Capítulo 2

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Chuuya ajeitava seu chapéu confortável na cabeça, de modo a manter a corrente pendurada no lado esquerdo do rosto, quando virou na bifurcação do corredor e encontrou seu irmão já esperando.

Paul Verlaine, o cabelo preso num rabo de cavalo baixo, os fios loiros reluzentes caindo em uma trança fina no ombro esquerdo, sobre seu colete de grife que complementava o terno. Ele estava vestido para impressionar, para negócios.

"Est prêt?" — checou, desencostando da parede.

Quando era criança, Chuuya vivia dando dor de cabeça aos pais por se enfiar no vinhedo e desaparecer por horas. Quando eles morreram, Chuuya passava todas as horas do dia grudado no irmão. Preocupado em perdê-lo também.

Assim que chegou na adolescência começou a se sentir um peso. Paul teve que cuidar dos negócios da família e impedir que falissem e ainda por cima criar o irmão mais novo. Chuuya sabia que não foi uma criança fácil. E agora, adulto, não via o casamento arranjado como um peso, e sim uma oportunidade de retribuir o cuidado e fazer sua parte para manter a vinícola viva. O legado de sua família.

E se para fazer isso, precisavam fazer acordos com outras famílias mais influentes, Chuuya casaria com um sorriso no rosto. Não acreditava em almas gêmeas ou a liberdade de encontrar seu único amor verdadeiro. Chuuya e seja lá quem fosse seu futuro marido, eram dois adultos responsáveis que aprenderiam a coexistir.

Paul parou em frente a ele e ajeitou sua gola da camisa vermelho borgonha. Chuuya permitiu que o irmão o mimasse.

"E se o homem do outro lado dessa porta for um coroa de pelo na orelha e sem dentes?" — especulou.

Paul sorriu um pouco.

"Lippmann me assegurou que seria um jovem da sua idade. Ele é, na verdade, algumas semanas mais novo."

Os dois se puseram a caminhar pelo extenso corredor, as luzes suaves faziam suas sombras alongarem sobre o chão de madeira polida.

Chuuya tocou na gargantilha de couro em seu pescoço, os dedos brincando com a fivela. A porta se ergueu diante de si e ele tomou um longo fôlego. Não tinha se permitido ficar nervoso até aquele instante e não se permitiria agora.

"Chuuya, — Paul estava com um olhar sério nas íris castanhas — não esqueça que eles são políticos. Pense e repense nas palavras antes de usá-las."

Chuuya assentiu e Paul abriu a porta.

A reunião aconteceria no pequeno salão. Com móveis de madeira escura, estofados de veludo verde-musgo e uma mesinha de centro exibindo um conjunto de chá que a julgar pelo vapor que soltava, tinha sido preparado não muito tempo atrás.

Chuuya balançou a cabeça discretamente quando percebeu estar analisando a mobília da própria casa. Talvez ele estivesse nervoso.

As três figuras se levantaram assim que Chuuya entrou.

O primeiro era Lippmann, o chefe de relações públicas dos Nakahara. Com seu sorriso gentil e uma pinta distinta sob o olho esquerdo. Os outros dois eram vagamente familiares. Chuuya não prestava atenção em política. Um hábito ruim e sabia disso, mas todos os políticos sempre pareciam ter a mesma cara.

"Ogai Mori." — o homem de cabelo preto e cachecol vermelho estendeu a mão para um aperto formal e Chuuya aceitou na mesma hora. Se o Governador achou estranho ele estar usando luvas, não fez nenhum comentário — "É um prazer finalmente conhecê-lo, senhor Nakahara. Estou ansioso para trabalharmos juntos."

"O prazer é todo meu."

O aperto de mão do segundo homem foi muito mais breve.

"Ango." — este disse.

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