"Qual é, Chuu?" — falou Tachihara — "Por favorzinho."
Era um dia ensolarado. Parreiras de uvas seguiam em filas retas até onde os olhos alcançavam, e Chuuya caminhava entre elas, supervisionando a colheita manual dos trabalhadores. Tachihara o seguia de perto, raíz escura apontando no cabelo vermelho-ferrugem.
"Usar o diminutivo não vai me fazer mudar de ideia." — Chuuya avisou. Ele apoiou a mão no topo do chapéu na cabeça, escondendo os olhos dos raios de sol.
"Meus seguidores tão implorando, cara." — Tachihara insistiu.
"Eles também imploram pra você fazer thirst trap na academia e não te vejo tentado a obedecer."
Tachihara pareceu abalado pela veracidade da resposta mas Chuuya já estava se afastando.
"Como estão as coisas?" — perguntou a um dos trabalhadores.
"Tudo no conforme, chefe." — a mulher garantiu, usava luvas e depositava os cachos gordos de merlot no cesto — "O caminhão vai chegar em uma hora."
Chuuya assentiu. Pediu uma tesoura para ela e cortou o cabo de um cacho. Fez uma inspeção rápida pelas estragadas e notou que as abelhas tinham voltado a morder, murchando algumas bolinhas. Mais atrás, Tachihara roubou umas do cesto e comeu sem nem lavar.
Ele tinha essa mania de aparecer aleatoriamente na Nakahara Village. Com videos para editar e planejamento de postagens para as próximas semanas esperando, seu passatempo favorito era procrastinar seguindo Chuuya por aí, assistindo ele trabalhar na vinícola.
Chuuya limpou a sujeira das luvas na calça e voltou a caminhar por hectares e mais hectares de videiras. Tão lindas que dava orgulho de ver.
"Não é como se o teu noivo fosse tímido." — Tachihara retomou o assunto quando eles chegaram no prédio de seleção — "Ele foi no programa do Gogol. Você sabe que tipo de perguntas eles fazem lá?"
Chuuya se lembrou da indignação de Stoker na matéria do Eye of Hawk.
"Invasivas."
"Exato. Eu não vou ser tão invasivo." — Tachihara prometeu.
Chuuya odiava insistência, odiava quando pessoas tentavam obrigá-lo a fazer o que não queria, e colocou todo o peso desse sentimento no olhar que deu a Tachihara.
"Vou pensar sobre. Satisfeito?"
"Não, mas também não tô afim de levar um soco, então vou calar a boca."
Passando pelas esteiras, Chuuya observou os trabalhadores selecionando as melhores uvas. Metade seria mandada para a produção de vinho branco e metade para a nova linha de vinho tinto.
O barulho e cheiro eram tão familiares que causava uma dor no peito dele. Quase podia ver os pais supervisionando a produção, as mãos manchadas permanentemente de uva. Chuuya gostava de sentar no ombro do pai e assistir tudo com fascínio.
Agora parou no centro da fábrica, com funcionários lançando olhares nervosos pela presença tão próxima do chefe. Era um adulto agora. E a responsabilidade da vinícola não era mais dos pais.
Chuuya engoliu a dor oca do luto. Sempre presente. Tirou o caderninho do bolso e rabiscou algumas linhas novas. Talvez seriam um poema, talvez iriam para um novo capítulo em seu original. Talvez.
Sentiu uma presença sobre seu ombro e fechou o caderno.
"Você sabe que é pessoal." — alertou a Tachihara.
"Foi mal." — ele se afastou — "Mas se você vai publicar um dia, um montão de gente vai ler essas coisas pessoais."
"Não estou publicando nada agora." — Chuuya guardou o caderno no fundo do bolso e voltou a andar — "Corruption está começando a produção da nova linha e Paul precisa que eu supervisione todas as etapas. Não tenho tempo para pensar em coisas absurdas como publicar um livro."
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The Night Know Our Secrets
FanficChuuya sempre soube que seu casamento seria arranjado. O que ele não esperava era seu noivo ser o homem mais irritante da face da terra e por todo o mundo da internet ficar obcecado com o relacionamento dos dois.