Capítulo 7 🚢❤

110 7 23
                                    

Michael

-Boa noite, senhor.-Um homem abre a porta de madeira para que eu entrasse, sorri levemente. Caminhei até chegar a uma enorme escadaria. Desci a mesma e me escorei em uma pilastra. Observei o modo que alguns casais andavam, e fui treinando com o braço, ao mesmo tempo cumprimentava quem me dava um "boa noite".

Barry desce acompanhado da mãe de Jacqueline. Eles me ignoraram totalmente. Continuei ensaiando a forma de cumprimentar as pessoas e andar como um cavalheiro, e nem percebi quando Jacqueline desceu. Usava um vestido brilhante com um leve decote, e um batom bem escuro. Fiquei paralisado ao vê-la descendo as escadas, quando ela termina de descer os degraus, seguro sua mão direita e deposito um beijo.

-Eu vi isso uma vez no cinema e sempre quis fazer igual.-Nós dois rimos, dou meu braço para ela segurar.

-Condessa!-Barry cumprimenta a mulher, também beijando sua mão.

-Querido.-Jacque o cutuca, e ele vira para nós.-Deve se lembrar do senhor Michael Jackson.

-Jackson? Interessante...você quase se passa por um cavalheiro.-Diz Barry.

-É, quase.

-Extraordinário!-Virou-se novamente, a sogra continua o acompanhando.
Descemos mais uma escadaria a caminho do grande salão de jantar.

-Essa é a condessa de Rothes.-Jacque sussura.-Aquele é John Jacob Astor, o homem mais rico do navio. A mulher dele tem a mesma idade que eu e já está em um estado interessante. Viu como tenta esconder? Um escândalo! Aquele é Benjamim Guggenheim e sua amante Madame Aubert, a senhora Guggenheim está em casa com os filhos é claro. E ali temos Sir Cosmo e Lady Duff Gordon.-O casal acena para ela.-Ela desenha lingeries ousadas, dentre muitos outros talentos. Muito popular entre os nobres.

-Gostaria de acompanhar mais uma dama para jantar?-Molly pergunta alegremente.

-Claro que sim!-Estico o braço e ela segura.

-Querida. Meu amor.-Barry chama a noiva.

-Não é difícil, Michael. Lembre-se que eles amam o dinheiro. É só fingir que tem uma mina de ouro que entra para o clube.-Diz Molly.-Astor!

-Olá senhora Brown!

-J.J., Madeleine, este é o senhor Michael Jackson.-Ela me apresenta ao ricaço do navio.

-Muito prazer.-A moça aperta minha mão.

-É um dos Jackson de Boston?- Astor pergunta me observando.

-Não. Jackson de Gary, Indiana.

-Ah sim...

Jacqueline

Michael parecia muito nervoso, mas não cometeu erros. Todos pensavam que ele era um deles, herdeiro de uma fortuna de ferrovia. Talvez um novo rico, mas ainda assim um membro do clube. Mamãe é claro...sempre sabia estragar tudo.

-Nos conte sobre as acomodações da segunda classe, senhor Jackson. Soube que são ótimas neste navio.-Pergunta com tom debochado.

-São as melhores que eu já vi, madame. Elas quase não tem ratos.-Todos na mesa riram com a resposta dele.

-Convidei o senhor Jackson para vir até a primeira classe. Ele salvou minha noiva ontem a noite.

-Acontece que o senhor Jackson é um ótimo artista. Fez a gentileza de me mostrar seu trabalho hoje.-Digo.

-Jacque e eu discutimos recentemente sobre o verdadeiro significado da arte. Não desmerecendo o seu trabalho, senhor Jackson.-Michael balança a cabeça negativamente, em resposta ao Barry.

Eu chamo a atenção de Mike para ele tirar o guardanapo da mesa quando vejo os garçons se aproximarem com os pratos.
Percebi o nervosismo dele ao ver tantos talheres.

-São todos pra mim?-Ele pergunta para Molly.

-Comece de fora para dentro.

-Ele conhece cada parafuso do navio, não é Thomas?-Diz Senhor Ismay.

-Seu navio é uma maravilha, senhor Andrews.-Eu elogio.

-Obrigado, Jacque!

-Como gosta do seu caviar, senhor?-O garçom pergunta a Michael.

-Eu não quero caviar, obrigado. Não gosto muito.

-Onde exatamente mora, senhor Jackson?-Minha mãe indaga.

-No momento meu endereço é o RMS Titanic. Depois daqui estou nas mãos de Deus.

-E como tem meios para viajar?

-Eu trabalho de lugar em lugar. Sabe, em navios de carga. Mas eu ganhei minha passagem para o Titanic em um jogo de poker. Em uma mão de muita sorte.

-Toda vida é um jogo de sorte!-Diz um dos homens.

-Um verdadeiro homem faz sua própria sorte. Não é, senhor Jackson?-Barry diz olhando para Michael. Ele assente positivamente.

-E acha esse tipo de existência sem raízes atraente?-Mamãe pergunta, deixando Molly extremamente irritada.

-Sim senhora, eu acho. Afinal, tenho tudo que preciso comigo. Tenho ar nos meus pulmões, algumas folhas de papel em branco...gosto de acordar no dia seguinte sem saber o que vai acontecer...-Ele mordisca um pão antes de continuar.-Quem eu irei conhecer...onde vou parar.

Eu observo tudo apreciando seu estilo de vida, Mike girava o mundo mesmo tendo pouco. Como eu admirava o espírito livre dele!

-Outra noite eu estava dormindo embaixo da ponte, e agora estou aqui no melhor navio do mundo, tomando champanhe com tanta gente boa! Aceito mais um pouco.-Mike ergue a taça para o garçom.-Acho que a vida é um dom e não pretendo desperdiçá-la, nunca se sabe o que vai acontecer em seguida, a gente aprende a aceitar a vida como ela é.-Barry estava entediado, com um cigarro na boca, parecia procurar um isqueiro.-Ah, pegue Barry.-Joga um isqueiro na direção dele.-Fazer cada dia valer a pena.

-Falou bem, Michael.-Molly elogia o discurso.

-Concordo.

-Fazer valer a pena.-Levanto a taça de champanhe, olhando para Mike.

-Fazer valer a pena!-Todos repetiram e brindaram, todos, menos minha mãe e Barry.

Titanic | Michael JacksonOnde histórias criam vida. Descubra agora