𝐊𝐀𝐑𝐀𝐓𝐄 𝐂𝐎𝐁𝐑𝐀'

Meu fim.

CLAIRE DIAZ NARRANDO

Estou na porta de casa. Está escuro e frio, não consigo enxergar. Ninguém abre a porta. Já bati milhares de vezes. Não tenho para onde ir.

Não quero ir para a casa de Linkon. Definitivamente não é uma opção. Tenho entre duas alternativas: ficar aqui até amanhecer ou...

Ou ir até Bella.

Eu me lembro onde ela mora. Não quero parecer uma intrusa, mas gostaria de vê-la. Quase não me lembro de seu rosto.

Miguel me contou que, quando eu estava na clínica, Bella foi me visitar duas vezes, mas não teve a chance de me ver, graças aos remédios que eu estava tomando.

Fiquei triste, porque gostaria que ela estivesse lá comigo. Nunca fomos grandes amigas, mas, quando eu estava à beira da loucura - talvez ainda esteja - Bella tentou estar comigo, diferente de alguns amigos que já tive ao longo da vida.

Estou caminhando até a casa dela agora. Não fica muito longe da casa de papai, mas está escuro, e não estou 100% curada.

Estou tremendo, e não é de frio.

Começo a correr, mas minhas pernas estão fracas, e acabo tropeçando entre elas. Foram tantos tropeços, que cai no meio da estrada.

Me ajoelhei e comecei a chorar.

O que vai acontecer comigo? Como vou ficar bem novamente? Minha vida acabou. Graças ao Falcão.

O filho da puta que destruiu minha vida. O filho da puta que eu mais amei na minha vida.

Vejo uma luz vindo em minha direção. É um carro, e por um segundo, eu não ligo mais. Ele vai me atropelar. Eu não ligo mais. Meus miolos vão sair para fora da minha cabeça. Eu não ligo mais.

Eu não quero acabar com minha vida, só quero que meus problemas sumam.

E para eles acabarem, eu preciso estar morta.

A luz se aproxima cada vez mais.

Eu aceito meu fim. É tudo que penso.

Infelizmente, quando a pessoa do carro me vê, imediatamente, ele para.

Ele sai do carro furioso.

- Você tá louca, porra? - Ele grita.

É a frase que mais tenho ouvido nos últimos dias.

Não respondo, apenas levanto e saio correndo.

Ainda com minhas pernas tropeçando, morrendo de frio e com a visão embaçada.

Não demoro para chegar até a residência de Bella. Bato desesperadamente na porta.

Ela abre com a maior cara de sono do mundo, mas quando me vê, se assusta.

- Puta merda, Diaz! - Ela exclama, abrindo espaço para que eu entre. - Você fugiu? Puta que pariu! - Bella parece muito animada.

- Aconteceu muita coisa, posso dormir aqui? - Pergunto, entrando na sua casa.

- Claro que pode.

Bella sorria largamente.

- Por que está tão feliz? - Pergunto, me deixando levar.

- Você fugiu de uma clínica psiquiátrica! Você tem ideia do quanto isso é foda?

- Acho que não.

Bella pegou um travesseiro e um cobertor para mim. O sofá era confortável.

Nunca pensei sobre isso antes, mas acho que, lá no fundo, bem lá no fundo, eu goste muito de Bella.

Talvez, um dia, eu considere ela minha irmã, assim como Miguel é.

•••

Acordo no meio da noite. Quando isso vai acabar?

Começo a pensar nele. E no quanto nós poderíamos ter tido tudo.

As cicatrizes de seu amor me fazem pensar em nós. Não entra na minha cabeça como ele pode estragar tudo tão rápido.

As cicatrizes de seu amor me deixam sem fôlego. Estou louca.

Eu desejaria nunca ter conhecido esse Falcão.

Ele teve meu coração na palma de suas mãos, e brincou com isso.

Nós poderíamos ter tido tudo.

Me sinto tão sozinha. Tão culpada. Como posso estar fazendo isso com Linkon? Estou com ele agora, não estou?

Ele perdeu dias de escola. Perdeu dias de conforto. Tudo para ficar comigo.

Assim como Miguel.

Eu só tenho a agradecer.

Eu tenho uma família agora, não tenho?

Estou bem.

Preciso ficar bem.

Embora repita isso diversas vezes na minha cabeça, não consigo evitar o choro. Tento não soluçar e ser silenciosa, não quero que Bella ouça nada.

•••

Acordo com Bella me chacoalhando.

- Puta que pariu! Graças a Deus, graças a Deus! - Ela murmura aí ver que eu abri os olhos.

- O que foi, porra? - Pergunto, contrariada.

Bella coloca as mãos sobre a cabeça, como se estivesse desesperada. E realmente estava.

- Você fala enquanto dorme, Diaz! Eu pensei que você estivesse tendo uma crise. - Responde, se sentando ao meu lado.

- O que eu falava?

- Coisas como... "Ele vai me matar" ou "Ele está vindo atrás de mim". Isso é assustador, merda! - Ela exclama, com os olhos arregalados.

Bella se levanta e começa a andar de um lado para o outro, me deixando totalmente nervosa.

- Porra, Keene. Eu estava em uma clínica psiquiátrica, você queria que eu já estivesse totalmente curada? Não é bem assim! - Me levanto e seguro seus ombros, fazendo com que ela fique virada para mim.

- Eu sei, você não tem culpa, me desculpa. Mas é assustador!

- Eu sei que é, pode apostar, Keene! Eu não dormia a dias, eu não estou nada bem, eu estou louca!

- Me desculpa.

Bella se senta no sofá e cobre o rosto com as duas mãos.

Me ver falando enquanto durmo foi tão ruim assim? Ela não viu nada.

- Você precisa voltar para a escola.

- Eu vou.

Bella se levanta rapidamente do sofá, pegando a mochila que estava na cadeira e sumindo do meu campo de visão.