Capítulo 3

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Depois de intermináveis reuniões com os diferentes Supervisores da produção de vinho, Chuuya conseguiu encaixar uma hora de treino na academia, antes de voltar para casa.

Agora, sentado a mesa dentro do seu quarto, de banho tomado e sendo espiado através da janela pela lua alta no céu, Chuuya tirou um tempinho para si.

Não era muito de hobbies. Não pintava, não resolvia quebra-cabeças, não fazia crochê. Chuuya escrevia. Com um caderninho de couro aberto sobre a mesa e um lápis na mão, Chuuya deixava a mente vagar por palavras e seus significados. Encaixando uma na outra até formar um pequeno poema.

O caderno de bolso era um de muitos, cheios de poemas, pequenos contos e até Haicai. Chuuya gostava de palavras. E quando a inspiração para seu livro original não vinha, ele transbordava o desejo de escrever no caderno.

Ergueu o olhar para o laptop aberto no documento do seu livro. O capítulo trinta e oito estava vazio. Uma tela branca pronta para ser preenchida. Já fazia um tempo que Chuuya não conseguia se concentrar nos seus pobres personagens originais e suas histórias.

O poema, por outro lado, saiu decente. Chuuya suspirou e fechou o caderno.

Ango tinha enviado uma ficha informativa contendo o básico e mais um pouco sobre Dazai. Supostamente para cada tópico ser decorado e Chuuya pareceria saber tudo sobre seu noivo.

Bem merda. Não havia nada ali que Chuuya não pudesse encontrar no google. Data de aniversário? 19 de Junho. Altura? 1,81 cm. Comida favorita? Caranguejo. Cor favorita? Preto. Melhores amigos? Edogawa Ranpo e Akiko Yosano. E fazia sentido o anúncio ser na premiere de um filme que Ranpo estava entrelando.

Básico. Impessoal. Chuuya não precisava saber o maior medo quando criança ou o maior trauma da vida dele ou qual o lado favorito na cama, mas a ficha chegava a ser ridícula de tão superficial.

Com um bufo descontente, Chuuya puxou o laptop para perto e abriu o Twitter. Nada melhor do que fazer pesquisa numa conta de fã que postava atualizações diárias.

Aparentemente, ninguém sabia quem eram os pais biológicos de Dazai. Mori se tornou seu guardião legal quando tinha apenas 14 anos. E não existia nenhuma informação antes disso. Chuuya mordeu a ponta do dedo e continuou lendo.

Sua cantora favorita era Britney Spears. O que devia ser mentira. O cara se vestia como um lorde gótico e gostava de pop chiclete? Não mesmo.

Apesar de trabalhar na política, Dazai era adorado como uma celebridade. Sessões de fotos, capas de revistas de moda, linha de perfume. O rosto perfeito. O marketing perfeito. Contanto que os fãs fossem obcecados por ele, votariam em Mori sem nem pensar duas vezes.

Assim sendo, não apenas o anúncio do noivado seria uma estratégia de publicidade, colocaria Chuuya no radar de fãs obcecados. Um número assustador de fãs.

Chuuya, é claro, não era estranho à fama. Apesar do ramo do vinho não trazer paparazzi, depois do casamento de Paul e Arthur, a imprensa deu especial atenção a Chuuya.

Um jovem bonito e solteiro? Um sonho. Chuuya ganhou o papel de protagonista num filme que Rimbaud dirigiu. E recebeu o nome numa coleção de moda de Kouyou, como presente.

Chuuya enrolou uma mecha ruiva no dedo nu — se permitia ficar sem luvas apenas quando estava sozinho. A escolha de noivos era estrategicamente perfeita. Isso seria interessante.

༝༝༝༝

The Village Theatre esbanjava bom gosto. Tapete vermelho. Uma tela descomunal exibindo um pôster do filme Labirinto Invisível. Luzes profissionais cegantes iluminando a parede para fotos.

The Night Know Our SecretsOnde histórias criam vida. Descubra agora