Capítulo 25

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Dizem que só é preciso um minuto para mudar sua vida. Para melhor ou para pior.

No caso de Chuuya, foi preciso apenas uma foto. E sessenta milhões de curtidas e compartilhamentos.

Era seu segredo. Seu segredo feio e nojento. Mas era seu. E ninguém tinha o direito de expôr para o planeta inteiro dessa forma.

Naquela hora, Chuuya apenas respirou fundo, devolveu o celular a Lippmann e se retirou da sala.

Ouviu Paul chamar e Arthur aconselhar que o deixassem em paz.

Chuuya esqueceu seu objetivo de comer. Voltou para o quarto e sentou no meio da cama.

Chuuya trabalhava todos os dias. Comandava uma empresa de vinhos. Chuuya fazia academia. Levantava pesos que assustavam seus colegas de musculação. Chuuya passava cada segundo respirante dos dias atolado em gravações de publicidade, eventos de caridade, photoshoot.

Tudo isso e mais um pouco para manter a mente bem ocupada. Focado em um trabalho atrás do outro.

Pensava estar indo bem. Pensava ser um bom plano. Aí chega uma noite, em um ano aleatório da sua vida, e tudo vai por água abaixo.

Chuuya respirou fundo. No centro da cama enorme. Rodeado por lençóis de seda. Um montinho de homem tentando se manter são.

Não podia se permitir ter outro ataque de pânico. Aquelas pessoas no andar de baixo já estavam estressadas o suficiente. Chuuya não causaria mais um problema.

Resgatou seu caderno debaixo da montanha de travesseiros e pegou uma caneta.

Chuuya escreveu. A cada palavra a próxima ficava mais fácil. A realização o alcançou como um sussurro soprado em meio ao silêncio do quarto, que ele não passou a vida toda escrevendo simplesmente porque gostava de palavras, mas sim porque escrevendo era quando conseguia respirar.

Se não podia mostrar ao mundo como se sentia. Se não podia usar a própria voz para expressar o que queria. Se estava tão quebrado que as pontas tortas e afiadas machucavam a si mesmo, a escrita ajudava. As poesias, as histórias, fluíam por entre seus trincados como ouro.

Ficção é a mentira pela qual dizemos a verdade.

Chuuya afundou nos travesseiros. E mesmo que não pudesse apagar da memória das pessoas algo visceralmente pessoal, podia pelo menos expressar seu ódio na tinta da caneta que tomava as páginas do caderno.

Albatross apareceu. Fez piadas sobre Chuuya ser n° 1 no trending topics, ultrapassando o novo filme da Marvel e o último drama da realeza britânica.

Piano Man veio em seguida. Sentou na ponta da cama e relembrou histórias de quando ensinou um Chuuya adolescente a abrir fechaduras.

Doc foi o terceiro. Sugerindo diferentes formas de matar Shirase e como ninguém rastrearia a culpa em Chuuya.

À esse ponto, Lippmann chegou e expulsou Doc do quarto. Depositou uma bandeja de café da manhã na mesinha de cabeceira e não tentou bater papo.

Paul nunca foi bom com conforto. Não sabia lidar com as próprias emoções, seria hipócrita tentar ajudar os outros com as deles. Por isso enviou Arthur em seu lugar.

Arthur era uma presença calma. Uma voz suave. Ele se enfiou debaixo das cobertas de Chuuya e explicou a situação.

Os advogados da família estavam trabalhando no processo judicial contra Shirase. As fotos foram banidas do twitter em poucas horas. E qualquer jornal ou blog de notícias que tentasse usar a imagem em artigos, também seriam processados.

Chuuya agradeceu pela explicação. Se sentia dormente. Um bolo na garganta. Um desejo infantil de voltar no tempo e impedir que as pessoas o vissem dessa forma.

The Night Know Our SecretsOnde histórias criam vida. Descubra agora