Cannabis

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— Cheguei! — Hannah dizia subindo as escadas e indo para o meu quarto — Você já está fumando?

— Sim, por que não? — Respondi a ela enquanto bolava a erva na seda

— Sabe que se seus pais descobrirem eles nos mata, né?— Ela falou se escorando na parede e cruzando os seus braços — E o seu sonho de morar "sozinha" aos 18 acaba — Ironizou ela

— Sei muito bem, mas eles não estão aqui. E outra, eu já moro sozinha! Mas sem a conscientização deles.

Eu havia fugido de casa recentemente por causa de atritos com os meus pais, justamente por causa da cannabis. Mas não pense que não temos uma relação boa por causa disso, até porque nunca fomos tão achegados. Durante anos, nossa relação foi mais de "vozes alheias", eu vivia como se eles não fossem os meus pais. Eles trabalhavam o tempo todo, e eu era criada pelos empregados da casa. Mesmo que eu vivesse junto a eles, não havia afeto. E só agora eles querem bancar uma de "pais" e me dar lição de moral?

— E outra, antes de fugir tínhamos combinado que eles dariam a conscientização para mim poder morar sozinha

— Não é bem assim Mayla — Ela me retrucou

— Tanto faz! Mas isso seria o "presente" deles dos meus 18, e possivelmente seria a melhor coisa que eles já fizeram por mim — Eu fechei os meus olhos, revendo o meu próprio rosto, refletindo sobre os meus últimos 18 anos de minha vida. Foco meus pensamentos na vida que eu teria se eles estivessem presentes nela desde o começo.

— Se você acha assim — Ela rebateu

— Não acho, tenho certeza. Só estou tendo uma prévia de como é ficar sem eles me enchendo o saco! — Hannah revirou os seus olhos. Essa revirada de olhos é uma expressão facial matinal do seu dia a dia. Que indica desaprovação, impaciência, irritação, frustração ou desdém. Eu não sabia dizer ao certo qual dessas opções era a certa, poderia facilmente ser todas. Hannah é uma caixinha surpresa de emoções.

Hannah tinha perdido seus pais muito cedo, não teve o amor e o carinho devido na sua infância. Ela morou a sua vida inteira com sua vó. Por causa disso ela entro no mundo das ervas muito cedo. Bom, pelo menos foi isso que ela havia me falado.
Ela acha que as minhas atitudes e os meus pensamentos estão sendo errados, mas eu não ligo para isso, não ligo para a sua opinião.
Hannah reclamou de tudo, mas sua reclamação não fazia o menor sentido, pois todas as suas dificuldades vinham do fato dela não ter dado atenção aos conselhos de sua vó. Por mais que ela possa achar que está sendo apenas sensata, no fundo, sabe muito bem que está sendo agressiva por não ter seguido os conselhos da vida.

— Você está com o isqueiro aí? — Ela mexeu em seus bolsos, a procura do que eu a pedi

— Aqui está — Ela estendeu os braços já acendendo para mim— Vê se fuma lá fora, se não fica um nevoeiro aqui depois

— Hum, Tá bom — Baforei e me levantei, me retirando do meu quarto e saindo de casa logo em seguida

Entrei no carro de Hannah sem a mesma saber, liguei o rádio e fiquei tragando ali mesmo

— Porra! — Tirei o baseado da minha boca deixando entre os meus dedos. Apertava para trocar de estação mas o botão da rádio não funcionava

— Foda-se — Desistente deixo naquela estação, a onde começou a passar uma entrevista de uma banda — Tokio Hotel? Este nome me parece familiar — Joguei minhas pernas para cima do volante

Confesso que não era muito achegada ao Rock, mas já ouvi falar sobre eles, sempre na rádio ou na boca de outras pessoas. Provavelmente já devo ter os visto em alguma revista, mas não me lembro dos rostos deles, também, a maior parte do meu tempo eu estou chapada.

Quando o baseado acabou, eu olhei para fora do carro. O sol alaranjado do final do dia estava se aproximando do horizonte. O céu começava a transformar-se numa intensa cor de vermelho-esmeralda.
Desci do carro tropeçando em algumas pedras no caminho, voltei para dentro de casa, onde o sofá acolchoado parecia ficar mais confortável a cada minuto. Eu tentei relaxar o máximo possível, envolvendo-me nas almofadas.

— Estou de saída — Hannah apareceu, pegando sua bolsa que estava em cima do balcão da cozinha

— Para onde você está indo? — Ela passou por mim, me ignorando — Para onde, Hannah?

— Não te interessa — O som do trinco da porta estalou com um estrondo sonoro, junto ao barulho das chaves se batendo. Ela se retirou de casa, me deixando só sem nenhuma resposta

Não me arrependo nem um pouco de ter deixado o carro dela o puro nevoeiro

— MAYLA MÜLLER!— Pude ouvir seu grito soar de fora de casa, talvez ela esteja um pouco irritada.

Sozinha, começo a rir da mesma enquanto subia as escadas do corredor. Entrei no meu quarto, e me joguei em cima de minha cama, olhando para o teto e rindo ainda mais. Com certeza bateu.

Vícios  |Tom Kaulitz Onde histórias criam vida. Descubra agora