Capítulo 1

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Chuuya não conseguia lembrar de um tempo em que não gostava de aniversários.

Ter as pessoas mais importantes de sua vida reunidas, com o único propósito de se divertir e comemorar, com comida boa e bebida boa. Receber presentes era meio vergonhoso. Nunca sabia como reagir mas apreciava o carinho. E naquela noite de sábado, não foi diferente.

Nakahara Village tremia com o volume da música nas caixas de som, convidados riam e enchiam a barriga com salgadinhos, luzes coloridas dançavam por joias enormes e olhos já um pouco embaçados depois de taças e mais taças de champanhe e vinho.

Chuuya, acomodado numa das enormes poltronas da sala de estar, se via rodeado por caixas de presente e sorrisos cheios de expectativa. Paul diminuiu o volume da música.

"O meu primeiro!" — Tachihara pediu, enfiando um pacote com um laço elaborado nas mãos de Chuuya.

"Está filmando isso?" — Chuuya perguntou.

Tachihara abriu um sorrisinho torto por trás da câmera profissional que segurava. O cabelo vermelho-enferrujado apontava em todas as direções, como se tivesse enfrentado um tufão e perdido, mas era só resultado das horas que passou na pista de dança.

"É claro. Tenho que aproveitar seu rostinho bonito pra ganhar mais views."

Chuuya se limitou a revirar os olhos. À esse ponto, o canal no YouTube de Tachihara se tornou uma fan account da amizade dos dois.

"Se for um dildo laranja fluorescente, igual ano passado, eu te mato." — ameaçou.

Com os dedos cobertos pelas luvas, ele arrancou o laço sem cuidado algum e ouviu Paul suspirar mais ao lado, mas Chuuya nunca teve paciência para embalagens frescurentas. De dentro, tirou um chapéu preto da Gucci. Seus dedos deslizaram pelo material com devoção.

"Eu amo chapéus." — falou.

"A gente sabe." — todos responderam em uníssono, arrancando uma risada de Chuuya.

Os convidados estavam empilhados na sala de estar. Fazendo bom uso dos gigantescos sofás com aquecedores embutidos que foram escolha de Arthur Rimbaud, marido de Paul. O homem gostava do luxo e odiava o frio.

"Aqui o meu." — Piano Man depositou uma caixa de madeira fina no colo de Chuuya e antes que fosse aberta se virou para o irmão dele — "Espero não ser expulso da festa por cometer essa blasfêmia."

Curioso, Chuuya ergueu a tampa e deixou o queixo cair ao ver um Joh. Jos. Prüm. Cada garrafa custava, em média, vinte mil. Sentiu a boca salivar de vontade de provar, porém, bom vinho assim não se desperdiçava, deixaria para abrir em uma ocasião especial.

Paul Verlaine, com sua taça esbanjando o vinho vermelho da família, o Corruption, olhou com desapontamento para Piano Man.

"Vou permitir, só porque é o aniversário dele." — falou, por fim. Piano Man riu.

A onda de presentes continuou. O chão era sorrateiramente limpo de qualquer traço de pacotes rasgados, por um dos empregados. Mais petiscos foram distribuídos e algumas horas depois — mesmo com as luvas os dedos ainda ficaram doloridos de abrir embalagens — Chuuya soprou a vela. Um fotógrafo contratado explodiu o flash em seu rosto uma porrada de vezes e o bolo foi cortado.

Vinte e dois anos. Segundo Tachihara, era o ano da Taylor Swift. Chuuya não sabia o que isso significava, não ouvia música pop.

"Tô surpreso que Verlaine tá deixando a festa durar tanto." — Albatross comentou. Equilibrava uma taça cheia e um prato com um pedação de bolo de chocolate, nos braços — "Vocês não têm um compromisso amanhã?"

The Night Know Our SecretsOnde histórias criam vida. Descubra agora