CLAIRE DIAZ NARRANDO
Estou internada faz três dias. Miguel está lendo uma história para mim, mas não consigo prestar atenção. Tive mais três surtos depois daquele. Meu pai achou que eu deveria tentar a terapia, mas Miguel teve certeza de que só isso não adiantaria. Estava à beira da loucura.
- No que está pensando? - Meu irmão pergunta, paciente.
Sua voz é tão calma.
- Nada, na verdade. Sinto muito por não prestar atenção. Eu gosto do seu jeito de contar histórias, mas estou cansada. - Tento não parecer grossa ao falar essas palavras.
- Tudo bem, minha linda, vou deixar você descansar. - Meu irmão fala, beijando o topo da minha cabeça e saindo.
Ele fecha a porta calmamente.
Posso dizer que amo meu irmão demais.
Estou na melhor clínica psiquiátrica da cidade, mas não sei como Jack conseguiu tanto dinheiro para isso.
Me levantei da maca, que por sinal, era muito confortável. Vou até o banheiro. Quero tomar banho, mas não tenho coragem de fazer isso estando sozinha no quarto.
Olho minha aparência no grande espelho à minha frente. Estou igualzinha quando saí do reformatório, só que sem as cicatrizes.
Olheiras profundas, pele pálida, cabelo bagunçado e desidratado.
Não me acho bonita em dias normais, mas agora, estou horrorosa.
Quero evitar me olhar no espelho para não me sentir pior ainda.
Jogo uma água no rosto e volto para o quarto.
Miguel está o tempo inteiro na clínica, sempre me fazendo companhia e contando histórias para me distrair. Jack também, eu amo quando ele vem, apesar de ter muito trabalho para vir aqui com frequência.
Sei que ele está fazendo o que pode. Sempre que vem, traz meu café favorito. Isso é uma grande demonstração de amor vindo dele. Tento entender o lado do meu pai sempre, porque ele é tudo que eu tenho. Além de Miguel, é claro.
Fecho os olhos.
Tento dormir, mas ainda escuto Eli me chamar.
Eu vou te pegar.
Ele agarra meus pulsos e me olha com aquele olhar psicopata. Me vejo desesperada.
Tento correr, tento colocar em prática minhas habilidades de caratê, mas estou congelada.
Falcão chuta meu estômago diversas vezes. Estou caída no chão.
Vou morrer.
Começo a gritar. Uma. Duas. Três vezes.
Sinto alguém me chaqualhar e pulo da cama.
Foi só um sonho.
Estou suada e com lágrimas nos olhos.
Vejo Linkon na minha frente.
O que ele está fazendo aqui?
- Você está bem? Eu ouvi você gritar e... - O interrompi antes que ele pudesse terminar.
- O que você está fazendo aqui? - Pergunto diretamente.
- Eu estou sempre aqui, Diaz.
- Mentiroso! Eu nunca te vi aqui.
- É porque eu não entro. Não quero te deixar desconfortável. - Explica. - Quando você está dormindo, eu sempre verifico se está tudo bem. Quando Miguel sai do seu quarto, eu fico conversando com ele, procurando informações suas. Eu sei que eu fui um filho da puta quando te deixei em casa na última vez, mas é que eu não podia...
Interrompi novamente.
- Linkon, por favor, pare de falar. - Peço, tentando não parecer grossa. - Eu não consigo assimilar todas essas suas palavras de uma só vez. - Falo, me levantando da maca.
Não queria fazer isso, mas a primeira reação que tenho é abraçá-lo. Ele se assusta com meu ato, mas me aperta fortemente, como se estivesse morrendo de saudades de mim.
- Eu pensei que você fosse me bater. - Ele brinca.
- É uma boa ideia.
Me afasto dele e me sento na cadeira. Estou tonta. Espero que ele não saiba que não estou me alimentando bem.
- Ah, olha. - Linkon aponta para um buquê de tulipas roxas no vaso do lado da maca. - Eu que trouxe. Achei sua cara, C. - Explica, envergonhado.
- São lindas.
Abro um sorriso de orelha a orelha. Pego as flores no meu colo e vejo um bilhete dentro.
- Não! - Ele praticamente grita. - Espera eu sair para você ler, por favor. - Parece que Linkon está implorando.
- Tudo bem.
O garoto some do meu campo de visão em segundos.
"Sinto muito pelo que aconteceu na última vez que nos vimos. Não foi de propósito, eu juro.
Fiquei em choque quando soube que você tinha sido internada, C.
Não sabia que você estava tão mal assim. Me senti péssimo por não ter ajudado. Minha mãe e eu decidimos pagar a sua clínica, porque não aceito que você ficasse em qualquer lugar. Não queria que você soubesse disso, mas ela insiste em contar.
Bom, tulipas me lembram muito você, porque são minhas flores favoritas, além de serem muito bonitas.
Seu aniversário está chegando, não é?
Miguel me contou.
Não vou deixar que você passe ele em branco. Pode deixar!
O karatê é sem graça sem você. O sensei anda muito desanimado. Não queria fofocar, mas vi ele chorar na sala dele outro dia. Não ouse contar que eu lhe disse isso!
Enfim, estou sempre por perto, cuidando de você.
Sinto sua falta-_Linkon ☘️"
Estou emocionada quando termino de ler. Abraço meu buquê, como se fosse meu filho.
- Vou cuidar de você muito bem, prometo. - Falo, cheirando as tulipas.
Quero sair do quarto, mas não sei se posso. Tenho medo de encontrar Falcão.
Isso é quase impossível, eu sei, mas não quero arriscar. Ainda não estou totalmente bem, então, é melhor prevenir.
Quero falar com meu pai. Estou com saudades.
•••
É tarde da noite, e eu estou deitada na maca com meu irmão. Estamos conversando.
- E você sente falta do karatê? - Ele pergunta.
- É o que eu mais sinto falta. - Falo. - Depois do meu pai e de você, é claro. - Acrescento.
- Acho bom. - Ele sorri. - Falando no Lawrence, ele vem aqui amanhã. Está louco para te ver, mas não quer que você o veja chorar. - Meu irmão explica.
- Se eu ver Jack chorar, eu choro junto. Nunca vi ele chorar. Quero dizer, já percebi que ele chorou, mas ver, eu nunca vi.
- Muito menos eu.
Miguel olha o horário no seu relógio, e decide que já vai para casa. Me sinto triste com essa notícia, mas não quero que ele fique aqui a noite inteira.
Meu irmão se despede com um beijo na minha cabeça.
É hora de dormir, Claire.
Estou torcendo para não ter pesadelos novamente.
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𝐊𝐀𝐑𝐀𝐓𝐄 𝐂𝐎𝐁𝐑𝐀'
Teen Fiction🥋 - 𝗗𝗲𝗽𝗼𝗶𝘀 de sair do reformatório, 𝗖𝗹𝗮𝗶𝗿𝗲 𝗗𝗶𝗮𝘇 retorna a Los Angeles para recomeçar sua antiga vida no caratê. Dentre todas as confusões, ela lida com sua vida, que apesar de ser muito complicada e cansativa, tem a ajuda de 𝗝𝗮𝗰�...