Capítulo 12

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"Eu estou sem palavras."

O anúncio de Ango foi feito numa terça de manhã. O prédio da Mori's Corporation ficava no centro da cidade, despontando tão alto no céu que as paredes de vidro mostravam um horizonte de nuvens e névoa pesada.

A sala de reunião escolhida para o dia ficava no trigésimo quinto andar. Cheiro de café. Cadeiras desconfortáveis. Lippmann e Ango em pé com uma tela entre eles, exibindo todas as manchetes que saíram desde o dia anterior.

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Não passava de oito horas. Chuuya nem teve tempo de tomar um café da manhã decente. O expresso servido naquela sala tinha gosto de morte. E o corte na boca doía quando repuxava demais a pele. Chuuya estava achando muito difícil se importar com o tema da reunião.

"Quando o casamento foi arranjado, — Ango empurrou o óculos com a ponta do dedo — tínhamos esperanças de um ano tranquilo, regado por sorrisos pegos por câmeras e beijos em órfãos."

Do outro lado da mesa, Dazai bocejou.

"Ainda podemos fazer isso."

Era um homem de aparência perturbada esse Ango. Como se vivesse perpetuamente com o medo de sofrer algum ataque terrorista ou que os negócios despencassem.

Dentro do seu terno marrom e óculos de grau redondos, ele encarou Dazai com seriedade.

"E arriscar que vocês dois botem fogo num orfanato?"

Dazai riu.

"Não é engraçado." — Ango protestou.

Lippmann estava encostado alguns metros ao lado dele, mas não fazia menção de se manifestar. Contente em deixar a parte da bronca para Ango.

"Perder um carro num penhasco." — Ango começou listar — "Serem extremamente grosseiros com uma das entrevistadoras mais querida do país. E agora sair no soco com civis."

"Esperava que eu não fizesse nada?" — Chuuya disparou — "Um dos filhos da puta atirou uma garrafa na cabeça do Dazai. Teria levado ele ao hospital se eu não tivesse pego a tempo."

Dazai, que girava na cadeira de rodinhas, parou de repente. Os olhos escuros fixaram em Chuuya como se estivesse surpreso em ouvir que ele só começou a briga por sua causa. O que era ridículo.

"Chuuya, — Lippmann falou, sem se exaltar — promete pra mim que você vai parar de tentar lutar com caras duas vezes do seu tamanho."

"Vai se foder. Eu não sou tão pequeno."

A mesa de conferência era desnecessariamente comprida e sentado na cadeira fria os pés de Chuuya mal alcançavam o chão.

"Você tem um e cinquenta de altura." — Lippmann apontou.

"Eu tenho um e sessenta!"

"Sou muito grato por ter protegido Dazai, — Ango interveio — mas quebrar o queixo de um eleitor e o joelho de outro-"

Chuuya bateu o copo do expresso na mesa de mogno, derramando o líquido escuro pela borda.

"Ah, vai tomar no cu. Eu ainda peguei leve com aqueles escrotos do caralho. Onde já se viu tentar nos cercar no estacionamento? Eles não tem vida. Fanáticos por política."

The Night Know Our SecretsOnde histórias criam vida. Descubra agora