Cabelo novo.

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- Lawrence! - Grita, procurando o velho por todo canto da casa. - Ah, você tá aí. - Fala, ao ver Jack jogado no sofá.

- Pensei que se ficasse quieto, você pararia de me gritar. - Brinca, abrindo os olhos.

- Ah, para com isso! - Ri. - Preciso de 15 dólares. - Pede, ou ordena. Dá na mesma.

- "Oi, Jack. Obrigada por tudo que fez por mim, tudo bem com você?" - Imita a voz fina de Claire, como se quisesse ouvir isso.

Claire sorri.

- É sério, Jack! Quero pintar meu cabelo. Você não vê como ele tá ridículo? - Pergunta, retoricamente.

- Pintar o cabelo? De que cor? - Ele praticamente salta do sofá.

- Alguma cor escura, para esconder esse azulado desbotado. - Conclui.

- E com quinze dólares você consegue isso? Caramba, mulher faz milagre mesmo. - Se senta de novo.

- Eu só vou comprar uma tinta e pintar aqui mesmo. Não é muito difícil.

- Eu também quero.

- Como é que é? - Ela arqueia as sobrancelhas.

- Quero pintar meu cabelo. - Repete.

Claire para uns segundos pensando, e logo solta uma gargalhada.

- É sério? - Tenta recuperar o ar.

- Não entendi, Diaz. - É a vez de Jack arquear as sobrancelhas.

- Ai, nada! - Volta a soltar uma gargalhada. - E os quinze dólares?

- Você é insuportável, pirralha. - Ele tira uma nota de vinte dólares do bolso, entregando para ela. - Quero o troco. - Avisa.

- Obrigada! - Sorri.

Claire sai de casa, procurando por uma loja mais próxima que tenha tintas escuras de cabelo.

As manchas de tinta no rosto de Claire aumentam ainda mais.

"Deveria ter chamado alguém para fazer isso", Pensa.

Mas ela não tinha ninguém para chamar. Claire era rodeada de homens, e eles não eram muito bons com isso.

Ela pensava em qual foi a última vez que tivera uma amiga mulher, na qual poderia conversar as coisas que não podiam ser mencionadas com Falcão.

Claire já foi amiga de Samantha LaRusso, elas eram amigas inseparáveis, mas nem tudo dura para sempre.

Samantha se afastou dela sem nenhum motivo, pelo menos era o que Claire achava.

- Cacete, Diaz! Eu preciso usar o banheiro. - Grita Lawrence, do outro lado da porta.

- Eu preciso de mais um tempo! - Grita de volta.

Ela olha a hora no relógio pendurado, e logo se assusta. Claire passou mais de duas horas pintando o cabelo.

A campainha toca. Ou algo parecido com uma campainha.

Claire escuta o som da porta de abrindo, mas não se preocupa com quem é.

- Diaz! Seu amigo Águia está aqui. - Grita o velho Lawrence.

- É Falcão. - Moskowitz corrige, esbravejando.

- Já vai! - Grita de volta.

Claire veste sua camisa novamente, destrancando a porta do banheiro.

- Oi! - Cumprimenta.

Falcão se sente surpreso ao ver Claire tão bonita assim. Seus cabelos lisos estavam tão hidratados desde a última vez que a viu.

- Caralho! - Sua única reação é essa.

Claire sorri, envergonhada.

- Nem parece aquele urubu que me pediu quinze dólares 4 horas atrás. - Lawrence brinca, correndo para entrar no banheiro.

- Vai se foder, Jack! - Ela dá o dedo para a porta, que logo é fechada pelo velho.

- Você tá linda. - Fala, pela primeira vez.

- Obrigada. - Agradece. - Sabe, eu tava pensando: quanto tempo você demora fazendo esse moicano? - Pergunta, curiosa.

- Quem pergunta isso? - Falcão ri, indo se sentar no sofá.

- Eu?

Ele revira os olhos.

- É sério, quanto tempo leva? - Repete.

- Eu não vou te falar. - Eli faz careta.

- Por que? - Claire sobe em cima do sofá, indignada. Ou fingindo que estava.

- Porque não, Clarinha. - Ele se aproxima, colocando uma mecha do cabelo da garota para trás da orelha.

Claire encara seus olhos.

- Que é? - Pergunta, observando a intensidade do olhar da amiga.

- Nada. - Desvia.

Falcão sorri.

- Que horas são? - Pergunta.

- 13:53. - Responde.

- Eu já vou para o dojô, vamos? Vim te buscar. - Ele se levanta.

- Vou com meu pai. - Diz.

Foi a primeira vez que Claire admitiu que considerava Jack como seu pai. Foi uma surpresa para ela também.

- Ok. Até mais tarde, Clarice.

E sai.

Ela não acreditava no que tinha acabado de dizer.

Pai.

Tudo bem, é um termo diferente para tratar Lawrence, mas muito afetivo. E ela gostava disso.

Jack era quase seu pai mesmo.

- Tá pronta? - Pergunta, limpando as mãos molhadas na calça.

Claire assente, mas antes de seguirem em frente, ela abraça Jack.

- Obrigada. - Agradece, num sussurro.

- Pelo que, garota? - Pergunta, confuso. Ele passa os dedos pelos novos cabelos de Claire.

- Eu sei lá... eu não conheci meu pai, não tive nenhum contato. Você foi o mais próximo que eu tive de um, Lawrence. Obrigada por ter sido o melhor pai que eu já pude ter. - Sorri, com lágrimas nos olhos.

Lawrence parecia chocado. Ele tentou não chorar. Várias vezes.

- Obrigada, Claire. - Sorri. Era a primeira vez que ele tinha chamado a garota pelo seu nome. - Você também é como minha filha. Eu sempre tentei de tudo para que você me visse como uma figura paterna, mas nunca soube se estava dando certo. - Pausa. - As visitas que eu te fiz no reformatório, foi mais para que você não se esquecesse que eu queria ter a presença de um pai na sua vida. - Completa.

Lágrimas escorrem pelo rosto de Claire.

- Obrigada por isso, pai. - Se separa do abraço. - Posso te chamar assim agora, Lawrence? - Sorri, limpando as lágrimas.

Não é do feitio da Diaz chorar na frente de alguém, mas ela não ligava de parecer fraca para ele. Era normal. Ele não ia usar isso contra ela. Nunca.

- Mas é claro, minha filha. - Sorri, puxando ela para a porta. - Limpa essas lágrimas, a gente não pode dar uma fraqueza sua de bandeja. - Brinca.

- Você tem razão. - Entra na brincadeira também.

Eles entram no carro, dirigindo até o dojô.

934 palavras.

𝐊𝐀𝐑𝐀𝐓𝐄 𝐂𝐎𝐁𝐑𝐀'Onde histórias criam vida. Descubra agora