daquela situação. O quarto estava silencioso, mas as emoções do meu interior estavam em conflito, e isso me gerava uma sensação de esgotamento físico e mental. Era como se tudo isso fosse tirava toda a energia que me restava.
Eu poderia a colocar na minha cama, mas imaginei que ela poderia se apavorar ao acordar e vê que estava ali.
Diante de tudo isso, eu decidi ficar na minha cama, e tentar dormir, enquanto a mantinha confortável no sofá. Em um momento, um sentimento de culpa invadiu-me. Aquilo parecia ser muito injusto com a garota.

Peguei um moletom que havia alí e joguei em cima da mesma, ele era grande o suficiente para cobrir todo o seu corpo que estava encolhido. Tudo dentro de mim estava dizendo que era errado, mas sentia que não havia muitas opções. Ela estava inconsciente, e eu estava exausto. Eu só queria dormir, e acordar na manhã seguinte como se aquilo não tivesse acontecido.

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